Todo Headhunter é um Jedi (leia-se Jedai)
É. Todo selecionador é um herói, por princípio, mas todo Headhunter é um guerreiro. Por princípio.
Assim, Inês? Do nada? Sim e não. Não é assim do nada. É que aqui estou eu outra vez, encerrando um ciclo da minha vida e iniciando um novo ciclo, com todas as suas promessas de oportunidades e aí eu pensei: “Tudo na vida é assim, né? Cíclico.”
Por exemplo, por conta da minha palestra no 3º Congresso de RH do ABC, eu voltei ao meu “ninho”: o GRUBASE que em 1983, quando eu comecei minha carreira em RH, era exclusivamente composto de profissionais de Recrutamento & Seleção de Pessoal. Grupo Bandeirante de Seleção! Como éramos puros, meu Deus! Bandeirante. Veja você… Essa é uma palavra que até caiu em desuso. Se a palavra tá assim, calcula o significado… Desbravadores! Aventureiros!
Hoje em dia, existem pouquíssimos dessa “espécie”. Praticamente todo mundo nas empresas atua tanto em Seleção quanto em Treinamento ou, até mesmo acumulam funções em outros subsistemas. Por favor, não estou menosprezando não, tá? Apenas constatando que a “arte” de “garimpar” talentos está mais diluída hoje em dia do que quando eu comecei.
Ah, é. Esqueci de dizer. Quase todo mundo que me conhece, sabe que comecei minha carreira como consultora externa de gestão em 1993. Foi quando mergulhei de cabeça em Treinamento e Desenvolvimento. Mas, foi em 83 que comecei como profissional de RH e eu atuava 100% do tempo em R&S. Era o que havia pra fazer na época.
Eram tempos carrascos aqueles. No início dos anos 80, a gente tinha levado um tombaço depois do “milagre nacional” que durou por toda a década de 70. Fomos arrancados sem dó da inocente ilusão de uma fartura interminável. Tem gente, aliás, que ainda pensa que o Brasil é uma cornucópia e que vai ter sempre de tudo pra todos, então desperdiça. Me dá um aperto no coração isso que nem te conto.
Mas, o fato é que na época, sobrava de tudo; inclusive empregos e, aí, veio a recessão de 81. Uma crise lascada de desemprego por todo o país. E eu, no meio dessa maluquice toda, começando minha carreira. Eu e meus míseros 21 anos de idade, fomos fazer estágio na Brasilit S/A – era como ela se chamava na época. Recém admitida na Faculdade de Psicologia (comecei em 82), eu tava super feliz e orgulhosa do meu primeiro emprego! A gente considerava estágio como emprego naquele tempo, viu? Só pra você saber. Estagiário atuava mesmo na área dele; aprendia mesmo o que viria a fazer como profissional.
Meus inocentes 21 anos e eu nem desconfiávamos do que nos esperava.
Eram filas enormes de humanos e humanas nas portas das fábricas, dormindo na calçada pra terem a chance de entregarem suas carteiras profissionais à primeira hora do dia porque sabiam que não seriam mais atendidos depois das 10h, simplesmente porque não haveria tempo pra passar pela Seleção com todo seu longo ritual de preenchimento de ficha, entrevistas e testes psicológicos. Então, dava 10 horas, a gente pedia pro pessoal da portaria dispensar todo mundo que não ia conseguir atenter.
Que pena que a fome não esperava até o dia seguinte. Fome é coisinha estúpida e burra. Ela não compreende: “Hoje não dá mais tempo de te atender, moço, sinto muito. Tenta de novo amanhã. Se ainda tiver a vaga…”.
Sim senhor, tempos carrascos e a gente não tava nem um tiquinho preparado pra eles. Eu ia pro banheiro chorar a cada pessoa pra qual eu tinha que dizer “Sinto muito moço, não vai ser desta vez”.
E também não vai ser desta vez que eu vou te contar essa parte específica da minha vida. Meu propósito aqui é outro. Isso foi só um tributo, mas que já dá uma idéia de pra onde eu quero ir e onde quero chegar com esse negócio de Selecionador ser herói e headhunter ser guerreiro.
Primeiro preciso te contar que essa denominação é do Joseph Campbell. "Guguemos" o camarada. Ele foi um estudioso de mitologia e religião comparativa. Um, não! Perdão pela heresia! “O” maior mitólogo que já apareceu!
Campbell explicava que todo mundo nasce herói porque, o simples fato de se entrar numa jornada já nos torna heróis, mas nem todo mundo se torna um guerreiro.
"Herói é aquele que encontrou ou realizou algo excepcional, que ultrapassa a esfera comum da experiência e deu sua vida a algo maior ou diferente dele mesmo."
Acreditem, aquele negócio de ter que dizer à alguém “Ainda não é hoje que o senhor vai alimentar sua família” era algo muito maior do que eu mesma e tava duro de suportar!
"A jornada do herói, segue Campbell, implica em abandonar uma condição (no meu caso, de inocência e mundo cor-de-rosa); encontrar a fonte da vida – A Força, como diriam um Jedi de Guerra nas estrelas (tava cada dia mais difícil voltar pra fábrica), e chegar a uma condição diferente: mais rica e mais madura.
Cresci muito fazendo isso!
Há 3 formas do herói iniciar sua jornada.
Na primeira, o herói não sabe o que tá fazendo; ele segue um ser encantado qualquer e, de repente, pimba! se encontra no meio de uma aventura. É totalmente inconsciente. Geralmente há muita dor e sofrimento somado à uma sensação de “Juro que eu não queria isso” e “Por quê logo eu?”.
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Na segunda forma, há uma situação na qual o herói é jogado, enviado, convocado. Ele não queria, mas aconteceu. Está num processo de transformação e passará por morte e ressurreição. É um processo semi-consciente e a vitimização é beeeem menor por parte do herói, mas ainda tá lá: “Alguém me meteu nisso. Meleca!”.
Na terceira, o herói é alguém que resolve partir de maneira responsável e intencional. É a aventura de descobrir qual é o seu destino, sua natureza, sua origem. Ele a empreende intencionalmente. É 100% consciente. Nesse caso, a dor e o sofrimento já foram transmutados. Ele sofre, claro. Mas pelas dores que fazem parte da experiência, não por ter entrado nela. É protagonista da sua própria história. Esse é o guerreiro.
Você vê? Eu entrei na jornada de selecionadora da primeira forma: Não era uma guerreira. Não sabia o que era, nem o que me esperava. Seguia um ser encantado; um sonho de menina: O de me tornar uma Psicóloga organizacional.
Quando eu quis desistir, alegando que aquilo não servia pra mim; que feria demais minha sensibilidade; que eu tava sofrendo muito e todo essa baboseira que os heróis dizem pra cair fora da jornada, minha gerente daquela época, uma “senhora” sponsor e coach, por quem tenho o mais profundo respeito e gratidão, Maria Izabel Rodrigues – a Bel – me disse:
“É exatamente por isso que precisamos de você. Porque você ainda se sensibiliza e, portanto, trata todas estas pessoas como Seres Humanos! Não como números, mas como indivíduos que são. Isso torna a dor deles muito mais suportável.”
Indivíduo é isso. Em latim quer dizer indivisível, aquele que não se divide, que é único. E eu fiquei e me tornei uma guerreira. Escolhi ficar e matar um leão por dia. Se eles podiam administrar a fome, eu podia muito bem administrar minha tristeza profunda com aquele estado de coisas e ainda, quem sabe, ajudá-los.
Criei estilo; dei cursos, palestras, concebi um “filho”; um tipo de Seleção que, finalmente, possibilitava o ganha-ganha – A Seleção Cooperativa – onde a empresa ganha a melhor pessoa pra sua vaga, o selecionador uma consciência muito maior de sua importância nessa intermediação e, portanto aumento de autoestima, o candidato maior autoconsciência e autoconhecimento mesmo que não fique com a vaga! E a sociedade ganha pessoas; cidadãos melhores. Um dia eu conto como é que isso funciona, mas o fato é que eu me orgulho disso imensamente!
Segundo Campbell, no seu maravilhoso livro de 2005 “O herói de mil faces”, os 12 estágios da jornada do herói são:
Então, você percebe? Nem todos os selecionadores são guerreiros, eu não era. Tive que me tornar. Mas todo headhunter é. É guerreiro porque escolheu fazer carreira nessa vida dura de ser quem vai dizer “Hoje não vai dar moço. Sinto muito.” E sentirá mesmo! Mesmo que vá correndo pro banheiro chorar depois, ele volta no dia seguinte. E no outro. E no outro. E, a cada dia, “o moço” da vez, vai encontrar um ser humano que desenvolveu a capacidade de escutar, de ouvir (sim senhor; são coisas diferentes sim. Até neurologicamente falando.) e empatizar. Alguns são tão bons e apaixonados pelo que fazem que ainda orientam o “moço” para a próxima entrevista, para a próxima jornada. São "Jedais".
E você? Quem é você? Por quê está onde está? Pra quê faz o que faz? De onde vem? Qual é a sua Força? Como você entrou na sua jornada? Sabe se, no seu caso, entrar na jornada não significa justamente abandonar a condição atual e entrar em uma nova aventura?
Todo momento é momento de iniciar um novo ciclo, se você assim desejar.
Nesses momentos, a vida faz aniversário e nos convida.
E, então, o momento deixa de ser apenas um trabalho novo, um relacionamento novo, uma casa nova… Torna-se uma oportunidade nova, novinha em folha. Uma nova jornada.
Uma oportunidade de:
Que você descubra sua Força e nos presenteie com mais um guerreiro ou guerreira único ou única, indivisível: VOCÊ!
Feliz Ciclo novo!
Seja ele qual for…