Ter, Ser e Fazer: Eu sou a Questão!

Por Renata Monteiro Pereira , facilitadora de processos de desenvolvimento humano e organizacional, membro fundador da ComViver, membro da Rede Economia Viva e da Escola do Altruísmo, Assessora da Direção Geral e Gestora da Sociedade Antroposófica no Brasil e integrante do Movimento por uma Cultura de Doação.

Tenho buscado encontrar a essência e pontas do embolado novelo que são os tempos complexos, líquidos, caóticos, polarizados e desafiadores em que vivemos.

No tema da doação e da nossa relação com recursos, mapeei alguns pontos que considero essenciais, e que compartilho a seguir:

A doação é o elemento primordial da vida humana e de tudo que se cria.

A vida humana no planeta terra não existe sem doação. A doação é uma parte essencial e primeira da vida e da criação. Trago um simples exemplo que se aplica a cada um de nós: no ventre de nossas mães recebemos tudo que precisávamos para nos desenvolver, como calor, nutrientes e proteção. Todo começo de vida tem início com a doação.

Assim como a vida humana, todo ato de criação, de empreender algo, seja de que natureza for, requer também, para começar, doação por parte de quem tem o impulso ou a iniciativa de trazer este empreendimento ou esta ação para o mundo. Sem esta doação nenhum empreendimento é passível de ter vida e começar.

A doação, em sua essência é um dos atos mais humanos e mais divinos que podemos realizar. A doação consciente e livre dos nossos dons, talentos, capacidades e recursos nos coloca no centro das nossas tarefas únicas e mais essenciais da vida.

Chegamos ao mundo com dons e talentos e ao longo da vida ganhamos capacidades, conhecimento e vamos adquirindo recursos de diferentes naturezas, como, por exemplo, dinheiro, bens, imóveis, sabedoria e redes de relações.

Geramos o bem e realizamos a nossa tarefa mais essencial quando, com coragem e confiança, disponibilizamos nossos dons, talentos, capacidades e recursos a serviço das necessidades que se apresentam para nós; e, ao fazer isso de forma consciente, livre e humana, promovemos o bom, o belo e o verdadeiro para todos os envolvidos. A gratidão, a coragem e a confiança são ingredientes fundamentais dessa equação e este é um processo exigente e que nos torna, com a prática, cada vez mais humanos e a nossa vida mais rica e abundante.

Medo, competição, avareza, ressentimento, inveja, vaidade, orgulho, poder, imposição, pressão social, sentimento de superioridade, soberba, preguiça; achar que o outro agora te deve; desprezo, desconfiança e indiferença ao dar esmolas, independente do valor; doar para livrar-se da situação e da culpa; achar que você não tem suficiente, que mais de tudo é melhor ou que você não tem escolha. Todas essas são forças desumanizadoras e que não fazem parte da essência da doação.

A prática da doação nos leva para este lugar do humano e exige de nós estarmos conscientes, livres e bem acordados para o que a vida nos pede. A sua doação verdadeira ajuda o outro, mas antes de tudo ela salva você e a sua humanidade.

Os passos são simples, mas não necessariamente fáceis: ter consciência, ser coerente e fazer o que precisa ser feito. Em outras versões:

Ter conhecimento, ser consistente e fazer o que você sabe que está ao seu alcance.

Ter dinheiro e recursos, ser altruísta e fazer o que você sabe que pode e deve fazer.

Ter dons, talentos, capacidades e recursos, ser humano e fazer uso deles atendendo às necessidades que se apresentam para você.

Um forte elemento da Cultura de Doação sou eu e você quando somos exemplo e agimos como seres humanos, fazendo o que sabemos que precisa ser feito.

O que nos impede? Só nós mesmos.

Finalizo com Guimarães Rosa:

“ O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.

E com Goethe: 

"Cheguei à terrível conclusão de que sou o elemento decisivo.

É a minha abordagem que cria o clima.

É o meu humor diário que faz o tempo.

Possuo o tremendo poder de tornar a vida miserável ou prazerosa.

Posso ser uma ferramenta de tortura ou um instrumento de inspiração; posso humilhar ou ter humor, machucar ou curar; em todas as situações, é a minha resposta que decide se uma crise escala ou des-escala, se uma pessoa é humanizada ou des-humanizada”.

Acorde! Doar e doar-se só depende de você, todos os dias, a cada encontro, em todos os momentos.

Cabeça, coração e mãos à obra. Coragem!