“Too little, too late”

O Ministério da Economia divulgou nesta sexta-feira, que o Brasil criou 644 mil vagas de empregos formais em 2019. É o melhor resultado desde 2013, quando o país criou 1.117.171 vagas. As atividades que mais criaram empregos no ano passado foram serviços, comércio, construção civil e indústria da transformação. Assim, a taxa de desemprego caiu para 11,2%, ou um contingente de cerca de 12 milhões de pessoas, segundo o IBGE. É para comemorar?

A estimativa para a criação de empregos em 2020 é de cerca de um milhão de novos empregos formais caso a economia cresça 3%. A estimativa de crescimento da economia brasileira em 2020 é de 2,4%, segundo o Ministério da Economia, e de 2,31, segundo o Relatório de Mercado Focus do Banco Central do Brasil (BCB).

Portanto, se a atividade econômica em 2020 se comportar como o esperado pelo governo e pelo mercado, a taxa de desemprego deve chegar ao final do ano acima dos 10%, ou cerca de 10 milhões de pessoas. Ainda estaremos falando de um desemprego muito elevado.

A situação não é mais desesperadora porque a taxa de crescimento vegetativo (nascimentos menos mortes) é baixa. Em 2010, a taxa de crescimento vegetativo da população brasileira era de 1,4%. Em 2019, ela caiu para 0,78%. E a tendência para o futuro é que ela caia mais ainda. Para manter o tamanho absoluto da população constante, a taxa de crescimento vegetativo tem que ser de 2,1% no mínimo. Ou seja, o problema do desemprego no Brasil só não é pior porque a população está diminuindo.

O resultado da criação de vagas no Brasil em 2019 só é auspicioso na medida em que reflete uma pequena diminuição do sofrimento de algumas famílias no curto prazo. No entanto, se o ritmo de crescimento da economia brasileira se mantiver em torno dos 2,5% ao ano, serão necessários uns cinco anos para que a taxa de desemprego retorne ao patamar dos 7%. Para se ter uma ideia, a menor taxa de desemprego da série histórica brasileira foi de 6,8% em 2014.

A manutenção de uma alta taxa de desemprego garante que a inflação estará sob controle, pois a renda e o consumo continuarão contidos, e que a taxa de juros se manterá baixa. No entanto, a preço a ser pago por essa estabilidade monetária é alto. O envelhecimento da população e a obsolescência profissional da mão-de-obra desempregada significam menor produtividade e menores perspectivas de crescimento de médio e longo prazo.

Além disso, as novas tecnologias devem promover um significativo desemprego estrutural tecnológico. Estima-se que 50% das ocupações atuais irão desaparecer nos próximos anos. Os novos empregos gerados por essa nova geração de tecnologias (inteligência artificial, robótica, block chain, internet das coisas, entre outras), exigirão novas qualificações e maior nível educacional.

Assim sendo, para além da frieza estatística, há pouco a ser comemorado com o aumento do emprego formal no Brasil em 2019. Como diriam os ingleses, “Too little, too late”.

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