A sociedade patriarcal que continua a nos imputar o constrangimento, a agressão e o medo.
Diante dos últimos acontecimentos, quanto aos atos de violência contra a mulher no transporte público, nos vem o sentimento de maior vulnerabilidade como se o que já existe não fosse suficiente para nos causar o medo de sairmos às ruas.
Antes, o medo era maior quando saímos à noite, ou fossemos obrigadas a passar por algum lugar ermo sem iluminação, etc, agora somos constrangidas e assediadas a qualquer momento, em qualquer lugar...Não que o fato de haver a violência em outras situações já não fosse o bastante para nos sentirmos vulneráveis à ponto de preferirmos encontrar um fera na rua do que um homem que viesse à nosso encontro. Mas agora temos que enfrentar o medo a qualquer momento em qualquer, viver em estado de alerta como se saíssemos para o fronte, porque a impunidade, o despreparo das autoridades gerou essa “permissão” à qualquer cidadão molestar ou assediar uma mulher porque tem a certeza da impunidade.
Sempre fui contra a qualquer ato de violência, mas ultimamente diante dos últimos acontecimentos me faz crer que toda mulher deveria frequentar aulas de defesa pessoal, e essa deveria ser matéria obrigatória nas escolas.
Vivemos numa sociedade que ainda pondera se a vítima não é a culpada, e que o ato obsceno sem agressão física não é considerado crime e sim mera contravenção.
E hoje ao ler um artigo de Eduardo Cuducos, cujo título é Um mundo deprimente esse de Diegos e José Eugenios, fez-me refletir o quanto somos tratadas como uma propriedade do homem, e o quanto nossa sociedade está longe de ter parâmetros e igualdade de tratamento:
http://cuducos.me/2017/08/30/um-mundo-deprimente-gracas-a-diegos-e-jose-eugenios.html
UM MUNDO DEPRIMENTE ESSE DE DIEGOS E JOSÉ EUGENIOS
30/08/2017
Para o juiz não houve o constrangimento, tampouco violência ou grave ameaça, pois a vítima estava sentada em um banco do ônibus cheio. Mesmo transtornado com a decisão desumana de José Eugenio não consegui parar de pensar na agressividade dessas palavras do magistrado.
Ele não só deixou Diego livre. Ele aniquilou a condição humana da mulher agredida. Ao afirmar que não houve violência ele nega àquela mulher a condição de ser uma pessoa, uma cidadã. E ao considerar o ato meramente atentado ao pudor ele considera que aquela mulher, além de não ter direito à humanidade, é um acessório público qualquer, um objeto no mundo.
Se Diego se masturbasse e gozasse no banco da praça, seria atentado ao pudor. Se o fizesse na catraca do ônibus, seria atentado ao pudor. Se o fizesse na lixeira do ponto de ônibus, idem. Mas não: ele o fez em um ser humano — fato que José Eugenio se recusa a ver.
O juiz, agindo assim, exclui da cena do crime a própria mulher agredida. A cena passa a ser tratada apenas como maluco balançando o pênis em público. O fato de ele ter ejaculado em uma mulher é jogado ao acaso. Ao mesmo tempo a possibilidade de ele ter visto na mulher um possível estímulo sexual não é nem concebível nem importante para José Eugenio.
Ela, na cena, passa a ser um objeto qualquer. Tão qualquer que nem objeto sexual ela tem mais o direito de ser. Ela é reduzida a objeto em um mundo onde apenas homens podem ser protagonistas. Um mundo onde agressores como Diego se masturbam e gozam onde querem enquanto juízes como José Eugenio observam o ato machisticamente focado somente no homem. A mulher é segundo plano, acessório. Quando muito, enfeite.
Nesse sentido faz-se urgente a mudança da legislação penal para que ocorra a criminalização dos assédios e atos obscenos praticados em qualquer lugar, contra qualquer pessoa, com ou sem o uso de violência, já que a nossa sociedade não compreende o que é viver civilizadamente é necessário que haja formas de coibir e punir os agressores e enfatizar que a mulher não é uma propriedade.