Valorize a confiança e as emoções: o que aprendi e continuo aprendendo com a pandemia
Tenho refletido muito sobre os aprendizados que tenho obtido no que temos chamado de “nova realidade” ou novo normal.
Do ponto de vista profissional, passei algumas situações para as quais eu não tinha repertório, mesmo com 34 anos de carreira.
Posso dizer que vivi muitas crises ao longo desses anos: confisco de poupança, crise cambial, guerras, impeachment, crise do petróleo, da China, da Rússia, e mais uma infinidade de outras que nem chegaram a receber um nome específico. Apenas as chamávamos de crise.
Trabalhando em RH, essas situações sempre me colocaram no centro nervoso de um furacão amalgamado por demissões, corte de custos, suspensão de contratações, mais reduções, eliminação de horas extras, congelamento de salário, mais reorganização e apertos!
Todas essas ações são elementos conhecidos de um contexto de crise, mas o que fazer quanto a situação extrapola o campo financeiro, transbordando para o que há de mais sagrado para todos nós, nossa saúde?
Do dia pra noite, tivemos que aprender, literalmente, novos mecanismos de gestão, ampliar ao máximo o trabalho remoto, tomar intimidade e ganhar domínio de plataformas até então concentradas com mais vigor em alguns departamentos da companhia, como o Teams, Webex, Google Meeting, etc. Nos acostumamos com uma enxurrada de lives, de treinamentos online - cada um do seu jeito e com sua criatividade - tentando garantir espaço, manter espaço e, dentro do possível, ganhar espaço.
Do dia pra noite, as empresas se viram obrigadas a cuidar das pessoas, com mais afinco e preocupação. Se viram na posição de acomodar, preservar e ajudar as pessoas a cuidarem de si mesmas; de ensinar os funcionários, até mesmo, a lavarem as mãos. Imagina! Mapeamos casos críticos, iniciamos quarentenas, criamos canais de comunicação para as pessoas extravasarem suas dúvidas, em um processo que humanizou como nunca a relação empresa x funcionário. Aproximamos relações que antes eram distantes.
Diante de um futuro desconhecido, as empresas hoje criam protocolos para permitir colaboradores trabalhando de casa, em tempo integral. As companhias aceitam as fragilidades que o home office tem revelado: criança falando, telefone ou interfone que toca, marteladas no apartamento de cima, aspirador no apartamento de baixo, reuniões do companheiro que está no mesmo ambiente que você e que, portanto, também participa contigo dos seus temas da empresa, enfim...home office!
O que aprendi com o home office integral e demais configurações que essa crise nos apresentou?
Algo que talvez já fosse óbvio, mas que ficava escondido, pouco evidente. Confiança é tudo! Confiança é a nossa base, nosso ponto de partida, o cenário, o pano de fundo. Sem ela, não poderíamos supor o trabalho longe dos olhos da liderança, jamais.
Descobrimos que o comando e o controle é uma escolha que empobrece e embota a autonomia. Que as pessoas conquistam sua autonomia e seu empowerment para serem exercidos. Que controlamos porque é mais confortável para nós, mas que no fim, e em primeira instância, somos todos responsáveis, adultos, maduros e não precisamos de alguém nos olhando para cumprirmos nossas atividades. Ao contrário, quanto mais confiança, mais produtividade.
Descobrimos que trabalhamos mais, descobrimos que nos engajamos porque queremos, e também por escolha e opção. Nos engajamos porque fazemos parte e porque queremos que venha o resultado, queremos que dê certo. Descobrimos que menos é mais. Que não precisa de salto alto, terninho ou camisa de seda pra desenvolver bem seu trabalho. Descobrimos que o essencial na verdade não tem preço.
Por outro lado, também descobrimos que o colega do lado faz falta. Que a integração, o cafezinho, as rodas de conversas banais também, que mesmo aquele colega chato, que você desviava quando o via no corredor, fazia parte de um contexto importante, o qual não sabemos quando recuperaremos.
Descobrimos que o abraço apertado, o erro ao contar os beijos em cariocas, paulistas e mineiros provoca saudades.
Não sabemos quando poderemos voltar a beijar, abraçar ou simplesmente dar um bom e forte aperto de mão. O que sabemos é que tudo será diferente se soubermos valorizar as pequenas coisas, identificar o que nos é mais caro e cultivar como a uma flor delicada nossas relações, nossas vidas e nossas emoções.
As emoções nos trouxeram até aqui. É por elas e com elas que vamos sobreviver a todo esse vendaval, que sejam então emoções positivas, construtivas e enriquecedoras, que acima de tudo e por tudo isso, nos permitam sermos pessoas melhores nesse novo normal que só será novo se escolhermos assim e se conseguirmos nos deixar afetar com tudo o que vivemos e presenciamos nesses tempos...difíceis.
Excelente reflexão, Gisele!
Gestão Estratégica de Crédito e Cobrança
4 aExcelente reflexão, Gi! Vc conseguiu captar exatamente o que a maioria está sentindo nesse momento, inclusive a saudade da convivência...rs Obrigada por compartilhar!!
Diretora Jurídica & Compliance | Planejamento Estratégico | Gestão de Riscos & Regulatório | Privacidade de Dados | Auditorias | Mercado de BETs | Eficiência de Operações | Experiência do Cliente
4 aÓtimo texto!
Mentor at Nava Career & Procurement Insights
4 aCara Gisele, Uma ótima abordagem ! Acho que a maturidade pessoal e profissional nos faz mais atentos aos sinais que o mundo corporativo e a humanidade vão nos enviando, contudo, pelo fato fato de estarmos em módulo automático em nossas atribuições é preciso um "gatilho" para provocar uma reflexão e uma mudança de postura. A pandemia da covid19 disparou uma série de inovações e iniciativas que anteciparam tendências. Temos ainda outros sinais muito importantes , como sustentabilidade do meio ambiente, que infelizmente a humanidade só vai acordar com outro "gatilho". Um abraço!
Supervisor de RH
4 aPerfeito!! Confiança é tudo Gi, e o ser humano é um ser completo no trabalho, ele é pai, é mãe, é irmão, tem problemas, derrotas e vitórias, e os gerencia no cotidiano com responsabilidade. Que bela visão!!