Tendências: o que entra e o que sai

Se é verdade que toda tendência aponta para novas oportunidades e desafios, pedi há duas semanas para meus alunos da Pós da ESPM Escola Superior de Propaganda e Marketing que visitassem o famoso relatório anual de tendências da Wunderman Thompson e, como bons curadores, pinçassem 3 tendências que acreditam serão potencializadas no cenário de pandemia e 3 tendências que acreditam serão impactadas negativamente e, portanto, terão que ser reavaliadas ou desconstruídas para fazer sentido novamente.

Menos do que fazer as vezes de um Ombudsman de um relatório que teve a o azar de ter sido concebido numa realidade totalmente diferente da atual, o exercício ajuda a reforçar como o trabalho de um bom profissional de tendências exige suor e dedicação e, mesmo com todo esse esforço, nada garante que aquilo que você julgou ser uma tendência consolidada, não desmorone algum tempo depois. Essa semana o pessoal da WT republicou um relatório com 25 tendências repensadas, donde podemos dizer que a turma foi muito vanguarda!

Aproveitando o “Wisdom of crowds” dos alunos, vejam o que saiu de mais interessante como tendências que serão potencializadas e aquelas que serão impactadas negativamente, através da composição dessas nuvens de termos com os títulos das tendências:

Tendências potencializadas

- Digital provando que o grande CEO da transformação Digital realmente parece ser o Corona Vìrus;

- Protective, muito puxado pela palavra Tech, reforçando o papel da tecnologia para diminuir os efeitos da crise, mas deixando claro que se existe uma necessidade básica humana imortal, essa é a necessidade de nos sentirmos protegidos. Com o impacto da crise nas relações sociais, a tecnologia pode e deve ser um aliado importante;

- Haptic para quem não conhece é uma expressão que remete ao tato e está por trás da chamada ciência do toque, dedicada a estudar e a simular a pressão, a textura, a vibração e outras sensações biológicas relacionadas com o toque, conforme o Wikipedia. Mais uma demonstração de como a tecnologia pode desempenhar novas funcões que serão totalmente descontruídas no pós-crise;

- Spas e Therapy, dois termos puxados pelas tendências “Digital Spa” e “Financial Therapy” e que apostam nos aplicativos e plataformas digitais para ajudar as pessoas na busca do bem estar geral e lidar com questões emocionais ligadas às preocupações com dinheiro, ambas agravadas na crise;

- E com algum destaque, o termo Travel expresso na tendência “Slow Travel” que, apesar de não conferir à tecnologia (AR, VR) nenhum papel nisso, diz que as pessoas devem escolher menos destinos em uma determinada viagem e gastar mais tempo nele versus o que eles chamam de “rushing to destinations”;

Tendências impactadas negativamente

- New apareceu em destaque por estar vinculado a tendências como “New Beauty Playgrounds”, “The New-age Explorer” e “The New Neighborhood” que remetem respectivamente à experiências físicas em pontos de venda, viagens e novas formas de organização sociais;

- Como previsto, Airports que junto com Elevated formam a tendência “Elevated Airports”, colocando os aeroportos como parte da experiência de viagem e verdadeiros centros de experimentação, num momento em que vemos aeroportos praticamente abandonados;

- Stays formando a tendência “Social Stay” que aborda o papel do viajante solitário como cada vez mais comum no mercado de turismo, certamente o setor mais atingido pela pandemia. Assim como os termos Festivals e Entertainment quase igualmente devastados pela crise;

- Por fim, o termo Future amplamente prejudicado por abrir o relatório (é a tendência #1!) e parear com Optimistic, tornando a expressão quase um oxímoro. Ou alguém realmente está otimista com o futuro?