Somos o caminho, não a chegada.
André e Thais da Portonave em um dos módulos de treinamento; desde o primeiro módulo nos reconhecemos e nos acolhemos entre sorrisos e olhares.

Somos o caminho, não a chegada.

Em diferentes treinamentos, sentimentos mistos acontecem quando encontro pessoas pretas.

Uma alegria quando o olhar se cruza;

Um lamento por não ter tantos olhares com os quais cruzar.

Mas esses encontros de efeitos paradoxais sempre geram reflexões sobre o lugar das pessoas pretas no mundo corporativo.

Com o Rafaela Cruz no Líder do Futuro, da

Primeiramente, vale marcar que esse lugar ainda não existe como espaço pronto; está em construção.

Isto posto, é importante pensar nas pessoas pretas que de alguma forma já estão nesses espaços. É necessário que cada pessoa se perceba como um elemento de transição. 

E isso não como uma ideia de aceitar resignadamente a profundidade ou velocidade dos progressos que estamos vivendo (pois tanto em um como em outro sentido ainda são insuficientes), mas como maneira de construir um caminho sustentável.

Considerando que ser sustentável parte da ideia de que somos por tudo atravessados e não o ponto de chegada de coisa alguma.

Nada começa em mim, nada acaba em mim, tudo que em mim está, por mim passa; sou travessia pra tudo.

Poesia à parte, voltemos.

Não se perceber nesse lugar de transição pode levar a uma experiência em um dos dois polos:

  1. Ou um compromisso consigo mesmo, que desconsidera algo para além do atendimento das próprias necessidades e aspirações; algo que pode se tornar até maléfico quando existe uma instrumentalização conveniente do discurso antirracista. Posição essa firmada por quem assimila o discurso corporativo sobre diversidade sem considerar o pensamento e o discurso que está sendo articulado em outros espaços (acadêmico e cultural, por exemplo).

  1. Ou uma densa e constante frustração por notar que o mundo do trabalho corporativo não responde as inquietações legítimas e que ganham força e contornos vivos na voz de pessoas dos movimentos negros ou acadêmicos e artistas que estão nos auxiliando a repensar a sociedade. Essa posição, em contrapartida, toma as reflexões sobre raça produzidas fora do ambiente corporativo como único referencial para se pensar a questão da diversidade racial.

Ao passo que o primeiro nos afasta do coletivo e nos deixa à margem da comunidade, diluindo assim nossa identidade;  o segundo se propõe a entregar ou conquistar no presente algo que, talvez, seja usufruído pelos nossos filhos ou netos. Até mesmo flerta, em alguns momentos, com uma possibilidade de erradicação do racismo sem a participação ativa de pessoas brancas.

Queira você, ou não, o tabuleiro está dado; podemos inventar novas regras, fazer novos movimentos, aumentar funções de certas peças, mas o tabuleiro segue sendo o mesmo.

Por tabuleiro, considero a lógica que orienta o mundo corporativo e que é, de muitas maneiras, estranha a uma noção de comunidade mais inclusiva e justa.

Diante disso, preciso olhar para mim enquanto pessoa preta e questionar “quais movimentos posso fazer hoje que aqueles que me antecederam não puderam?”

Assim reconheço e celebro os progressos dos que vieram antes de mim.

E perguntando também, “como posso fazer para que aqueles que virão após mim, tenham ainda mais espaço e oportunidades?”. Dessa maneira participo de um legado.

Seja você uma pessoa preta, ou uma pessoa não-preta antirracista; já fez alguma dessas perguntas hoje? Quem são as pessoas negras que vieram antes de você que precisam ser celebradas? O que você deixará para as crianças pretas que entrarão nos espaços que hoje você ocupa?

Ao lado do


Joana Silva

Psicóloga Organizacional e Consultora Sênior em Programas de Desenvolvimento de Lideranças na Crescimentum

1 a

Tiago, fundamental essa reflexão e esse convite. Percebo que o discurso antirracista das organizações e lideranças são estruturados a partir de premissas racistas. A jornada de construção de um futuro diferente é desafiadora e necessária.

Cesar Aarão

Consultor e Trainer com foco em Desenvolvimento Humano Personal e Executive Coach

1 a

Tiago Rodrigues, a minha admiração pela sua forma de pensar e agir é gigantesca. Levarei este texto comigo no coração. E. Obrigado e parabéns pelo texto e pela honra de poder ser seu amigo.

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