A Transição do Feudalismo ao Capitalismo: O Sistema Manufatureiro Doméstico e o Declínio do Sistema Senhoril
O surgimento do sistema manufatureiro doméstico e o subsequente declínio do sistema senhoril no século XVI representaram mudanças cruciais na organização econômica da Europa, pavimentando o caminho para o capitalismo moderno.
A transição do sistema manufatureiro doméstico para a indústria capitalista no século XVI representou uma mudança crucial na organização da produção econômica.
Inicialmente, a necessidade de ampliação da produção e o abastecimento de bens manufaturados voltados para exportação impulsionaram o desenvolvimento desse sistema.
Mercadores capitalistas começaram a controlar o processo produtivo, assumindo o papel de proprietários não apenas das mercadorias, mas também dos meios de produção, como máquinas e oficinas.
O sistema manufatureiro substituiu gradualmente a indústria artesanal. Os mercadores forneciam aos trabalhadores tanto as matérias-primas quanto os instrumentos de trabalho, apropriando-se dos produtos finais.
A transição mais notável foi a venda da força de trabalho, ao invés do produto acabado, pelos trabalhadores.
O ramo mais expressivo dessa mudança foi a indústria têxtil, onde tecelões se tornaram dependentes do mercado capitalista para vender seus produtos.
O mercador capitalista consolidou seu controle ao tornar-se o proprietário das máquinas, instrumentos de trabalho e até mesmo das oficinas onde a produção era realizada.
A Inglaterra, durante o século XV, conquistou a hegemonia na produção têxtil, com fábricas dispersas pelo campo, o que dificultava a organização de movimentos de resistência por parte dos trabalhadores.
Esse novo modelo de produção, mais urbano que rural, gradualmente transformou os artesãos em trabalhadores assalariados, despojados de suas propriedades.
Ao longo do século XVI, o capitalismo tornou-se o sistema econômico dominante, com uma clara distinção entre os proprietários de capital e os trabalhadores assalariados, que vendiam sua força de trabalho ao invés dos produtos que antes produziam de forma independente.
Recomendados pelo LinkedIn
O Declínio do Sistema Senhoril
Enquanto o sistema manufatureiro doméstico se consolidava, o declínio do sistema senhoril também se desenrolava.
O crescimento das cidades comerciais e densamente povoadas criou uma dependência das zonas rurais para o fornecimento de alimentos e matérias-primas necessárias às indústrias exportadoras. Este intercâmbio entre os feudos e as cidades deu origem a novas relações de dependência.
Os senhores feudais, antes autossuficientes, começaram a depender das cidades para obter bens manufaturados.
Paralelamente, os camponeses, que antes eram servos, passaram a trocar o excedente de suas colheitas por dinheiro nos mercados locais, conquistando maior autonomia e, em muitos casos, assumindo o papel de pequenos empresários.
No século XIV, o valor das rendas em dinheiro já excedia as prestações de trabalho que antes mantinham os senhores em posição de domínio.
Outro fator que contribuiu para o declínio do sistema senhoril foi a ocorrência da Guerra dos Cem Anos (1337-1453) entre a França e a Inglaterra e os efeitos devastadores da Peste Negra, que dizimou grande parte da população europeia, provocando escassez de mão de obra.
Nesse contexto, muitos senhores feudais passaram a arrendar suas terras aos camponeses, que as cultivavam em troca de rendas, em vez de manter grandes propriedades sob cultivo direto.
O surgimento do mercado capitalista nas zonas rurais deu mais liberdade aos camponeses, e, mesmo com as tentativas da nobreza de restaurar as antigas obrigações de trabalho, o sistema feudal entrou em colapso.
Esse conflito de interesses culminou em revoltas camponesas por toda a Europa, sendo uma das mais notórias a Revolta dos Camponeses no final do século XIV, que foi brutalmente reprimida pelas tropas do Sacro Império Romano-Germânico.
Assim, a nobreza feudal viu-se incapaz de impedir o progresso do sistema capitalista, que aos poucos tornava-se a força dominante na economia europeia, selando o declínio do sistema feudal e o surgimento de uma nova era.
Referência: Hunt, E. K., & Sherman, H. J. (1993). História do Pensamento Econômico (11ª ed.). Tradução de Jaime Lary Benchimol. Petrópolis: Vozes.