É PERIGOSO SER AUTÊNTICO?
Recebo questionamentos do tipo: “você fala tanto em autenticidade, mas a verdade é que a sociedade não está preparada para nos aceitar como somos de verdade. Se eu não usar algum tipo de máscara, serei colocado fora do jogo em pouco tempo”.
Fico feliz quando me oferecem a oportunidade de explorar melhor este tema, essencialmente complexo e tentarei abordá-lo da forma mais resumida e objetiva possível.
Nosso processo evolutivo acontece individual e coletivamente - é não linear e dialético: o coletivo afeta o indivíduo e vice-versa, num processo contínuo, de cuja síntese se espera o crescimento de ambos.
O cultivo da autenticidade, em certa medida, ainda está em dissonância com os valores e convenções sociais predominantes, que exaltam as aparências, os títulos, as posses, as conquistas externas, mas, a cada dia avançam os estudos que comprovam a grande importância do cultivo do autoconhecimento e da autenticidade para o crescimento dos níveis de bem-estar subjetivo, ou, em termos mais populares, para a felicidade das pessoas.
A dissonância entre o que somos e o que fazemos é um dos maiores motivos para o sentimento de vazio, o desinteresse, o desengajamento que se verifica no mundo corporativo e em nossas vidas pessoais.
Se vivemos de forma inautêntica, ou seja, de forma incoerente com o que somos e o que de fato valorizamos, tentando ser o que não somos, deixando de colocar nossas forças autênticas em movimento e agredindo nossos valores essenciais, construiremos relacionamentos igualmente inautênticos que, obviamente, serão insatisfatórios e conflituosos.
O mesmo serve para as nossas carreiras? Sim! Mas, é preciso refletir com sabedoria para não tropeçarmos nas ideias. Uma coisa é você cultivar o autoconhecimento, reconhecer suas forças pessoais e procurar colocá-las em ação o máximo possível, desenhando um caminho na direção de encontrar mais e mais meios de contribuir com suas forças pessoais e chegar à atividade profissional onde todas, ou a maioria delas possam convergir. Outra coisa é você já querer partir do ponto de chegada e não se sujeitar ao processo natural de conquista ou de criação deste espaço, o que pode demandar mais ou menos tempo, e incluir engolir alguns sapos até lá.
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É normal que a gente busque uma certa “adaptação” quando necessário. Se você é muito introvertido, por exemplo, mas está em uma função em que precisa ser mais expansivo e comunicativo, não há nada de mal em “elevar” um pouco seu nível de extroversão. Praticamente, todos nós somos capazes disso. Mas é inegável que você se sentirá mais confortável e com maior potência de agir se puder, na maior parte do tempo, se dedicar a tarefas onde sua introversão se transforme numa força e não em algo a ser administrado.
Ser autêntico não é o mesmo que praticar o “sincericídio”, ou romper com todas as convenções sem critério. É preciso serenidade e equilíbrio nesta jornada.
Máscaras às vezes são úteis no desempenho de nossos papéis sociais. Elas se tornam perigosas quando nos confundimos com elas e começamos a achar que somos nossos papéis sociais ou as próprias máscaras.
Como eu disse antes, a sociedade ainda não está preparada para este nível de relacionamentos e uma certa cautela é necessária ao se conduzir pelo mundo real. Mas, sem nunca perder de vista quem você realmente é nem desistir de encontrar ou criar a sociedade, empresa, emprego, família, empreendimento, relacionamento onde você possa viver plenamente de acordo com suas forças autênticas.
Espero ter respondido! Algo mais?
(publicado originalmente em www.cesartucci.com.br)
Sócia-diretora da plenum HR - Desenvolvimento Humano. Professora-convidada da Fundação Dom Cabral e FAAP.
3 aExcelente, Tucci!!! Obrigada por inspirar a reflexão! É uma jornada, e o caminho é tão ou mais importante do que a chegada! Como somos parte da sociedade, entendo que um dos papéis de cada indivíduo é influenciar as mudanças. Afinal, se sou parte e entendo que podemos evoluir coletivamente, por que não usar os talentos e habilidades individuais para cooperar e influenciar o todo? Só dizer que não está bom só nos faz mais amargos…