A sucessão do CEO

A sucessão do CEO

Recentemente, conversei com o presidente de uma empresa familiar que estava no processo de avaliação da sua própria sucessão. Após décadas à frente do negócio, ele sabia que era hora de passar o bastão, mas queria garantir que a transição fosse cuidadosa - e, principalmente, que preservasse o legado construído ao longo dos anos. A reflexão, no entanto, não era simples: "Devo escolher um sucessor interno, que conheça bem a nossa cultura e o mercado em que atuamos, ou alguém de fora, com uma visão nova e potencial para inovar?"

Esse dilema reflete a realidade enfrentada por muitos líderes. No caso dessa empresa, o desafio era ainda mais delicado. Sendo uma empresa de controle familiar, as decisões envolviam não apenas questões empresariais, mas também dinâmicas emocionais e relacionamentos de longa data. O conselho de administração estava dividido: alguns apoiavam a ideia de um sucessor que já fazia parte da empresa, enquanto outros viam valor em trazer alguém de fora para impulsionar a inovação e garantir a continuidade adaptando-se ao mercado.

Ao final da nossa conversa, ficou evidente que a complexidade não estava apenas em encontrar um sucessor "adequado", mas também em entender como essa nova liderança se alinharia ao legado e à visão futura do negócio. Afinal, quem deveria assumir o cargo de maior autoridade dentro da companhia?




Independentemente de quem for escolhido para suceder o CEO, uma coisa é certa: o custo de uma transição mal planejada pode ser catastrófico. Um estudo da PwC demonstra que no primeiro ano após uma troca de CEO mal-sucedida, as empresas perdem em média 3,5% de seu valor de mercado - o que pode representar bilhões de dólares em grandes corporações. Entretanto, estudos indicam que o custo financeiro é apenas uma parte da equação. A cultura interna, a confiança dos investidores e a imagem da empresa no mercado podem sofrer abalos profundos. Sendo assim, pensar na transição de um CEO é mais do que apenas escolher o próximo líder — é decidir o futuro da organização


Leia mais em: O custo invisível da demissão de um CEO


Outsider ou insider?

Promover alguém que já faz parte da organização pode parecer a escolha mais segura. Um estudo da PwC revela que essa é a decisão mais comum, ocorrendo em cerca de 80% das sucessões de CEOs em empresas de capital aberto. Essa escolha traz vantagens significativas, como o conhecimento profundo da cultura, dos processos internos e do histórico da empresa. Além disso, o insider já tem a confiança da equipe e dos stakeholders, o que pode reduzir as chances de rupturas ou conflitos. No entanto, apesar dos pontos positivos, um sucessor interno pode enfrentar dificuldades para inovar ou implementar mudanças estratégicas significativas, especialmente se estiver fortemente envolvido nas práticas atuais. 

Por outro lado, escolher um CEO externo pode oferecer um novo olhar sobre a empresa, trazendo ideias inovadoras e estratégias que podem revitalizar a organização. De acordo com um estudo da Harvard Business Review, cerca de 30% dos outsiders conseguem melhorar significativamente o desempenho da empresa nos primeiros três anos. Eles são frequentemente escolhidos em momentos de crise ou quando a empresa precisa de uma reestruturação. No entanto, a adaptação cultural pode ser um desafio. Dados revelam que CEOs externos também têm um risco maior de fracasso nos primeiros 18 meses, em grande parte porque precisam conquistar a confiança da equipe e entender a complexidade das operações internas, o que pode causar tensões e atrasar os resultados esperados.

Ambas as escolhas têm seu valor. No final, a verdadeira força está em reconhecer que cada caminho oferece oportunidades únicas.  O que realmente importa é alinhar a escolha às necessidades e aos objetivos da organização naquele momento.


A transição da liderança

Ainda mais importante do que escolher quem vai assumir o cargo de CEO, é desenvolver um plano de transição bem estruturado. Até porque, essa transição não deve ser vista apenas como a seleção de um nome, mas como um processo que envolve a preparação de toda a empresa para garantir uma sucessão suave e funcional. Isso inclui a implementação de estratégias que permitam uma adaptação gradual, garantindo que o novo CEO tenha o apoio necessário para assumir o controle sem comprometer a continuidade dos negócios.

Um plano eficaz de transição deve:

  1. Estabelecer objetivos de curto e longo prazo para o novo CEO, definindo como o sucesso será mensurado.
  2. Oferecer ao sucessor, seja interno ou externo, um período de integração para que ele entenda tanto os desafios específicos da organização quanto o ambiente de mercado.
  3. Manter colaboradores, investidores e parceiros informados sobre o progresso da transição — a fim de preservar a confiança e evitar incertezas.
  4. Preparar o novo CEO e a equipe para inovar sem perder as raízes da organização.




No fim das contas, a verdadeira sabedoria na sucessão de um CEO não está em escolher o "mais apto", mas em orquestrar uma transição que fortalece tanto o passado quanto o futuro. É sobre garantir que o novo líder, seja ele de dentro ou de fora, tenha as ferramentas certas para não apenas manter o que foi construído, mas também para levar a empresa a patamares que, talvez, nem o próprio fundador conseguiu alcançar.

A sucessão do CEO não é o fim de uma era — é apenas o início de um novo capítulo em meio a uma história em continuidade

Para você, o que é mais importante na sucessão de um CEO? Compartilhe suas experiências e percepções nos comentários!

Rogério Alonso Messias

CEO | COO | VP | Diretor de Serviços Financeiros | Diretor de Crédito e Risco | Membro no Open Mind Brazil | MBA em Gestão e Varejo

1 m

Excelente reflexão Guilherme Abdala. A escolha precisa ser com muita calma, pois o ponto principal é a aderência do profissional aos valores e o modelo de gestão da companhia. Na minha trajetória em investidas de fundos de private equity, tive a oportunidade de conduzir processos de M&A e integrações de empresas familiares, de regiões e culturas bem distintas. Em todos os casos, sempre atuei com muita admiração e respeito por tudo que foi construído. No meu caso tive o benefício de poder comparar as melhores práticas entre as empresas e criar modelos mais eficientes, isso teve um valor incalculável. Fazendo um paralelo, seguir com o talento interno para a posição de novo CEO garante a continuidade, mas pode inibir essa alavancagem vinda da troca de experiências. Um caminho que tenho visto de forma mais frequente e bastante eficaz, é optar pelo talento interno e trazer o auxílio de algum profissional externo, com mais anos de janela em outras corporações e até mesmo de indústrias diferentes, para auxiliar no processo de transição, por tempo determinado. Acredito que esse processo, feito de forma clara e transparente, fortalece ainda mais a cultura da empresa e traz a energia necessária para seguir evoluindo.

Juliano Cesar Sa

Diretor Industrial | S&OP | Supply Chain | Suprimentos | Manufatura | Logística | Master Black Belt | Melhoria Continua | Lean | Engenharia.

1 m

Excelente artigo Guilherme !!! Acredito que não tem uma resposta certa , vai depender muito de como é a cultura organizacional desta empresa e entender isto é fundamental para um sucesso em uma transição.O que vejo que algumas vezes se ignora isto e mesmo com um super gestor a coisa não funciona, por isso ter um change managment bem conduzido envolvendo todos os stakeholders é um bom começo.

CLOVIS LUMERTZ

CEO & FOUNDER da ALLCON | Empresário | Consultor | Conselheiro de Administração | Investidor Start Ups

1 m

Excelente!!!!

Nilo Maia

Sr. Operations Executive / Consultant

1 m

Ótimos pontos, Guilherme! E as empresas familiares com frequência trazem algo muito importante: a capacidade de enxergar além do trimestre ou do ano. O CEO "outsider" tem que receber a direção e apoio do Conselho para que isto não se perca. É muito tentador entregar resultados rápidos sem pensar nos impactos em 5 anos por exemplo. Por outro lado, o Conselho também tem que se lembrar que isto é um diferencial, algo que provavelmente ajudou a empresa a ter sucesso. E não esquecer disto ao ter agora alguém que pode estar pronto a arriscar tudo. Muitas profissionalizações voltaram atrás por causa disso.

Luiz Carlos Pinter

Diretor Comercial | Novos Negócios | Inovação | Marketing | Expansão | Planejamento Estratégico | Conselheiro Consultivo

1 m

Sempre importante Guilherme Abdala, lembrando que transição bem-sucedida combina planejamento estratégico, comunicação eficaz e desenvolvimento de lideranças.

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