É o olho do dono que engorda o gado ou a felicidade dele de alimentá-lo?
O causo é recente. Estamos nós viajando visitando clientes, e como é de costume nessas viagens ao campo, visitando clientes do Agro, se sai muito cedo para estar na fazenda do cliente as 8 da manhã. Saímos então antes do começo do café da manhã no hotel e combinamos de parar no restaurante do Chico para tomar café. Chego lá e comento: poxa dado o lugar tão isolado, e na beira da estrada, até que o restaurante é legal. Meu colega de empresa diz: sim, mas você não viu isso 10 anos atrás, agora tem até hotel do Chico aqui ao lado! O outro colega comenta: é.... o Chico tá ganhando dinheiro. E vem a réplica: mas tem que morar aqui em compensação. E rimos.
A história muda, mas a região não. Estamos nós ainda visitando clientes que plantam há quase 30 safras. Cada agricultor tem sua história, uns construindo seu patrimônio e outros já muito consolidado. Mas uma coisa é certa, não importa o quanto o caboclo seja rico, ele está na roça toda semana. Não tem a história do gado só cresce nos olhos do dono. Então... a soja, o algodão, o milho também.
Partindo para um mercado mais informal, já viu alguma padaria que o dono não participa do dia a dia? Açougue?
É claro que aquilo que convencionou chamar de ditado popular e se refere à maneira como os proprietários que realmente se interessam pelo próprio negócio cuidam do mesmo e, decorrente de tal cuidado, o empreendimento cresce e dá frutos. Mas isso é verdade sempre?
Então meu empreendimento só dará certo se eu estiver lá? Minha área na empresa só vai gerar resultados se eu estiver lá todos os dias?
Vamos pegar um exemplo de um mercado mais novo. Start up! Como funciona esse negócio? Normalmente alguém com uma ideia boa para ser executada, propõe começar um desenvolvimento, normalmente hoje em dia um aplicativo, de uma ideia que foi testada e checada se tem aderência de mercado. O linguajar do mercado hoje é: com essa aplicação estamos resolvendo a dor de quem? Resolvendo qual problema?
E aí pessoas que acreditam nessa ideia entram como sócios ou como investidores anjos. O empreendedor que teve a ideia pode ou não aportar dinheiro, tornando- se assim também sócio.
Com esses fundos captados o empreendedor (dono da ideia) vai buscar aperfeiçoa-la, criar um protótipo e encontrar clientes, ou seja, pessoas dispostas a usar aquela aplicação e entender como aquilo facilita a vida delas.
Aqui como no hotel do Chico, na fazenda, na padaria, o empreendedor é fundamental para o negócio funcionar bem e deslanchar.
O negócio nesse estágio só cresce com os olhos do dono. O empreendedor entende como o negócio foi criado e o mecanismos quero levou aquele ponto e como ele tem que ser conduzido.
Mas um gerente executivo não pode fazer isso? Depende... quanto maduro está o negócio.
Se o negócio está no momento de fazer uma transição de uma gestão familiar para uma gestão profissional, há uma série de fatores a serem levados em conta para que o boi possa crescer sem o dono estar lá.
Normalmente trazer uma nova geração de líderes para áreas essenciais para o funcionamento do seu negócio: gestão da operação, finanças e RH. E dizem as consultorias que quanto mais próximo o DNA desses novos líderes do DNA do empreendedor, maiores a chance de sucesso da sucessão. Aliás uma transição dessa feita pelo próprio sucessor é muito difícil, normalmente será preciso o apoio de uma consultoria especializada.
Até que chegará o momento que a avaliação precisara ser feita com base em metas atingidas e indicadores de desempenho, e não mais por questões de afinidade, relacionamento pessoal, amizade ou tempo de casa.
Se você trabalha numa grande organização tente fazer um exercício de analogia para sua área. Está claro a quem toma decisão quando você não está lá? As pessoas estão autorizadas a errar? Ou vão ser reprimidas? Rolou um processo de profissionalização da gestão e verificação de desempenho por indicadores?
Afinal para saber se o dono ainda precisa estar presente o que vale mesmo é a maturidade do seu negócio, a necessidade de ter mais pessoas tomando decisão e com o devido empoderamento para tomá-la. Isso vai valer para sua área da grande empresa, para o restaurante do Chico e também para a start-up.
No fim é importante saber também que não adianta querer ter o melhor restaurante do Km 55 da Br 020 se você não tem prazer em estar lá. Não adianta ter a fazenda com uma super produtividade se você não vai curtir sua colheita e não adianta sentar à bunda 10 horas por dia no escritório se você não tem inspiração para estar lá.
Eu diria que mais que crescer nos olhos do dono o que vale mesmo é a inspiração e a felicidade do dono em alimentar o gado. Se ele é feliz dando comida, o gado vai comer bem.
professor
5 aMuito bom o artigo... parabéns, filho
Gerente de Vendas
5 aExcelente comparação e reflexão Fernando
Agribusiness partner at Souto Correa Advogados | Legal Counsel I Speaker I Professor l Barter, Real Estate, Timberland Investment and Agribusiness Credit specialist | Advisor CONACREDI AGRO I Writer
5 aÓtima reflexão, Fernando!