Vamos falar de Maid. A minissérie da Netflix.
Dias atrás, vi mulheres compartilhando um comentário de uma escritora brasileira sobre essa minissérie. Depois, por incrível que pareça, um amigo, profissional da saúde, também comentou e recomendou que homens também a assistissem. Fiquei curiosa. O filme fala sobre violência doméstica e mais especificamente, a violência psicológica. Apesar de há muitos anos não conseguir mais encarar longas temporadas, com muitos episódios, vi que eram apenas 10 e resolvi encarar. Chamei minhas filhas pra assistirem comigo, pois o tema é importante. Os primeiros episódios foram mornos pra mim. Li que muitas pessoas iriam se identificar e fiquei a espera de algo mais impactante. O filme aborda a questão de modo suave e profundo. Faz você pensar. A minissérie apresenta uma jovem mulher, cansada dos rompantes do companheiro que bebe, se altera e atira objetos. Sim. Muitas pessoas, se não viveram, certamente conhecem casos semelhantes. É muito mais comum mesmo do que se imagina, na verdade. Convivemos culturalmente, minimizando esses "defeitos", essas "imperfeições." Como se não fossem graves, pois embora machuquem na alma, esta não sangra. As pessoas em sua maioria relevam, pois afinal, a pessoa que comete violência, tem também suas qualidades, como qualquer um dos seres humanos. Infelizmente alguns casos evoluem para outros tipos de violência. É preciso tratar. É preciso buscar ajuda, recorrer aos profissionais de saúde mental. Não porque necessariamente o sujeito seja um doente, mas porque os comportamentos violentos acontecem e eles não devem acontecer. Com ninguém. Particularmente os que me conhecem já sabem que não gosto dos discursos radicais. Nem gosto mesmo dessa eleição coletiva dos bons e dos maus, das vítimas e dos algozes. O discurso radical das feministas também não me representa inúmeras vezes, embora eu seja uma "militante dos direitos das mulheres". Mas também sou dos homens. Sou militante dos "direitos humanos", mas não nesse prisma preconceituoso que repudia quem fala de direitos humanos, por considerar que estes defendem exclusivamente alguns grupos, rivalizando ou desconsiderando outros. Parem com isso por favor. Todos nós devemos ser protegidos e nos protegermos. Encontrarmos meios mais saudáveis para se viver nesse imenso coletivo social. Maid fala com suavidade para todos. Homens e mulheres e mais qualquer outra classificação ou definição de ser humano que queriam. Maid significa empregada em inglês. A personagem principal é uma empregada. Ou, melhor, se descobre empregada quando precisa dar conta de sua vida e da sua filha, ao sair de casa pela condição de violência. Provoca um mal estar, uma angústia, pelo sentimento de desamparo, emocional e econômico vivenciado pela personagem. Alguns pontos positivos pra mim, evidenciados: a questão da maternidade (da responsabilidade e do custo econômico e emocional de ter um filho, que precisam ser pensados e não mais romantizados - o que vale para os homens também) e a importância dos grupos de apoio e de políticas públicas que dêem suporte às vítimas. Os grupos terapêuticos, seja lá por quem sejam feitos na atualidade, derivam dos grupos psicoterapêuticos. Muitos teóricos psis descreveram suas práticas, ensinaram seu know-how. Vejo que temos aprendido. Os grupos de apoio por exemplo como AA e NA, também são exemplos, para tratamento. Não só pela dependência química em si, mas porque ela é derivada também de outras feridas emocionais. Os grupos mais atuais de desenvolvimento humano, destinados aos abusadores, por exemplo, também são exemplo de que eles são necessários e eficientes. Ainda que eles não consigam eficácia de 100% das pessoas, eles auxiliam o desenvolvimento das pessoas e abrem possibilidades para aqueles que se permitem olhar e serem olhados. Cuidar e serem cuidados. Os enfoque da justiça restaurativa, os círculos de paz, de comunicação não-violenta, são estratégias terapêuticas poderosas! Sim, elas auxiliam, promovem, desenvolvem. Os grupos de apoio, as terapias comunitárias, são todas decorrentes da premissa de que podemos aprender e nos desenvolver juntos, nas trocas, nas relações que estabelecemos com os outros, com os nossos semelhantes, sejam eles quem forem. Situados como "vítimas" ou "abusadores". Maid mostra cenas lindas desses grupos, da existência de mulheres acolhedoras, da vivência da sororidade. Não sei como serão as outras temporadas, mas essa foi suave e tocante. Da nossa humanidade. Fala sim, das mulheres vítimas de violência, das sequelas emocionais, dos ciclos de violência, das repetições familiares que se dão pelo aprendizado, pelos exemplos, pelas vivências. Fala sim, da importância de se olhar, de se gostar, de não se sujeitar ao outro, da necessidade de independência emocional e afetiva, que não necessariamente separa ou deixa as pessoas solitárias, mas da independência a que nos permite nos respeitar, respeitar o outro e escolher o que viver. O pai e a mãe da personagem também contribuem para entendermos mais dessa história. Pinceladas de sobre saúde/ doença mental. Tocante também é ver a batalha desta jovem mulher (a personagem principal) que tenta se libertar e cuidar da sua filha (e ainda tentar salvar sua mãe ao final). Fala das dificuldades de muitas mães, de trabalharem, se sustentarem e ainda cuidarem de si e dos seus filhos, sem muito apoio emocional e financeiro. Reitero a recomendação feita por algumas pessoas. Vale muito assitir. Pra mim, emocionante sempre é enxergar o humano, compreendendo sempre suas limitações e possibilidades. Elas são nossas. Elas falam de todos nós. Depois de escutar milhares de histórias com violência, de homens e mulheres , ao longo da minha trajetória profissional, tenho a certeza de que crescemos mais, se nos ajudamos, sempre, a ser melhores. P.S. Vale ainda ainda mencionar que foi feito de livro autobiográfico. Esta jovem mulher descobriu na escrita, na arte, também um meio de expressão e cura. #maid #minisseriemaid #netflixmaid #netflix
Entrepreneur implementing a fully sustainable and regenerative agriculture business 🧑🌾. Chef de Cuisine 👨🍳 Technology Executive 📲 - Instagram: @real.farms
3 aExcelente os pontos e a abordagem em seu texto Karine!