Todos queremos o destaque da liderança. Mas nos preparamos para isso?
Quem não sonhou em ser o famoso ou famosa da novela? Quem não sonhou em ser aquele jogador que decide o jogo no último minuto e recebe todas as glórias? Quem não sonhou em estar naquele palco e todos cantando junto com você? Quem não sonhou em estar nos cargos mais altos de liderança de uma organização?
Todos estes sonhos são legítimos e possíveis, desde que nos preparemos para os ônus e bônus de qualquer posição de destaque. Pois, estarmos em uma posição que podemos realizar, fazer os nossos sonhos tornarem-se realidade pelas mãos de outras pessoas é muito bom. Contudo, nem todos sabem tudo que ocorre, principalmente nos momentos em que as coisas não dão certo e o líder tem que assumir sua responsabilidade perante o papel que lhe cabe.
A perspectiva do liderado
Vamos fazer uma reflexão na perspectiva do liderado. Mas primeiro gostaria de estabelecer a premissa de Simon Sinek que diz que liderança não é uma posição e sim, uma escolha. Partindo dessa premissa, toda e qualquer pessoa pode ser líder. Depende da situação. Então, a liderança é situacional.
No resgate dos garotos da Tailândia, o treinador Nopparat Khanthavong assumiu a posição de líder quando tomou a decisão de utilizar seus conhecimentos de monge e passou a se alimentar menos para que os meninos tivessem mais alimentos à disposição.
Já o garoto Samon, assumiu a posição de liderança quando passou a ser o elo de comunicação entre a equipe de futebol e os profissionais de resgate, devido a seu conhecimento de inglês.
Trouxe estes dois exemplos para reforçar que a liderança situacional requer que o líder tenha conhecimento do tema a ser tratado. Isso o coloca em posição de destaque em relação aos demais e permite que o protagonismo apareça e seja observado.
E aí faço uma pergunta? Como você adquire o seu conhecimento? É só através do conhecimento, o qual podemos chamar como Capital Intelectual dessa nova era, que podemos nos diferenciar e nos tornarmos protagonista de alguma coisa.
E quando o protagonismo lhe for oferecido. O que você oferecerá em troca? Pois quando a bola é rolada para você, a única chance que você tem é de fazer o gol. Se não fizer, rapidamente escolherão outro para chutar essa bola em seu lugar.
Para fechar essa perspectiva do liderado, gostaria de compartilhar uma experiência que tive com meus alunos no último semestre. Montei um modelo de aula diferente, onde os próprios alunos prepararam todas as aulas do semestre. Divididos em duplas, foram apresentando seminários nas aulas semanais, de acordo com o plano de ensino que apresentei a eles no início do semestre. E cada dupla tinha de resumir a aula dada em uma folha A4 e montar três questões sobre o conteúdo dado, para que os demais alunos trouxessem respondido na aula subsequente. A folha A4, com a três questões eram colocadas na parede da sala para que pudéssemos tirar dúvidas a qualquer momento durante o semestre.
No final do semestre, apresentei a surpresa de protagonismo para os alunos. De todas as aulas apresentadas, eles poderiam escolher das 32 questões formuladas, 10 questões que iriam ser colocadas na prova final, com um detalhe importante: eles poderiam se reunir, verificar as melhores respostas e montar as respostas fechadas da prova. Eu iria apresentar a prova com as questões e as respostas formuladas da mesma forma que eles me entregassem. Dei 2 dias para que eles fizessem este trabalho em equipe. Após as 48h, eu não receberia mais as questões deles e montaria a prova com as minhas perguntas e respostas.
Para minha surpresa, os alunos não conseguiram se articular e montar todo o trabalho. Conseguiram eleger as 10 questões que iriam para a prova, mas não conseguiram formular as respostas (Estas já deveriam estar prontas durante o semestre). Resultado: conseguiram atingir somente 40% de aproveitamento do conteúdo criado por eles próprios durante o semestre.
Em um post futuro explorarei mais este case no quesito de protagonismo. Mas deixo aqui para que você faça sua análise, pois quero discutir a perspectiva do líder.
A perspectiva do líder
Já discutimos em um artigo anterior o quanto gostamos da posição de liderança. Mas vimos nos parágrafos anteriores que a liderança é situacional. E o case com meus alunos me fez refletir mais ainda. Estamos preparando líderes para o futuro? Ou estamos protegendo tanto nossos liderados, através de nossas decisões autocráticas e centralizadoras, que estes ficam em posições confortáveis e deixam a decisão difícil para o nível superior na hierarquia?
E é neste ponto que precisamos trabalhar o desenvolvimento de nossos futuros profissionais. Somos parte de uma educação onde o pai fala e o filho escuta. O professor fala e o aluno escuta. O chefe fala e o trabalhador escuta.
Precisamos abrir mais espaço para discussões, contra-argumentos, contrapontos. É preciso dar espaço para o cunho criativo de cada criança na educação infantil. Potencializar no adolescente o que ele tem de melhor para que ele desenvolva conhecimento e seja líder naquele assunto. Preparar os alunos da graduação para serem líderes em seus segmentos, através de disciplinas que gerem skills de empreendedorismo, planejamento e criatividade.
Dentro de nossas empresas, permitir que mais pessoas participem de decisões importantes. E não estou falando aqui de decisões no Conselho de Administração da empresa. Estou falando de decisões no chão-de-fábrica. Onde para apertar um parafuso, um operador ou mecânico precisam chamar um técnico para verificação final da atividade. Tem que ser o oposto. Deve ser permitido o protagonismo para o profissional que está na primeira linha de trabalho para que ele tome as decisões corretas e assuma o bônus ou ônus daquela decisão.
Mas, nós líderes? Fazemos isso? Estamos preparando líderes para o futuro? Ou mantendo nossas posições através do conhecimento que nós temos? Precisamos repensar estas questões.