"A Substância" e o desafio da validação externa: Uma análise sobre padrões sociais e envelhecimento feminino

Quem já assistiu ao filme A Substância? 👀 Estrelado por Demi Moore e Margareth Qualley, o longa foi premiado com o Melhor Roteiro de 2024 no Festival de Cannes e aplaudido por 11 minutos. E não é para menos – o filme é espetacular em todos os sentidos e sua mensagem tem sido amplamente discutida nas redes sociais, como no #TikTok e #Instagram.

O filme, do gênero body horror, conta a história de Elisabeth Sparkle, uma mulher que dedicou toda sua vida à indústria televisiva. Ela nunca casou nem teve filhos, focando exclusivamente em construir seu próprio império. E ela conseguiu: apresentou seu próprio programa de TV por anos, ganhou uma estrela na Calçada da Fama e participou de diversos quadros famosos. No entanto, tudo muda quando ela completa 50 anos e é dispensada pelo diretor do programa por "não conseguir mais entregar o que o show precisa" – ou seja, não ser mais uma mulher jovem, sexy e atraente capaz de atrair audiência.

Perdida após ser descartada, Elisabeth recebe uma proposta tentadora: usar uma substância que a permitirá viver uma versão melhor de si mesma – mais jovem, bonita e, portanto, mais encantadora.

A grande reflexão que o filme traz é justamente essa: até onde estamos dispostas a ir para sermos amadas? E por que a validação externa é tão importante – especialmente para as mulheres?

Em uma sociedade onde as mulheres são constantemente pressionadas a seguir padrões estéticos, pouco se discute sobre a imposição da indústria da beleza contra os sinais naturais do envelhecimento. Quem nunca, ao completar 25 anos, ouviu a "dica amiga": "já está na hora de fazer o botox preventivo, hein!"?

A diretora Coralie Fargeat acerta ao escolher Demi Moore como uma das protagonistas, já que a atriz cresceu sob os holofotes e, hoje, não é mais escolhida para os mesmos papéis que desempenhou ao longo de sua carreira. Outro exemplo claro é a atriz Anne Hathaway, que recentemente protagonizou o filme Uma Ideia de Você, no #PrimeVideo. Hathaway declarou sentir falta de atuar em romances ou comédias românticas, já que, após atingir "certa idade" (a atriz tem apenas 41 anos), a indústria cinematográfica deixou de oferecê-la esses tipos de papéis.

No artigo "A luta contra o envelhecimento: uma análise na perspectiva bioética" (FIGUEIRA; CASELLAS; FIGUEIRA; PERINI, 2021), discute-se o fenômeno do combate ao envelhecimento sob a ótica da bioética. Na conclusão, observa-se que a busca por retardar o envelhecimento tem como objetivo manter os idosos inseridos no meio social.

A partir disso, percebemos que a sociedade valoriza e aceita pessoas jovens de maneira muito mais receptiva e tolerante. Não é à toa que Elisabeth, a protagonista de A Substância, opta por usar a "droga". A partir do momento em que se torna a versão melhorada de si mesma, ela conquista tudo o que foi negado à sua versão de 50 anos: afeto, oportunidades e atenção.

“A Substância" levanta questões profundas sobre a pressão estética e a busca incessante por aceitação em uma sociedade que valoriza a juventude acima de tudo. A história de Elisabeth nos convida a refletir sobre os padrões impostos às mulheres, especialmente com relação ao envelhecimento, e até que ponto estamos dispostas a sacrificar nossa autenticidade para sermos aceitas. O filme é um retrato poderoso da realidade feminina no mundo moderno, onde a busca por validação externa muitas vezes se sobrepõe ao autocuidado e à aceitação pessoal. Em última análise, "A Substância" nos desafia a questionar: será que a melhor versão de nós mesmas é aquela que os outros esperam ver, ou a que nós mesmas escolhemos ser?