Um pouco do MUITO sobre a Petrobras - Definição de Preços
É importante e necessário dizer que, a política de preços adotada pela Petrobras não decorre de uma decisão propriamente econômica, mais sim de ordem de gestão/administração, relacionada a área de Pricing, (que tem como um dos objetivos definir os preços dos produtos e/ou serviços).
Hoje faz uma semana do anúncio da demissão do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, no seu lugar assumirá o general Joaquim Silva e Luna. O conselho aprovou seu nome e o afastamento de Roberto, que deverá acontecer após dia 20 de Março.
Existem muitas teses acadêmicas, e todas muito boas, que defendem e mostram diferentes tipos e abordagens de como a Petrobras deveria estabelecer os preços de seus combustíveis. Ao ler essas principais teses, e diante da minha visão e experiência enquanto administrador e consultor empresarial, farei um breve relato da situação, exemplos internacionais e por fim, como poderemos agir para que a melhor técnica de Pricing seja benéfica e rentável a Petrobras, ao governo e a toda sociedade.
Situação, como chegamos até aqui
· Em outubro de 2016 a empresa anuncia uma nova política de preços: o alinhamento aos preços internacionais. A paridade com o mercado (PPI) somada a margem de segurança (preços de fretes, taxas portuárias, volatilidade do câmbio e impostos) define que não haverá preços abaixo ao estipulado nesta paridade.
· A periodicidade dos ajustes do preço nas refinarias passa a ser executadas, no mínimo, uma vez ao mês.
· A Petrobras afirma, ao explicar a nova política adotada, que a decisão de sua exposição se deve ao mercado internacional, através do aumento do volume de importações no mercado interno além da característica sazonal do petróleo.
· A Petrobras considera seguir os preços das commodities petróleo (cotação internacional), não só nas exportações, mas no processo de distribuição e vendas para o Brasil.
· Em junho de 2017, aprova-se uma revisão na política dos preços permitindo a flexibilização da periodicidade de ajustes, que antes se dispunha até de forma diária. Esses ajustes deveriam permanecer no intervalo de -7% a +7% e conforme a margem de segurança, sem mudanças nos fatores anteriores. A justificativa da escolha parte da insuficiência da política de assegurar toda a volatilidade do câmbio e cotações internacionais, além de inserir competitividade no setor.
· O alinhamento, de preços com a estrutura de custos e de acordo com a oscilação internacional, permite, segundo a Petrobras, uma maior transparência não só aos investidores, mas também aos consumidores. Ajustes predeterminados são uma forma de sinalizar ao mercado (financeiro) a acomodação de expectativas (preços altos sempre) e decisão de investimentos, visto o perfil do setor petrolífero de ser altamente intensivo em capital humano e financeiro que requer longo prazo de maturação.
Exemplo de outros países
· Ao analisar, a política de preços dos combustíveis (entendam decisão de preços) de 43 países: 11 da África, 7 Ásia/Pacífico, 7 Europa, 11 Oriente Médio, 7 América Latina, podemos ver que 73% deles tomam suas decisões de preço, princing, considerando inúmeros outros fatores que não sejam, de forma majoritária, as oscilações internacionais do preço do Petróleo, isso os deixam menos voláteis as variações cambiais e cotações estrangeiras.
· Países como Chile, Peru e Tailândia, dentre outros, utilizam um fundo de estabilizações de preços de combustíveis, com o objetivo de criar regras vinculadas à extensão do choque de preços e à variância dos preços, de forma que: caso exista elevação no preço do petróleo internacional, o fundo recolhe impostos que o faz repor as perdas da companhia sem ter que aumentar os preços aos consumidores no período de baixa. E caso redução no preço dos combustíveis, na cotação internacional, as companhias em seus respectivos países, não tem a necessidade em baixar muito o valor dos combustíveis no mercado interno, de modo que esse fundo renda para compensar também no período de alta.
· Na Tailândia, por exemplo, o país é produtor principalmente de gás natural – que abrange 70% do consumo, enquanto apenas 20% da demanda de petróleo é produzida internamente, o refino é doméstico e os derivados exportados. O preço é controlado por meio do fundo de estabilização, isenções fiscais e impostos. O fundo é descrito como uma reserva de prevenção da volatilidade de preços, além de ser uma fonte de subsídios e de estímulo ao consumo de fontes nacionais.
O que podemos aprender diante de nossas experiências
1) Os impostos federais e estaduais, que correspondem a 43% do preço final dos combustíveis – gasolina, diesel e GLP, deveriam ser revistos em uma reforma tributária que deveria ser feita através de um regime progressivo de tributação: aumentemos os tributos sobre altos lucros, dividendos, renda, heranças e propriedades para diminuirmos tributos sobre investimentos e bens de consumo. Não é justo termos a mesma margem de tributação de quem recebe R$ 12 milhões de lucros, por ano, com quem fatura R$ 1 milhão ao ano.
2) O Brasil deveria fazer seu “fundo de estabilização de preços de combustíveis” para evitar percas de impostos na volatilidade dos preços do petróleo no mercado internacional. Com isso, os combustíveis teriam preços menos oscilantes e maior estabilidade, principalmente para a categoria dos caminhoneiros, consumidores e indústria.
3) A diretoria da Petrobras junto com a ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis -, que inclusive tem esse entendimento de forma mais avançada, deveria formar um departamento de Pricing da Petrobras. Isso definido durante a elaboração do Planejamento Estratégico e o Plano de Marketing, a fim de considerar os interesses todos os stakeholders (partes interessadas: refinarias, distribuidores, revendedores, governo, investidores e principalmente consumidores) na formulação dos preços e não apenas aos interesses dos acionistas (que se preocupam com resultados a curto-prazo).
4) A Petrobras é pública, portanto, ele deve considerar os interesses da sociedade brasileira e do Brasil ao formular seus preços, Pricing. Seu mercado principal é o nacional, não é justo pagarmos um preço que segue uma volatilidade internacional – em mercados concorrenciais ao nosso, com países diferentes economicamente em renda per capital, sofisticação da indústria e riqueza monetária.
5) O presidente ou a presidente da Petrobras não deveria ser nenhum general e nem profissional ligado ao mercado financeiro, mas sim profissional de carreira da companhia. São eles os melhores profissionais a tomarem as decisões mais assertivas para o alcance na missão da Petrobras que é: atuar na indústria de petróleo e gás, de forma ética, segura e rentável, com responsabilidade social e ambiental, fornecendo produtos adequados às necessidades dos clientes e contribuindo para o desenvolvimento do Brasil e dos países onde atua.
6) A Petrobras deveria voltar, a ter um papel relevante, como teve nos períodos do presidente Lula e Dilma, em fazer parte de um projeto de desenvolvimento da indústria nacional no setor de petróleo e gás, e de toda sua indústria de capacitação humana, novas tecnologias, construção de sondas, plataformas de petróleo, prospecção e extração em alto mar e etc.
7) Toda vez que a Petrobras vende uma refinaria ela está desperdiçando um “laboratório de especialização em qualidade de produto”, simplesmente ela está dando “o tesouro para o pirata”. Refinaria vem de “refinar”, refinar o petróleo cru para derivados de modo que, quando vendido ao exterior, por ter alto valor agregado, seus preços tendem a serem mais elevados contribuindo assim para o aumento da receita da companhia.
Conclusão
Estamos apequenando a Petrobras por falta de gestão e em fazê-la ser útil apenas aos acionistas, que se preocupam apenas com lucros a curto prazo, o que não ajuda a criar inovação que depende de tempo e pesquisa. (Obs.: A Petrobras, após intensa pesquisa oceânica, supunha que pudesse ter pré-sal em alto mar do Brasil. A companhia então chamou a holandesa Shell para dividir os custos de perfuração e extração do petróleo, ainda ficou combinado que, se encontrassem petróleo, ambas iriam dividir os lucros de sua comercialização. Porém, a companhia Shell, com seu pensamento curto-prazista, não quis dividir esses custos da perfuração e a Petrobras a fez sozinha, o que a deu a oportunidade de descobrir e extrair o primeiro poço de pré-sal no Brasil).
Portanto não é questão de decidir quem vai ser o presidente da Petrobras apenas, mas sim decidir como se dará sua gestão, junto com governança corporativa, de uma companhia das mais valiosas do mundo, e que temos a oportunidade de desenvolver boa parte da indústria nacional, com foco em energia limpa (solar, eólica e hidrelétrica), Brasil é um dos países mais ensolarados do mundo. É por isso escrito, nesse pequeno texto informativo e provocativo, que podemos concluir que: precisamos de um plano nacional de fortalecimento da Petrobras em benefício do Brasil atrelado a boa gestão de seus negócios, ADMINISTRAÇÃO.
P.S.: Alguns clientes e pessoas me pediram para escrever sobre o que ocorre com os preços dos combustíveis que faz gerar tanto debate e desavença junto com a Petrobras, espero ter ajudado a orientá-los para enriquecer esse debate.
Consultor Empresarial | Especialista em Gestão de Negócios | Mestrando em Administração | Estrategista | Leitor Voraz de Livros de Gestão e Economia
3 aMarcelo Gasparino da Silva - CCAe/IBGC
Consultor Empresarial | Especialista em Gestão de Negócios | Mestrando em Administração | Estrategista | Leitor Voraz de Livros de Gestão e Economia
3 aAlberto Zicker