Início do ano é época de planejar e traçar metas para o futuro. No campo da saúde, não é diferente. Para isso, precisamos olhar o fechamento do último ano que nos traz a sustentabilidade como direcionamento para esse ano.
A saúde suplementar precisa superar adversidades de 2023 que ficaram evidenciadas por prejuízos operacionais alarmantes de cerca de R$ 4,3 bilhão, segundo ANS. Agravando esse cenário, custos médicos têm experimentado um crescimento que supera os índices de inflação e o acesso à saúde no Brasil revela disparidades preocupantes.
Esse ano carrega o desafio de criar estratégias mais proativas em busca de uma mudança paradigmática do modelo de saúde voltado para a prevenção e promoção ao invés do clássico modelo centrado no tratamento da doença.
Diante desse cenário desafiador, destaco algumas tendências que considero serem essenciais para otimizarmos os processos dentro de toda a cadeia de saúde.
- Avanço das tecnologiasEspera-se uma adoção mais ampla da telemedicina e de soluções digitais de saúde, como aplicativos de monitoramento e dispositivos vestíveis. Ao utilizar dispositivos conectados para monitorar pacientes remotamente e fornecer canais de comunicação para profissionais de saúde, mais elementos de atendimento podem ser prestados remotamente. Chamamos isso de “telemedicina 2.0”.A inteligência artificial será fundamental em muitas das tendências tornando mais fácil a implementação e interpretação de resultados, além da geração de recomendações personalizadas. Ele criará dados sintéticos que podem ser usados para treinar algoritmos de IA médica sem comprometer a privacidade do paciente, podendo criar também chatbots e assistentes virtuais para ajudar em todas as fases da jornada do paciente. Por exemplo: respondendo as perguntas sobre seus cuidados e conectando-os com as informações de que precisam para tomar decisões mais informadas sobre seus próprios cuidados. Marcar e agendar consultas. Podem até oferecer companhia para pacientes que moram sozinhos ou em áreas remotas e também podem ajudar os pacientes a permanecerem em conformidade, lembrando-os de tomar medicamentos ou fazer exercícios.
- Open Health e a segurança de informaçãoO conceito de “open health” nunca esteve tão forte nas discussões, baseado no princípio de promover a abertura de dados e informações de saúde em um ecossistema colaborativo e integrado entre diversos agentes envolvidos no cuidado do paciente. A aplicação do princípio é fundamental para reduzir ineficiências deste ecossistema. O assunto envolve ainda uma temática atual, ainda mais relevante com o advento da Lei Geral de Proteção dos Dados (LGPD).Para a segurança da informação, a blockchain deverá ser considerada um verdadeiro divisor de águas para a indústria de saúde, visto que ela pode proteger desde dados de alta confidencialidade de laboratórios que estejam desenvolvendo novos medicamentos até dados de pacientes que passam por clínicas e hospitais em todo o mundo.
- Cuidado integral ao paciente Tudo se resume ao velho ditado de que é melhor prevenir do que remediar, porém nosso modelo atual ainda é centrado no tratamento e na doença, em vez de cuidar da prevenção. A falta de coordenação entre os níveis de atenção à saúde (primária, secundária e terciária) leva à duplicação de esforços e consequentemente a gastos evitáveis. Assim, recursos bem alocados resultariam numa visão do todo com único objetivo de promover um cuidado integral e enfatizar a prevenção e promoção da saúde, além da melhora na coordenação de serviços para garantir tratamento abrangente e de alta qualidade. A atenção primária à saúde (APS) é o primeiro nível de atendimento do sistema e é fundamental para garantir o acesso à saúde e a equidade no cuidado, estando em crescente expansão e fortalecimento.
- Medicina personalizadaA compreensão de que cada pessoa é única e possui sua própria história, assim como características, desejos, dores e anseios pessoais, ganha cada vez mais força. Assim sendo, o atendimento personalizado e direcionado especialmente para cada paciente, entendendo de forma aprofundada quem ele é, também é uma tendência em 2024 que deve ganhar força.
- Saúde mentalA conscientização sobre a importância dos cuidados com a saúde mental tem aumentado, principalmente após a pandemia da COVID-19. À medida que os prestadores reconhecem cada vez mais as ligações intrínsecas entre o bem-estar físico e mental, há necessidade de rastreios mais aprofundados de como os problemas de saúde mental podem afetar e estão afetando o tratamento e a recuperação de doenças físicas, ganhando foco, portanto, os programas de equilíbrio de saúde, reunindo o físico, mental e o espiritual
- Novos modelos de remuneraçãoEm um cenário de transformações, promover e melhorar o acesso à saúde das pessoas, controlando custos e agregando qualidade na entrega do serviço, tornam-se desafios. A implementação de novos modelos de remuneração gera demandas significativas na gestão de saúde, uma vez que a remuneração baseada em valor exige um alinhamento de incentivos na cadeia, envolvendo pagadores, prestadores, indústria e pacientes.
A jornada é extremamente desafiadora, mas proporcionar um sistema de saúde mais acessível, eficaz e centrado no paciente tem que ser meta para todos da cadeia e esse compromisso precisa ser renovado anualmente.