Sobre o pavor de ficar em silêncio

Sobre o pavor de ficar em silêncio

Durante muito tempo, eu não suportava a ideia de estar sozinha sem nada para fazer. Ficar com os próprios pensamentos parecia uma perda de tempo. Então preenchia o silêncio com qualquer coisa, de preferência com falas. Ouvia rádio, músicas, podcasts, via vídeos. Também preenchia o silêncio com redes sociais e conversas em diferentes mensageiros online.

Eu dizia para mim mesma que estava maximizando o aproveitamento do dia: já que não estava “fazendo nada” no café, na hora do almoço, no transporte para casa, aproveitava para fazer algo “útil”. A verdade é que eu tinha pavor de me ver sozinha comigo mesma e com meus pensamentos. Porque se a sua vida está toda embaralhada e você precisa mudar uma série de coisas, a última coisa que você quer, num primeiro momento, é olhar para tudo isso.

Hoje eu faço caminhadas diárias de pelo menos 15 minutos e não tenho necessidade alguma de ir ouvindo música ou qualquer outra coisa no caminho. Tomo café da manhã, lanches e almoço sem escutar ou ver nada, sem tocar no celular, apenas conversando com quem está me fazendo companhia ou comigo mesma. Tomo banho e vou para lugares sem ter que ouvir música. Me abstraí da necessidade de ter que ser produtiva a todo o momento e de ter que preencher todo o silêncio que existe.

Sentar ao lado de alguém para fazer uma refeição inteira sem falar nada não é mais insuportável. Fazer uma viagem de carro sem trocar palavras com o motorista e/ou outros passageiros também não é um grande problema. Antes eu chegava a sentir um desconforto físico nessas situações, uma inquietação que começava no estômago e terminava na boca, que se abria para dizer qualquer coisa (pelo amor de Deus!). É claro que é bom conversar com quem está ao seu lado numa viagem ou numa refeição, mas não é bom ter que conversar por achar que o silêncio é desconfortável.

Algo de extraordinário acontece quando você começa a apreciar o silêncio: as pessoas encontram espaço para falar. E compartilham coisas extraordinárias, que você nunca ouviria se fosse você falando o tempo todo.

Mas não se engane, eu ainda estou engatinhando nessa questão. Eu ainda falo muito e, na maioria das vezes, falo mais do que devia. Ainda interrompo as pessoas enquanto elas falam. Chegarei no estágio de apenas fazer perguntas e deixar as pessoas contarem suas histórias e me convidarem a viajar no mundo delas. Às vezes, ainda me distraio quando alguém conta algo que eu não acho tão interessante. Com o tempo, aprenderei a achar tudo interessante e a julgar menos o que ouço também.

Ouvir o outro é uma tarefa que exige esforço para ter atenção e genuíno interesse no que está sendo dito. Ouvir sem julgar e sem oferecer soluções, apenas deixando a pessoa se reelaborar enquanto fala. É uma tarefa árdua, mas necessária e possível a todos nós.

Hoje vejo que não conseguia conviver com o silêncio, precisando preencher cada minuto com alguma atividade ou algum som, porque eu não queria me ouvir. Eu estava tentando dizer algo para mim mesma – estava gritando algo para mim mesma –, mas eu tapava os ouvidos. Tem mensagens de nós para nós mesmos que são difíceis de digerir, que nos colocam em uma caminhada longa em busca de algo que nem sabemos o que é. Mas temos que ter coragem para começar essa caminhada para o desconhecido em um caminho que vai se mostrando enquanto andamos. Deixar as coisas como estão é mais confortável, mas é mais inquietante também.

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