UM POUCO DA MINHA HISTÓRIA
Muitos me perguntam o motivo pelo qual sou tão aficionado pelas corujas (você já deve ter reparado nos meus vídeos que eu sempre estou acompanhado de pelo menos uma). Claro que a escolha da minha logomarca não poderia deixar de prestigiá-la.
Todos sabem que a coruja é o símbolo da sabedoria. Essa ideia remonta aos Gregos, que consideravam a noite como o momento do pensamento filosófico e da revelação intelectual. Por ser de hábitos noturnos, essa ave acabou representando a sabedoria.
Mas não a escolhi porque me considero sábio ou inteligente. Adotei a coruja como símbolo por outro motivo.
Sou filho de uma manicure com um garçom (que já se acham no paraíso, ao lado de Deus). Ambos mal tinham o ensino fundamental completo. Até os 22 anos de idade, morava com os meus pais em um barraco de madeira de dois cômodos, cujo telhado, sem forro, deixava escapar várias goteiras quando chovia, algumas delas, sobre a cama em que eu dormia. E nem adiantava mudar a cama de lugar. Além do cômodo ser bem pequeno, ao mudar de lugar, eu trocava uma goteira por outra.
Comecei a trabalhar aos 12 anos, como entregador de supermercado. Não tinha salário. Só ficava com as gorjetas que as madames me davam para levar as suas compras até a mala do carro no estacionamento ou em suas residências. Muitas vezes não me davam nada. Apesar da decepção, preferia achar que elas entendiam que esse era um serviço oferecido pelo próprio supermercado e que eu era por ele remunerado. Paciência. Levantava a cabeça e ia atrás de uma compra bem grande passando pelo caixa para oferecer meus serviços:
—A Senhora quer que eu leve as suas compras no carro?
Se vinha o “não”, seguia em frente até achar uma freguesa que quisesse minha ajuda. Às vezes a gorjeta era bem polpuda e voltava do estacionamento pulando igual pipoca espocando na panela.
Nunca pedi nenhum centavo e maioria dos clientes sempre davam alguma coisa.
Mais tarde, consegui a vaga de empacotador e repositor. Mas sem carteira assinada, porque só tinha 13 anos. Trabalhava 12 horas por dia. Esse era um trabalho que só dava pra encarar durante as férias. Era uma época em que as férias de final de ano duravam quase três meses. Bons tempos.
Aos 14, consegui emprego de "Globinho". Esse era o apelido que ganhávamos por ser entregador de jornal do Jornal “O Globo”. Fazia as entregas de bicicleta. Aos olhos das pessoas que nos viam pelas ruas, até podia parecer que trabalhávamos brincando, porque passávamos de bicicletas atirando jornais por cima dos muros das casas (dos assinantes, é claro), como nos filmes americanos; mas, de brincadeira, não tinha nada.
O expediente começava às 04:00. Todos os dias, de segunda a segunda. Só tínhamos folga 4 dias POR ANO, que eram os dias nos quais não rodava jornal: 25/12, 01/01, segunda e terça de carnaval. Trabalhávamos debaixo de chuva, não importando a sua intensidade porque o jornal tinha que chegar na casa do assinante. Se o assinante ligava para a central reclamando da demora ou que o jornal não tínhamos chegado, esse exemplar era descontado do nosso salário. Ah! O salário. Recebia pomposos ½ salário mínimo (era tempos anteriores à CRFB de 1988). E tinha o peso. Quem já teve oportunidade de levantar uma pilha de 120 jornais completos sabe do que estou falando.
Eu era uma criança muito franzina aos 14 anos. Tenho de altura 1,67m que atingi nessa idade. Pesava pouco menos de 50 kg. O esforço físico que fazia, tanto no supermercado, como na época de entregador de jornal era enorme.
Em um domingo, que era o dia mais difícil porque o jornal era muito mais volumoso, após chegar do trabalho exausto, pedi a Deus que, em algum momento da minha vida, eu conseguisse exercer uma profissão que não exigisse força física, mas apenas a minha inteligência. Eu era estudioso. Meus colegas diziam que eu era o CDF da sala (não vou traduzir a sigla, mas hoje as pessoas falariam que eu era um NERD). Eu não aguentava mais ter de fazer força para ajudar no sustento da casa.
Jamais deixei de estudar e sempre considerei que essa era a minha única chance de ter uma vida mais confortável e não ser necessário trabalhar carregando peso. Mesmo vindo de uma família muito humilde, estudando sempre na rede pública (o que me orgulha bastante).
Os anos se passaram. Fui aprovado em 32º lugar, entre 8.500 candidatos, no concurso para o Tribunal de Alçada Criminal/RJ, em 1991; obtive duas graduações e um título de especialista; tenho 8 livros publicados; escrevo artigos para os mais conceituados periódicos do meu segmento; faço parte do corpo de instrutores de várias escolas de governo e instituições de ensino prestigiadas.
Acho que minhas preces foram atendidas em grau muito superior ao que esperava e merecia.
Quando me apresento em um evento de capacitação; quando publico artigos técnicos; quando posto conteúdo nas redes sociais; quando respondo (graciosamente) a consultas formuladas pelos meus seguidores das redes sociais, o faço com o sincero desejo de contribuir para que as pessoas possam saborear a mesma felicidade que hoje eu tenho com a minha profissão
Onde vou tenho sempre uma coruja comigo. Ela está viva, tatuada no meu corpo, para me lembrar de onde vim, onde cheguei, e imaginar até onde posso chegar.
Se eu consegui, você também conseguirá!
Advogado inscrito na OAB/PR
3 aParabéns Professor. A minha história é semelhante a sua. Nunca desisti, assim como você. Sempre acreditei no conhecimento e que ele me faria uma pessoa melhor. Sou filho de ensacador (conhecido por chapa) e auxiliar de serviços gerais. Agradeço a Deus por tudo que tenho, principalmente, por ele não ter me deixado desistir. Um abraço.
Assistente administrativo na JC Cunha Com Serv Inst Eq. Tel. Ltda
3 aParabéns Prof. Luiz. Muito linda a história de superação. Graças a Deus você venceu e conta sua história agora para que todos vejam que temos que correr atrás dos nossos sonhos.
Empresário Contábil
3 aInspirador Professor, o que mais me admira é vossa humildade, tive duas oportunidades de questiona-lo sobre duvidas que estava no momento do meu labor, e o Sr de prontidao me deu as respostas para elas. Parabens pela história de vida.
Recepção/Secretariado/Telemarketing/Auxiliar Administrativo /Atendimento ao cliente-Farmácia.
3 aParabéns pela trajetória de sucesso e parabéns por não desistir.
Coordenadora de Licitações
3 aMuito legal professor. História linda. Superação e determinação. Parabéns pela trajetória de sucesso!