Uma Vida Profissional
Uma vida não basta ser vivida. Ela precisa ser sonhada.
Mário Quintana
O princípio: estudante de economia na UFMG e, quase que, simultaneamente, fiscal em uma autarquia federal - SUSEP.
Enquanto os estudos prosseguiam, o trabalho na SUSEP se projetava de uma maneira perfeitamente previsível: estabilidade garantida, sem desafios, sem grandes motivações, tendo como principal estímulo a contagem do tempo que faltaria para eu me aposentar.
Pensei: fazendo isto, estarei contando a minha morte, a vontade de envelhecer rapidamente, de não viver a vida agora. Como imaginar que serei feliz somente após a minha aposentadoria que virá junto com a velhice? Será que serei capaz de viver somente na expectativa do futuro? Uma longa espera passiva? Uma enfadonha contagem regressiva de tempo, torcendo para chegar logo aos sessenta anos e então, viver?
Diante desse quadro, me ocorreu o seguinte dilema: continuar embarcado naquela canoa modorrenta, porém segura, ou seguir o meu instinto, ir à busca de desafios que valessem à pena ser vividos?
Com 22 anos de idade optei pelo desafio, pelo risco, por aquilo que me fazia sentir vivo. Continuei os estudos enquanto me despedia do serviço público.
Tornei-me um empreendedor. O sonho de atuar no comércio de moda se materializou e cinco anos após eu já era proprietário das três melhores lojas de roupas masculinas de BH. Tempo de realizações e alegria.
Aos vinte oito anos, com o negócio estabilizado, realizado com o que tinha conseguido, eu sentia a falta de uma nova motivação. Eu não me enxergava como alguém que iria simplesmente manter os negócios daí pra frente e viver confortavelmente. Queria alçar novos voos, novos desafios.
Uma viagem a São Francisco (EUA) foi o que me bastou para descobrir um mundo novo, muito maior e mais fantástico do que aquele que eu conhecia até então, e para definir que eu queria partir, mudar de vida.
Como eu sempre tive um olho para a moda e outro para desenvolver conceitos baseados na estética e no comportamento, Paris me pareceu a opção óbvia de local de mudança.
Com dinheiro no bolso, confiança e energia total, eu me senti pronto para uma nova vida, para viver novos desafios, acumular novos conhecimentos e usufruir o que o mundo poderia me oferecer de melhor.
Naquele momento, eu tinha um objetivo e uma grande curiosidade: o objetivo era me tornar um criador de moda e a curiosidade era descobrir qual era a mágica ou o processo que determinava a moda. De onde ela nascia? Como nascia? Da cabeça de quem? Seria tudo simples assim? Para responder a estas perguntas eu me matriculei naquele que me pareceu ser o melhor curso de design de moda em Paris (ESMOD) e, durante dois anos eu me dediquei aos estudos.
Além das respostas que procurava, consegui mais: paralelamente aos estudos, devido a um trabalho que eu desenvolvia para uma empresa brasileira, eu comecei também a enxergar como se faz a difusão da moda. Puro marketing. Então, matéria nova para mim, entrou na minha vida através das pesquisas que eu tinha de desenvolver para o meu trabalho e que, rapidamente, procurei entender melhor pela leitura de Theodore Lewitt, Kotler, Al Ries e Jack Trout. (Posteriormente, no Brasil, eu completei a minha formação em marketing em um MBA na USP).
Os três pilares da moda - criação, desenvolvimento de produto e marketing - sempre estiveram interligados. A assimilação da visão ampliada da moda somada à minha formação acadêmica em economia me transformou em um profissional mais consistente. Este conjunto passou a exercer uma importância fundamental na minha carreira.
Na volta ao Brasil, eu me defrontei com uma situação totalmente diferente daquela que eu acabava de vivenciar em Paris. Embora, à época, o país oferecesse muitas possibilidades de crescimento, este ramo era extremamente carente em criação, desenvolvimento de produtos e gestão de marca.
Culturalmente, em minha opinião, a capacidade de se gerar uma identidade de moda brasileira era nula. Não havia o ambiente propício para se criar aqui um movimento cultural como a “Semana dos anos 20” – o movimento antropofágico que transformou a pintura e a literatura da época no Brasil. Também não havia aqui nem o ambiente nem a conjunção de forças extraordinárias como as que, nos anos 60, resultou na Bossa Nova. Éramos e talvez sejamos até hoje colonizados nesta área.
Apesar de ter trabalhado os quatro primeiros anos em design e marketing da moda, o fato de não ter encontrado no Brasil as condições que eu imaginava para desenvolver o meu trabalho, fez com que eu deixasse a criação e me lançasse ao outro lado da moda – os bastidores: a parte racional, sem emoção, despida de vaidade – o fashion business.
Para isso, eu agreguei à minha visão macro da economia, mais a experiência em criatividade, desenvolvimento de produto e marketing, o conhecimento de management através de um MBA sobre Varejo na USP e de um curso de extensão sobre finanças na FGV.
Assim, tornei-me um consultor eclético. Embora com maior especialização no varejo de luxo, eu me capacitei para atuar em um campo de ação mais amplo.
Empresas do segmento de decoração, perfumaria, calçados, acessórios e outras passaram a fazer parte do meu portfólio de serviços prestados.
Naquele momento, eu sentia que estava ajudando pessoas e empresas a compreenderem melhor o mundo da moda e a obterem melhores resultados.
Tive a oportunidade de realizar trabalhos para grandes marcas nacionais, tanto as do mercado de luxo como as marcas populares. Com isto, me familiarizei bastante com as duas pontas do negócio.
Turning Point
Mais recentemente, com as filhas já criadas, me sentindo realizado com o trabalho que desenvolvi, decidi me proporcionar um tempo quase “sabático”. Eu queria vivenciar formas diferentes de vida.
Mudei literalmente. Fui para uma cidade pequena - longe do tumulto e criei um comércio de subsistência para sentir a dinâmica local e interagir com a comunidade. Eu queria refletir sobre os meus valores de vida.
Foi um bom tempo de reflexão. Pude vivenciar uma série de situações opostas às que eu tinha vivido até então. Foi também uma experiência enriquecedora para mim principalmente no que tange ao aprofundamento do conhecimento do ser humano com as suas ambivalências, contradições, satisfações e necessidades.
Esta experiência teve o dom de me redirecionar no trabalho. Até então, o meu foco estava voltado para as empresas. A partir desta experiência eu me voltei para as pessoas.
O motivo? Porque são elas que fazem as empresas. Mais importante que isso, elas que têm de cuidar de si próprias – e, às vezes, dos outros também. As empresas, prioritariamente, tentam cuidar dos seus acionistas.
Gestor de Tecnologia e Operações | Gestor de Comércio Eletrónico | Gestor de Produtos Digitais | Gestão da Inovação | Transformação Digital
7 aParabéns Ivan Ferreira Filho, ótimo texto e uma história de vida inspiradora!
Gerente Administrativa Financeira | Contábil | Financeiro | Compras | Comex
7 aParabéns pelo texto. Os profissionais precisam destes incentivos dia a dia.
Marketing| Comunicação |Eventos Corporativos| Patrocínios| Brand Experience| Planejamento e Estratégia de Eventos| Gestão de pessoas| Experiência do Colaborador| Experiência do Cliente
7 aParabéns pelo texto! Muito bom!
Gestão e Engenharia
7 aÓtimo texto Ivan Ferreira Filho. Vai de encontro com algumas convicções e objetivos que reflito para meu futuro. Vamos aprofundar uma ideia que me veio à cabeça estes dias. Nos reunimos no meu retorno. Abraços.