Um pouco de ar
Vivemos um período complicado.
Para muitos, a ansiedade tem sido algo difícil de domar.
Para outros, as restrições de movimento e a impossibilidade de interagir com outras pessoas são os vilões, mas, que no fundo, desembocam nela, a tal ansiedade.
Bem, eu não estou aqui para falar da ansiedade, mas de um dos seus efeitos colaterais, a falta de ar e o quanto isso tem me chamado a atenção sobre como é importante respirar.
Parece óbvio, mas, me dei conta de que poucas vezes eu me preocupei com isso.
Para quem medita, a respiração é a base de tudo. É nela que o indivíduo encontra o caminho para o seu eu.
Para os esportistas, respirar é algo que faz parte do seu treino, precisa ser executado em consonância com os movimentos que realiza.
Para os cantores e atores, respirar corretamente dá as condições para alcançarem aquela nota mais difícil ou a entonação precisa de uma frase ou palavra.
Pensando nas muitas restrições e riscos aos quais estamos expostos, atualmente, me parece, às vezes, que tudo têm como alvo principal, nossos pulmões ou nossa capacidade de respirar.
Como já é sabido, o Sars-CoV2 atinge, na maioria dos casos, o sistema respiratório. Além dele, uma grande parte da população está trancada em suas casas e, em muitos casos, com ventilação precária, em cômodos apertados ou com pouca luz solar, o que, normalmente, torna o ar insalubre. Outro fator que colabora com essa sensação é o uso de máscaras todas as vezes que é preciso sair de casa.
Esses, entre outros fatores menos comuns, são aspectos físicos das restrições impostas pela pandemia da Covid-19.
Mas existem outros fatores, não físicos, que também têm causado essa sensação de sufocamento, como por exemplo, a percepção de que a doença se aproxima de nós, já que, há pouco tempo, apenas ouvíamos falar dela em uma terra distante, mas agora, ouvimos de nossos vizinhos, parentes, amigos ou familiares a notícia de que alguém foi afetado. A sensação de que vivemos um período onde extremos são mais comuns que o ponto mais próximo do centro, portanto, mais equilibrado; onde as diferenças sociais saem das sombras e confrontam nossa indiferença ou ignorância a seu respeito; onde crises políticas nos fazem querer perguntar: “eles não vêem o que está acontecendo com o mundo? Não se deram conta da gravidade do problema?” Onde manifestações em vários lugares causam aglomerações, tumultos, bombas, fumaça; fumaça que impede, exatamente, que respiremos direito.
Enfim, tudo isso, de um modo ou de outro, aumenta nossa ansiedade e, por consequência, nossa dificuldade em obter o ar.
No entanto, a vontade de superar as adversidades ainda está lá, batendo forte no peito e a certeza de que o sol vai nascer amanhã, novamente, renovam a esperança de dias melhores.
Superar os problemas e ver as oportunidades além das dificuldades é algo intrinsecamente humano. Assim como respirar faz parte da nossa existência, desde que nascemos, superar adversidades também é uma capacidade que nos acompanha desde que “pusemos os pés” neste mundo. Desde a tenra idade fica clara nossa vocação para a vida e, ao longo dela, tentamos defendê-la a todo custo.
E se a vida é tão importante, precisamos lutar pelo direito, que qualquer pessoa tem ao ar, seja essa pessoa, de qualquer cor, credo, classe social, preferência política, torcedor de qualquer time... não importa! Precisamos estar atentos para que nunca tenhamos que ouvir, novamente a frase: “não consigo respirar!".
Davi Andrade - RJ, 04/06/2020
Fundadora do Bem falar
4 aBelo texto, estamos em processo de revisão, renovação.