Um pingo de razão a Madoff

Um pingo de razão a Madoff

— As pessoas me perguntam por que não fugi. Mas a verdade é que nem pensei nisso. Acho que porque nunca encarei o que fazia como roubo.

— Bem, foi um esquema Ponzi de 65 bilhões de dólares. As pessoas perderam suas economias, suas casas… suas vidas foram destruídas. Você não via isso como roubo? As pessoas confiaram em você. E, ainda assim, você traiu todas elas.

— Mas essas pessoas eram gananciosas também. Todas tinham alguma coisa… elas não queriam saber muito. Só viam o que lhes interessava. Então são cúmplices também.

— Eram cúmplices porque confiaram em você? E porque você era confiável ou parecia confiável?

— Elas também foram desonestas. Não assumiram a responsabilidade pelo que fizeram.

Neste fim de semana, assisti ao filme “O Mago das Mentiras”, em que Robert De Niro interpreta Bernard Madoff, famoso operador de Wall Street e fundador da Bernard L. Madoff Investment Securities LLC. O executivo foi preso em dezembro de 2008, no auge da crise financeira, acusado de cometer uma das maiores fraudes da história.

O filme é uma adaptação do livro de mesmo nome publicado pela jornalista Diana B. Henriques, do “The New York Times”, que assume seu próprio papel no longa e conduz a entrevista com Madoff – representado brilhantemente por De Niro –, da qual reproduzi uma parte do início desta newsletter.

Condenado a 150 anos de prisão, o ex-presidente da Nasdaq cometeu fraude contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e perjúrio, dentre tantos outros crimes, por meio de sua empresa de assessoria financeira, que mantinha separada da LLC.

A operação inteira era uma farsa, tudo era forjado. O sistema não passava de uma pirâmide financeira, em que clientes mais antigos eram remunerados com o dinheiro de investidores mais novatos, sem que houvesse qualquer tipo de rendimento real.

Com uma rede sofisticada de contatos, Madoff prometia retornos da ordem de 1% ao mês – o que muito brasileiro ainda considera trivial – e, sem explicar em detalhes sua “estratégia”, angariava nomes de peso para compor o portfólio de seus fundos.

Madoff passou a perna em figuras renomadas do mundo do entretenimento e do esporte, em organizações beneficentes e em instituições financeiras de grande porte, como J.P. Morgan, HSBC e UBS, o que levou gente comum, como eu e você, a se prejudicar. Muitos perderam todo o patrimônio no esquema.

QUEM NÃO PERGUNTA NÃO QUER SABER

É óbvio que é cínico de Madoff tentar responsabilizar os investidores inteiramente por seus prejuízos. É claro que era praticamente uma missão impossível imaginar que uma empresa pudesse agir de maneira tão criminosa sem que os órgãos competentes tivessem conhecimento e agissem para coibir sua atuação.

Mas devo confessar que concordo, em parte, com a ideia de cumplicidade de seus clientes.

E acredito que, ainda que em menor escala, pequenos escândalos do dia a dia continuam a deixar muito investidor cego por aí.

Pouca gente quer saber de onde o dinheiro vem e só se interessa em realmente entender onde seu capital está aplicado quando começa a perdê-lo.

Quantos investidores por aí não compram fundos multimercados esperando retorno de fundo DI, quando os tempos ficam difíceis?

Outro dia um amigo veio me perguntar sobre um tal “consultor” do mercado, dica quente de seus amigos, que prometia retornos suntuosos para os clientes. Meio desconfiado, meio ganancioso, meu amigo investiu com o tal profissional, porém resgatou a maior parte do dinheiro depois de ter obtido resultados pra lá de satisfatórios.

Mas ele ainda não tinha entendido como é que o consultor havia conseguido gerar tamanho rendimento e dizia que, supostamente, não teria sequer que se preocupar em declarar o lucro para a Receita. O consultor assumiria tal função, sabe-se lá de que forma.

Meu amigo é esperto o suficiente para saber que algo estava errado. Bastou, inclusive, cinco minutinhos de busca no Google para encontrar um alerta da CVM indicando que o tal consultor estava proibido de exercer sua atividade, com risco de pagar multa se infringisse a determinação.

Como lidar, contudo, com a ideia de ver seus amigos ganhando dinheiro e ele não?

Pouco importava de onde viria o dinheiro, desde que ele continuasse a cair na conta.

É uma maravilha quando está tudo dando certo, mas e quando a maré vira? Você vai se apoiar em promessas de lucros sem conhecer a fundo a estratégia do seu banco, gestor ou consultor financeiro?

Está na hora de você assumir a responsabilidade pelo seu dinheiro, nos bons e nos maus momentos.

Cinicamente, o próprio Madoff contava que orientava as pessoas a não investir mais de metade do seu patrimônio com ele. “Nunca se sabe, um dia eu posso pirar”, dizia.

Mas bem sabemos como a ganância, muitas vezes, toma conta do nosso racional.

Por isso, a lição de casa hoje é só uma: entenda onde seu dinheiro está aplicado e avalie se seu risco está de acordo com seu perfil.

Depois não adianta chorar o leite derramado.

MELHOR DA SEMANA

Faz mais de um ano, desde o “Joesley Day”, que o Tesouro Direto não apresentava taxas de retorno tão elevadas para títulos públicos indexados à inflação. No Tesouro IPCA+ com vencimento em 2035, uma das melhores opções para a formação de uma aposentadoria, a taxa de compra chegou a 5,98% ao ano (mais a variação da inflação) no último dia 18.

Em 19 de maio de 2017, esse mesmo papel pagava 6,01%. O ciclo de alta parou por aqui? Provavelmente não, o que significa que você poderá obter maiores retornos mais à frente. Mas nada lhe impede de aproveitar a oportunidade atual para começar ou reforçar seus planos de construir uma poupança para o futuro agora.

PIOR DA SEMANA

Os tempos não andam fáceis para empresas interessadas em abrir seu capital na Bolsa brasileira. Ao lado de Banrisul Cartões e Multilaser, o Agibank também decidiu adiar sua oferta pública inicial de ações. Segundo reportagem do “Valor Econômico”, o ano de 2018 já soma dez empresas que postergaram ofertas já registradas na CVM. Vamos acompanhar o desenrolar do cenário para ver se as companhias farão uma nova tentativa mais adiante. Enquanto isso, vale aproveitar as oportunidades para reforçar a posição em ações boas e baratas, como tão bem tem pontuado o Max tanto no Microcap Alert quanto no MAXincome.

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