Storytelling, uma novidade primitiva
Eu acredito que você já tenha ouvido falar no termo Storytelling, que a grosso modo significa a habilidade contar uma história de forma cativante. Na minha visão, vivemos num mundo globalizado imerso num oceano de informações e com isso cativar as pessoas requer a habilidade de contar uma boa história, seja sobre sua empresa, produto ou suas experiências de vida pessoal/profissional. Ao trabalhar com recrutamento e seleção, eu gostava de contar aos candidatos como a empresa tinha ganhado forma, suas conquistas e seus desafios para o futuro de uma forma que eles participassem através de perguntas pontuais na minha narrativa.
Storytelling pode ser um termo novo, mas não é uma habilidade da era contemporânea. Recentemente estava jogando um jogo com o meu filho chamado Never Alone (Kisima Ingitchuna), que fala sobre um povo chamado de Iñupiaq (não faço ideia de como pronunciar) Esse povo habita a região ocidental do Alasca há muito tempo, desde antes da pré-história. A medida que você avança nas fases do jogo, você desbloqueia pequenos vídeos que compilados seria como um documentário. Numa parte desse documentário, um dos participantes faz menção a rotina desse povo que lutavam todos os dias para garantir a sobrevivência e nos poucos momentos de folga queriam escutar uma boa história ao redor de uma fogueira, era o entretenimento deles, a televisão da pré-história. Alguém, ao redor de uma fogueira, contava a história de forma vívida, com intensidade, fazendo uso de sombras projetadas com as mãos e quem sabe até desenhos em paredes de cavernas, tudo isso para se divertir. O que chamamos hoje de storytelling é parte fundamental da composição da nossa sociedade, pois não há um povo sem uma boa história, os gregos que o digam.
Hoje, no leque de habilidades de um bom profissional, storytelling tem seu lugar garantido. Vai fazer uma apresentação de sua empresa, uma proposta de negócio, uma nova linha de produtos, inspirar e motivar pessoas? Pra cada um desses pontos cabe um storytelling. Não acredito que seja necessário colocar esquemas, roteiros ou diagramas para contar histórias. Se você pesquisar você vai encontrar bastante coisa, mas deixo para você alguns exemplos de mídias que usam essa ferramenta com bastante maestria.
A séria How I met your mother (como eu conheci sua mãe), trabalha com uma narrativa muito boa e fluída assim como Everybody hate Chris (todo mundo odeia o Cris), temos também um filme excelente que é Cidade de Deus, e o que dizer do Renato Russo na música Faroeste Caboclo, um exemplo de criatividade musical. O que é importante destacar nos exemplos que citei, é o tempo que as histórias são contadas, nas séries, cada episódios tem uma média de 20 a 25 minutos e na música do Renato, a história é contada em mais ou menos 8 minutos. Ótimas histórias contadas num curto período de tempo de forma divertida e cativante, e antes que eu me esqueça, um exemplo que não podia ficar de fora são as palestras do TED Talks.
Em uma das vezes que meu filho ficou internado no hospital Fernandes Figueira, tive a oportunidade de testemunhar o trabalho de um grupo que apareceu no quarto para contar histórias para as crianças. O Fernandes Figueira é um hospital dedicado a cuidar de crianças com necessidade especiais. Enquanto aguardava meu filho fazer um exame eu vi um deles chegando e se sentando próximo a uma criança e lhe perguntando se ela gostaria de ouvir uma história, ela disse que sim e então ele começou a contar de forma vibrante e no decorrer dela a criança que aparentava ter síndrome de crouzon esboçou um pequeno sorriso, eu acredito que foi algo recompensador para o contador de histórias, que sem sombra de julgamento nenhum, trouxe um pouco de alegria a um dos pacientes e marcando minha vida também. Já faz muitos anos que não vou a esse hospital, não sei se esse grupo de contadores de histórias existe ainda, mas fica minha admiração e menção à eles.
Aparentemente, sei que meu texto pode ir de encontro ao momento que vivemos, todavia acredito que em tempos de quarentena ficar em casa com a família seja uma boa oportunidade para contar ou ouvir uma boa história.