A velocidade do obsoleto

A velocidade do obsoleto

Escrevi este texto faz pouco mais de 4 anos, nas vésperas de completar 36 anos, e nele divaguei sobre como se reinventar após os 30 e muitos anos, em um ecossistema onde a (alta) idade era uma condição de exclusão e sinal de obsolescência. Hoje, aos 40 anos, sinto que pouca coisa mudou, inclusive a vontade (minha e de muitos) de provar que idade é cada vez mais uma condição mental e menos cronológica.

Todo dia eu venho para o trabalho caminhando. Dura em média 20 a 25 minutos, dependendo da velocidade dos meus passos. E, durante este caminho, que eu faço mecanicamente, quase em piloto automático, venho pensando na vida, tendo por base diversos fatores: como foi meu dia anterior, as questões do dia, os sonhos que tive, a trilha sonora que toca nos meus fones. E como poucos de nós costuma ter um raciocínio objetivo e linear (eu com certeza não tenho), coisas completamente díspares costumam encontrar conexões e uma coisa leva a outra sem qualquer sentido.

Você acredita em inferno astral? Eu não sei se acredito. Para falar a verdade, até 2009, aquele ano maldito e alucinado, às vésperas dos meus 32 anos, eu nunca tinha ouvido falar nisso. E vivia muito bom, confesso. Porém, parece que deste dia em diante, eu comecei a ouvir e ler pessoas falando sobre este inferno astral constantemente. Então tá, o que isso quer dizer? Quer dizer que, existindo ou não, hoje eu oficialmente entrei no meu inferno astral. Daqui exatamente um mês (não dá para dizer 30 dias porque fevereiro só tem 28 dias em anos que não têm Olimpíadas) eu farei 36 anos.

Certo, já escrevi sobre pensar enquanto eu caminho para o trabalho e inferno astral, que diabos isto tem a ver com o título (e consequentemente, com o assunto) deste post? Simples, caiu a ficha que estou agora mais perto dos 40 do que dos 30. Caralho, eu nunca nem me imaginava com 30, quanto mais com 40. Mas não dá para brigar com o curso natural da vida, certo? Dá para enrolar um pouco, se rebelar em uma parte ou outra (isso eu faço bem), mas não para impedir esta caminhada rumo ao sei lá o que.

36 anos é uma idade de gente séria, não? Com essa idade meu pai já tinha 4 filhos, um emprego muito bom, uma casa própria e um carro. Com essa idade a maioria das pessoas que eu conheço estão no mesmo caminho. E com essa idade, meu bem (material, meus queridos) mais valioso é uma TV de LED já usada e um monte de CD’s. DVD’s, livros, quadrinhos e camisas de futebol. Nem uma bicicleta eu tenho mais e o meu único meio de transporte, meu bilhete único, está descarregado.

O que é isso? Terapia grátis na Internet? Não exatamente. Na aula de terça no MBA, o professor falou um monte de coisas interessantes e que afetam a sociedade pós-moderna que vivemos, eu uma destas foi a velocidade do obsoleto (olha aí a conexão com o título). Ela é, em curtas palavras, a sensação de que as coisas ficam ultrapassadas rapidamente. As coisas e as pessoas. Mas também que o tempo passa rápido demais, e que muitas vezes você deixa o tempo te atropelar, e quando vê, já era!

Se eu ainda fosse advogado, com 36 anos eu estaria numa idade boa, seria até novo, pois a noção de tempo e tecnologia no mundo legal caminha numa velocidade completamente diferente. Se eu ainda trabalhasse com a área comercial, 36 anos também não seria uma idade ruim, pois lá está cheio de dinossauros.

Mas não, eu resolvi me re-reinventar aos trinta e pouco e vim trabalhar com o que há de mais ágil no mundo: Internet. Vim para uma área que com 30 anos o cara é diretor de multinacional ou agência ou então empreendedor milionário, e eu, com 36, galgando os primeiros passos, virei o dinossauro. Trabalho numa área em que os profissionais nasceram conectados à internet e eu ganhei uma máquina de escrever e fiz datilografia quando criança.

E é isto. Algumas vez é duro lidar com a questão de parecer obsoleto na área em que você pretende trabalhar. É complicado lidar com esta re-reinvenção quando eu já era para estar estabilizado, afinal é isto que a sociedade cobra. E, querendo ou não, a gente se deixa levar as vezes.

Caiu a ficha (ficha? Esse pessoal nunca viu o orelhão de ficha), agora eu sou o cara velho e ultrapassado, o ser superado. A geração X, que derrubou os Yipies e que agora vai ser engolida pela geração Y, afinal é assim que funciona o mundo, não? Não fui eu quem disse, foi Darwin.

Mas Darwin disse outra coisa também: não é o mais forte que sobrevive, é aquele que se adapta. E, se eu quero ser o dinossauro que vai sobreviver à Era do Gelo eu preciso aprender duas coisas: nadar e sobreviver à baixas temperaturas. Então, se a minha Era do Gelo chama-se Internet, vou aprender a viver nela e com ela.

Além do que, desculpem os mega especialistas em alguma coisa, mas uma visão macro do universo é fundamental. E cada uma das minhas existências profissionais me acresceu algo que você só aprende na Universidade da Vida, e que tem o seu valor, por maiores que foram (são?) as feridas.

Demorei cinco anos para escrever este post, mas hoje eu finalmente consegui escrevê-lo. Sim, eu sobrevivi à minha Era do Gelo, aprendi a nadar, aprendi à sobreviver em condições climáticas e geográficas diferentes daquelas em que eu cresci, cicatrizei as minhas feridas, calcifiquei meus ossos quebrados e agora estou pronto para caçar com os demais, em igualdade de condições.

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