Trabalho e Perfeição
Davi - Michelangelo

Trabalho e Perfeição

'Lembra-te que insignificâncias causam a perfeição e a perfeição não é uma insignificância- ® Michelangelo

O Renascimento italiano dos séculos XV e XVI irrompeu como janela estufada por forte vento e a luz e forma invadiram a sala escura e fria do homem medieval. Qualquer obra deste período, arte ou literatura, é prova imortal do belo e perfeito enebriantes. Por entre Dante, Leonardo, Maquiavel, Rafael e Erasmo, um passo a frente e um ponto acima está Michelangelo, arquiteto e artista do sublime, pintor e pai da Capela Sistina, escultor e pai de Davi. Sua arte transcende a pedra a tal ponto que a lenda conta que terminando seu 'Moisés' e de pé diante da estátua, falou admirado 'Perchè non parli?' - 'Porque não falas?'

Poucas coisas a fazer no cotidiano, para nós que não somos Michelangelos, tem estatura desta arte que nos extasia. São reduzidas chances que temos de produzir arte sublime alguma vez na vida - com exceção dos filhos e, há quem diga, da vida conjugal. O mundo é chão suficiente para nos envolver com tarefas necessárias e terrenas: trabalhar, abrir empresas e empregos, pagar contas e salários e assim prosseguir caminhando em direção ao futuro. Tudo isto é importante, ninguém duvida, mas para muitos escapa que esta é a nossa versão moderna de uma arte, a arte de viver. “Lieben und arbeiten” ou "Amar e trabalhar", bem disse Freud que são as coisas que mais importam para o ser humano. Neste curto insight, o "Amar" fica aqui e vamos prosseguir só com o "Trabalhar".

Moisés, Michelangelo - San Pietro in Vincoli, Roma. ®Smarthistory - Youtube

À Michelangelo se atribui autoria desta frase:

"Lembra-te que insignificâncias causam a perfeição e a perfeição não é uma insignificância."

Podemos vê-lo trabalhando, perfeccionista, investindo esforço nos detalhes, nos menores e minúsculos, com férrea disciplina.

O "trabalhar", que alcançou estatuto de preencher os dias de todos nós, pode ser feito com parte do empenho possível, com um pedaço do compromisso possível, com uma fração da perfeição possível, com um resto da energia possível? Se assim é feito, com negligência branda e diluída que não compromete o resultado final, quem respeitará nosso trabalho e esforço? ...ilusão, pois ninguém fica de pé diante da estátua mal-feita, do trabalho mal-feito e ordinário e estes não duram até a próxima estação. Deve ser bem feito o trabalho que precisa ser feito.

Você poderá ser respeitado pelo esforço à busca do trabalho perfeito, mesmo que não o alcance, ao contrário da displicência e desatenção. Pode ser que não haja consagração, pode ser que não alcance perfeição - ainda assim, o esforço deixará marcas nos detalhes, nas atitudes, no conhecimento, nos gestos. E se não é isto que leva àquela sabedoria prática, esta sabedoria do fazer e do realizar, então, o que leva? Está enganado quem busca atalhos e caminhos e economias.

Há quem troque de trabalho e invés de padaria, abre loja de ferragens, invés do trabalho de balcão, prefere trabalho de escritório, invés de caneta e papel, prefere teclado. Mas fica de pé o compromisso de fazer o trabalho, qualquer trabalho, bem feito, fica de pé o compromisso com a perfeição das insignificâncias. E se Freud está certo - provavelmente está -, negligenciar o trabalho é viver pela metade. Aquele que é indiferente ao resultado do seu trabalho vive pela metade. Indigno.

A perfeição não é uma insignificância.

SOBRE O AUTOR:

Roni Chittoni, empresário, sócio de escritório de recrutamento executivo (C_level). Professor, autor e palestrante. Temas que explora: Poder, Felicidade e Caos : drives para o Mundo em 2050 ( anchor.fm/ronichittoni). Acha Maquiavel o cara.

Haelmo Coelho de Almeida

Não me pergunte se sou capaz, apenas me dê a missão e observe || Faço você usar o seu ERP de maneira estratégica || Analiso cada módulo do seu ERP e aponto melhorias || Você tem pontos cegos que não percebe. ||

6 a

Perfeito texto.

Cleyton Leite

Fundador da Elevare - Excelência Operacional | Melhoria Contínua

7 a

Excelente texto! O último dos princípios do Lean Manufacturing é justamente a perfeição

Carol Manciola

Fundadora da Conectas I Palestrante I Autora #BoraBaterMeta e Coragem e mais alguns Cês da Vida I Mãe do Léo e da Ula l @carolmanciola

7 a

Excelente artigo. Empolga uma worklover declarada como eu! :) PS: não consegui entender o comentário do bad influencer. Será que é por que sou loira? Hahahahahah

Charles Schweitzer

CEO & Board Member Tanto | Inovação | Transformação Digital | Conselheiro | TEDx Speaker

7 a

Cheguei aqui curioso, movido pelo post onde você menciona o nosso Bad Influencer. Nesta nova cultura corporativa ligada às Metodologias Ágeis, pregamos cotidianamente a entrega de MVP's. A gente não fala nem de perfeito, nem de imperfeito, mas do mínimo viável. É excelente em termos de velocidade, mas muito ruim se pensamos em termos de qualidade... Vamos virando reféns dessas metodologias no dia a dia e, aos poucos as equipes perdem a capacidade de criar, improvisar, tocar jazz e também de buscar a perfeição... Outro dia escrevi um artigo sobre isso também! :)

Olha... não existe meio termo. Ou tu é alguém que dá o teu melhor em tudo o que faz, ou tu é um hipócrita. Não se pode pedir que alguém lhe diga o que é o "teu melhor'. Você, como dono da tua vida (e por consequência do seu trabalho- não confundir com emprego), tem de entregar sempre o teu melhor. Detalhe, o teu melhor não é FINITO, ele é INFINITO, pois cada dia é um dia, e cada "desafio" é um, seja ele para ganhar $, seja ele para conquistar um amor, seja para ter a amizade de alguém. Quem só entrega o que "pedem", só recebe o que querem dar. Logo, não reclama quando achar que não está sendo valorizado, pois, quem se faz valorizar, é valorizado. É a tal da Lei do Retorno.

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