Somos o caminho, não a chegada.
Em diferentes treinamentos, sentimentos mistos acontecem quando encontro pessoas pretas.
Uma alegria quando o olhar se cruza;
Um lamento por não ter tantos olhares com os quais cruzar.
Mas esses encontros de efeitos paradoxais sempre geram reflexões sobre o lugar das pessoas pretas no mundo corporativo.
Primeiramente, vale marcar que esse lugar ainda não existe como espaço pronto; está em construção.
Isto posto, é importante pensar nas pessoas pretas que de alguma forma já estão nesses espaços. É necessário que cada pessoa se perceba como um elemento de transição.
E isso não como uma ideia de aceitar resignadamente a profundidade ou velocidade dos progressos que estamos vivendo (pois tanto em um como em outro sentido ainda são insuficientes), mas como maneira de construir um caminho sustentável.
Considerando que ser sustentável parte da ideia de que somos por tudo atravessados e não o ponto de chegada de coisa alguma.
Nada começa em mim, nada acaba em mim, tudo que em mim está, por mim passa; sou travessia pra tudo.
Poesia à parte, voltemos.
Não se perceber nesse lugar de transição pode levar a uma experiência em um dos dois polos:
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Ao passo que o primeiro nos afasta do coletivo e nos deixa à margem da comunidade, diluindo assim nossa identidade; o segundo se propõe a entregar ou conquistar no presente algo que, talvez, seja usufruído pelos nossos filhos ou netos. Até mesmo flerta, em alguns momentos, com uma possibilidade de erradicação do racismo sem a participação ativa de pessoas brancas.
Queira você, ou não, o tabuleiro está dado; podemos inventar novas regras, fazer novos movimentos, aumentar funções de certas peças, mas o tabuleiro segue sendo o mesmo.
Por tabuleiro, considero a lógica que orienta o mundo corporativo e que é, de muitas maneiras, estranha a uma noção de comunidade mais inclusiva e justa.
Diante disso, preciso olhar para mim enquanto pessoa preta e questionar “quais movimentos posso fazer hoje que aqueles que me antecederam não puderam?”.
Assim reconheço e celebro os progressos dos que vieram antes de mim.
E perguntando também, “como posso fazer para que aqueles que virão após mim, tenham ainda mais espaço e oportunidades?”. Dessa maneira participo de um legado.
Seja você uma pessoa preta, ou uma pessoa não-preta antirracista; já fez alguma dessas perguntas hoje? Quem são as pessoas negras que vieram antes de você que precisam ser celebradas? O que você deixará para as crianças pretas que entrarão nos espaços que hoje você ocupa?
Psicóloga Organizacional e Consultora Sênior em Programas de Desenvolvimento de Lideranças na Crescimentum
1 aTiago, fundamental essa reflexão e esse convite. Percebo que o discurso antirracista das organizações e lideranças são estruturados a partir de premissas racistas. A jornada de construção de um futuro diferente é desafiadora e necessária.
Consultor e Trainer com foco em Desenvolvimento Humano Personal e Executive Coach
1 aTiago Rodrigues, a minha admiração pela sua forma de pensar e agir é gigantesca. Levarei este texto comigo no coração. E. Obrigado e parabéns pelo texto e pela honra de poder ser seu amigo.