Um Sistema de Custeio de 1900. Em 2016? Pode?
Quantos Sistemas de Custeio a sua empresa utiliza? Normalmente, a resposta será UM. Desconsidero as empresas que ainda nem conseguiram implantar um sistema mínimo de custeio.
Vivemos um paradoxo bem engraçado. De um lado, uma avassaladora máquina tecnológica digerindo operações, dentro e fora das empresas. Do outro lado, práticas de gestão ainda calcadas em procedimentos usuais antes de 1994 (final do ciclo inflacionário e início do ciclo realmente competitivo).
Eu sei. Os ERPs, WEB, ferramentas tecnológicas especialistas, Frameworks e novos gurus criaram um novo mundo.
Mas, este novo mundo também trouxe uma série de novas armadilhas.
A primeira armadilha é aceitar que as novidades do novo mundo (já exemplificadas) trazem TODA a inteligência em gestão empresarial embarcada. Falta muito chão para isto acontecer, de forma simples, prática e ao alcance de empresas medianas (Eu sei. Inteligência Artificial, IoT, Blockchain, Analytics, Bitcoin, Cloud para tudo e outros já estão por aí, mas quantas empresas utilizarão com facilidade tais objetos em 5 anos?).
A segunda armadilha é a sensação provida pelo aprendizado de tais objetos de inovação (como exemplo, transações do ERP) e concluir que está atualizado e totalmente capaz em realizar gestão empresarial (Santo pai, quantos jovens já presenciei com esta áurea de saber)! O referencial implantado e operado passa a ser o mais moderno!
A terceira armadilha é o Benchmarking. Se o outro do meu segmento que está mais avançado/organizado faz, entendo que eu deva fazer também! Caramba, sem fugir do tema, me digam onde estão os ensinamentos básicos de estratégia empresarial, disponíveis há décadas? (desconsidero novos gurus que colocaram nova roupagem em práticas de administração já consagradas, mas pouco conhecidas pela massa).
Enfim, poderia relacionar dezenas de armadilhas, mas ficarei por aqui.
Para o leitor que chegou até este ponto, uma questão já sobressai: Qual a relação destas armadilhas com SISTEMAS DE CUSTEIO?
Vamos lá.
A correlação direta da primeira armadilha (inteligência embarcada) é que normalmente os produtos de tecnologia (a maioria) acabam ofertando o que realmente é comprado e utilizado pelo mercado. A novidade é usar o obsoleto com mais facilidade!
Como a maioria dos empresários e gestores ainda adotam práticas clássicas de apuração de custos, precificação de produtos/serviços e outras, TODA a inteligência em gestão de custos disponibilizada fica bem limitada.
Normalmente, as empresas utilizam UM SISTEMA DE CUSTEIO para atender às exigências legais, contábeis e societárias. As demais áreas, SEDENTAS de REQUISITOS DE INFORMAÇÕES diferenciados dos contábeis / fiscais / legais se viram com outros artifícios ou planilhas mirabolantes.
Eu sei (novamente). A disseminação da informação e das diferentes formas de processamento foi bombástica nos últimos 20 anos. Acompanhei esta evolução na academia e nas empresas.
Um bom teste, é tentar convencer um grupo de gestores a trabalhar em gestão empresarial com dois ou três referenciais integrados e confiáveis de gestão de gastos (dois ou três sistemas de custeio...). Este teste denotará o nível de maturidade em gestão empresarial do grupo em pauta.
Portanto, os produtos tecnológicos (maioria) são limitados na oferta de múltiplas formas para processar informações sobre GASTOS. O usual é ficar no mundo do Sistema de Custeio por Absorção (custos diretos e indiretos), com apenas 120 anos idade! Quando o produto é mais encorpado, já permite a utilização dos Sistemas de Custeio Variável e Padrão (Variável com mais de 85 anos e Padrão já batendo nos 70!).
Poucos produtos contendo gestão de custeio voltada para objetos empresariais.
A segunda armadilha decorre da primeira.
Se aprendo a desenhar e só tenho lápis da cor azul, tudo será azul e o meu mundo perceptivo também! Mesmo utilizando um ERP de milhões de dólares, o mundo de custeio será azul! O BI será azul! A gestão dos gastos de TI, Logística, comerciais, de marketing e da Produção serão azuis! As dimensões do Balanced Scorecard-BSC que demandem KPIs oriundo de valores de gastos serão azuis! E os Orçamentos? Azuis!
A maioria satisfeita com um mundo de duas dimensões "azul" (só altura e largura, sem profundidade)!
Mesmo em 2016, não consigo entender como um empresário (normalmente talentoso no que fez e faz – por isso ganhou dinheiro e sobrevive até hoje) não percebe que a dinâmica funcional de uma empresa possui diferentes cores! Como eu posso definir que o custeio contábil / fiscal / legal serve para a gestão comercial? TI? Logística? RH? Meio-ambiente? Qualidade? Produção? Projetos? Já presenciei muitos conflitos entre as áreas e o principal pomo da discórdia estava baseado nesta ausência de apuração diferenciada, além das demais picuinhas de poder departamental!
Processar dois ou três SISTEMAS DE CUSTEIO, realmente, custa recursos adicionais. Mas, quase ninguém da direção consegue aferir (prototipar / simular) os efetivos ganhos que serão gerados! O raciocínio fica no desembolso a ser feito e não na amplificação do conhecimento e do saber da rentabilidade verdadeira! Os recursos são CONSUMIDOS por diferentes objetos e os gestores ficam atolados em sistemas de 120 anos e fluxos de caixa, vendo apenas entrada e saída de recursos financeiros, gastos por área, citando apenas alguns dos pontos que limitam! Não percebem a manada de elefantes passando, representada pelas perdas, retrabalhos, omissões e até mesmo pela não integração com marketing! Gestão de Gastos é Estratégica!
A terceira armadilha é o bechmarking.
Também acaba sendo decorrente da primeira e da segunda já expostas, mas com um “tempero especial”.
Se comparar com os melhores do mercado e os melhores de outros mercados, com a sábia análise de diferenciar o que serve e o que não serve, sempre será saudável. Mas, cada empresa possui (deveria) uma proposta de atuação mercadológica diferenciada.
Portanto, se o foco é inovação e a concorrente - objeto de comparação - atua bem em agilidade, os compostos de gastos nas funções empresariais SÃO DIFERENTES!
As premissas de requisitos de informações serão DIFERENTES! Copiar por copiar fundamentaliza a miopia em gestão!
Se o concorrente utiliza um Sistema de Custeio por Absorção para tudo, não significa que também seguirei o mesmo procedimento!
Em linhas gerais, se atuo como gestor responsável por um negócio, adoraria saber que o meu principal concorrente ou melhores empresas do meu segmento utilizam somente um SISTEMA DE CUSTEIO de 1900!
Quanto poderia ser feito em Táticas Mercadológicas, por conhecer muito mais sobre os objetos empresariais que os demais!
Imagine o atual mercado (e o futuro em 5 anos), com empresas exponenciais e com as disrupturas à céu aberto! Pior ainda, se tais empresas ainda usam “os velhinhos legais de custeio”! Sei que as estruturas orgânicas, os processos e sistemas são diferenciados, mas...
Mas, mesmo sendo empresas avançadas, CONSOMEM RECURSOS e...OS SISTEMAS DE CUSTEIO a serem utilizados deverão emular as funcionalidades e restrições de margens de lucro destes novos ambientes!
Recomendo a leitura de outros 3 Posts recentemente publicados por mim no Linkedin e que detalham diversos conceitos abortados aqui:
PREÇO - LUCRO = GASTO Como esta equação funciona na sua empresa?
Gestão Estratégica de Rentabilidade - Produtividade -Texto 1 de 2
Gestão Estratégica de Rentabilidade - Produtividade -Texto 2 de 2
Obrigado pela especial atenção!
João Ruiz
Consultor | Posicionamento Estratégico | Ensino e realização da verdadeira Rentabilidade de produtos e de serviços.
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ruizbusidesigner@gmail.com
A
8 aTexto muito lúcido, que revela grande conhecimento do que é realmente vendido como melhores práticas embarcadas nos ERP. Muitas vezes a melhor prática não é a melhor, apenas uma fácil de implementar e de vender.