Validação de Limpeza na Indústria - Detalhes do Processo (Parte 2)
Na Parte 1 do artigo sobre Validação de Limpeza, descrevi quais eram os princípios que recomendo serem levados em consideração para que a execução, tanto no processo quanto nas linhas de envase, fosse considerada eficaz.
Nesta segunda parte, abordarei nas etapas subsequentes sobre quais são os pré-requisitos, a seleção dos parâmetros e como realizar a execução na prática para que se obtenha um relatório final robusto, refletindo todos os aspectos abordados, à prova de não conformidades e que dê confiabilidade no seu processo.
Antes de avançar, gostaria de fazer uma ressalva: a equipe da Qualidade reúne as informações, porém é essencial que um time multidisciplinar seja criado, para que nenhum ponto deixe de ser abordado; além do que, no momento da tomada de amostras, as linhas e processos deverão estar parados, por isso todos os responsáveis devem estar cientes. A equipe pode ser composta pelos times de Engenharia/Processo, Manutenção, Fornecedores, Manufatura, Planejamento, Desenvolvimento de Produtos, se necessário, e Laboratório, se externo. Por isso, planejamento é a palavra chave.
Relembrando algumas definições importantes (e que comumente geram dúvidas): validação, monitoramento e verificação, assim será mais fácil desdobrá-las detalhadamente mais adiante:
Validação: consiste na obtenção de evidências de que o processo de limpeza é eficaz. Nesta etapa, é necessário provar que o processo determinado seja reproduzível obtendo os mesmos resultados, mesmo sendo executado por outras pessoas.
Monitoramento: refere-se às medições de rotina e que servem como indicadores de que o processo esteja em estado de controle (parâmetros: pressão, vazão, tempo, temperatura, etc.).
Verificação: significa confirmar que processo de obtenção de evidências de que os processos de limpeza e desinfecção estão em conformidade com a documentação, ou seja, revisar o procedimento de validação, após um determinado período (ex anualmente) ajustando-o, considerando eventos e mudanças ocorridos durante este período.
Agora que as definições foram abordadas, seguiremos para as etapas do processo de Validação de Limpeza e Sanitização:
🌟 Pré Requisitos:
Apesar de muitas vezes negligenciada, esta é a etapa mais importante da validação, pois com este mapeamento você poderá entender quais serão as vulnerabilidades existentes no processo como um todo e como endereçar para que sejam sanados, ou em último caso, mitigados.
Consiste em revisar e verificar o processo produtivo e as etapas de limpeza e sanitização. Em termos práticos, se recomenda: levantar os diagramas de processo produtivo e de limpeza e sanitização, listar os componentes e parâmetros de processo, duração do tempo de produção e limpeza e finalmente identificar os potenciais locais mais difíceis de limpar, e que sejam potenciais pontos mortos.
Ao revisar-se os documentos, será possível entender se o que é descrito na teoria é realizado na prática, e vice versa.
No momento em que se levanta estas evidências, ao mesmo tempo pode-se confirmar localmente se há peças móveis funcionando corretamente (bomba e válvulas atuando), detectar vazamentos, desvios não especificados que resultem em pontos mortos, danos ou outras oportunidades aparentes; além disso, é nesta etapa que se confirma se os medidores de vazão, pressão, temperatura, etc. estão com as calibrações em dia.
Ponto importante: todas estas oportunidades deverão ser sanadas antes de prosseguir para as próximas etapas. Por isso que sempre digo que passar para a etapa de coleta de amostras , análise e obtenção de resultados não é considerado (somente) como processo validado.
🌟 Seleção dos parâmetros
É nesta etapa onde se determinam o tipo de resíduo que deverá ser removido, qual é o produto que é mais desafiador, dentro do portfólio produzido; quais serão os locais de amostragem e finalmente os métodos analíticos utilizados e os limites de aceitação.
E como fazer isso na prática? Selecionando os tipos de produtos que apresentem maior dificuldade de remoção da linha e processo, considerando por mais viscosidade, com cores vibrantes, que contenham ingredientes alergênicos ou partículas, que deixem resíduos químicos e, pensando em parâmetros microbiológicos, que sejam mais suscetíveis à contaminação e/ou que não contenham conservantes.
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Quanto aos pontos de amostragem: evite a todo custo superfícies lisas! Estes locais não trarão informações de o quanto o produto estará aderido na superfície e se o seu produto, ingrediente ou microrganismo de interesse foi corretamente removido.
Aqui estão alguns exemplos: pontos mortos, soldas irregulares (premissa: devem ser refeitas antes de prosseguir com a validação, caso não seja possível, como disse anteriormente, devem ser consideradas no seu plano de pontos a serem validados, até que seja refeito), interior de equipamentos e peças móveis (trocadores de calor, misturadores, bombas, válvulas, conexões), onde ocorram processos manuais de limpeza (limpeza COP), equipamentos que diminuam a velocidade de produtos e de soluções de produtos de limpeza passando por seu interior, limpeza de produtos com baixa Aw.
E que tipos de amostras podem ser consideradas? Swabs (cotonetes) microbiológicos e alergênicos, produto final da produção subsequente e água de enxágue (para este caso, sempre recomendo abrir o trecho em questão, porque esta água residual, oriunda de uma velocidade não turbulenta (falei disso no artigo referente da primeira parte) e pode esconder uma contaminação centímetros atrás do trecho onde se coletou a amostra).
Em resumo, sempre considerando o caso mais desafiador, lembre-se que é nesta etapa em que se deve realizar uma avaliação minuciosa, é preciso conhecer a linha/processo e as suas vulnerabilidades.
O que se pode considerar para auxiliar neste processo? Uso dos sentidos (sem odor, visualmente limpo - pode-se usar videoscópio), coleta matéria orgânica residual (lido por ATP - Adenosina Tri-fosfato), análises microbiológicas, testes específicos para alergênicos, pH, condutividade, resíduos químicos, etc. Uma gama enorme de parâmetros que comprovarão que a validação estará bem suportada.
🌟 Execução da Validação, Avaliação e Monitoramento
Finalmente, a última etapa: a execução da validação. De posse de todas as etapas anteriores bem preparadas (fazendo o paralelo com o ciclo PDCA), a execução parece mais simples, porém é crucial que se tomem cuidados para evitar que as amostras sejam contaminadas. Caso isso ocorra, o ciclo está invalidado, e é necessário recomeçar.
Uma validação bem sucedida é considerada em que três ciclos consecutivos são efetuados com sucesso, sem que nenhum resultado esteja fora do limite pré estabelecido inicialmente. Um deles obteve resultado além do limite máximo? Simples, o ciclo de limpeza e sanitização não pode ser considerado válido.
Parece rígido? Como mencionado no início deste artigo, a validação determinará quais pontos serão considerados na etapa subsequente, de monitoramento, e se não se obtém sucesso neste momento, o estudo deve ser revisto, ações corretivas e preventivas registradas e se necessário envolva um consultor expert no tema, seus pares regionais e/ou globais e seu fornecedor de produtos químicos.
Lembre-se sempre de registrar todos os parâmetros dos ciclos de monitoramento, para fins de rastreabilidade e ações a serem tomadas, além de avaliar tendências.
Por último, na verificação deve ser considerada ser realizada a uma frequência definida (geralmente anualmente), com os mesmos pontos em sua totalidade analisados na validação, e deve ser retroalimentada com mudanças significativas no processo e ou linha de produção (produto mais sensível, transferência de linhas, instalação de novo processo, inclusão de um novo alérgeno, etc). Uma análise de risco deve ser aplicada, e deve ser definido quantas amostras e onde as mesmas devem ser tomadas.
Espero que este artigo seja de utilidade para você e sua empresa. Agora, de posse de todas estas informações, sem desculpas de apresentar no dia da auditoria somente um arquivo de Excel com as análises, combinado?
Fontes:
EHEDG DOC50 - Hygienic Requirements for CIP Installations, July 2019.
EHEDG DOC52 - Basic Principles of Cleaning and Disinfection in Food Manufacturing, July 2021.
STANGA, M. Sanitation: Cleaning and Disinfection in the Food Industry. 1ª ed., Weinheim: Wiley-VCH, 2010.
Coordenadora da Qualidade | Marketing Digital | Social Media | Mãe de 4 Bençãos
1 mEncontrei você ao pesquisar influenciadores em segurança alimentar na indústria alimentícia brasileira. Estou grata por compartilhar conteúdo rico sobre um tema extremamente importante!
CEO of Food Design Group, Chairperson of Food Design Institute. Mentor for Professionals in Food Quality, Food Safety, Food Safety Culture, Food Hygienic Design and P&D&I issues. I trust in collaborative relationships.
2 mExcelente! Parabéns pela publicação 👏🏻👏🏽👏🏿
Farmacêutica Generalista | Controle biológico | Qualidade | Processos | Sustentabilidade
2 mExcelente conteúdo, parabéns! O monitoramento da qualidade do ar é também sem dúvida, um fator crucial, especialmente em ambientes controlados. Como mencionado no texto, a escolha cuidadosa dos pontos de amostragem e a atenção para evitar áreas 'lisas' são aspectos fundamentais para uma validação eficiente, precisa e robusta.
Vendas nacionais na HIGEX
3 mExcelente abordagem e descrição sobre um tema tão importante! Parabéns Beatriz! Eu incluiria aí o monitoramento da qualidade do ar, através de placas de petri e amostradores de ar. Pensando nos problemas que o próprio ambiente pode trazer.
Diretor Comercial e Fundador na RS PVC® LION QUALITY SYSTEM LTDA | Construção Civil
3 mMuito informativo