VENCEREMOS A IDIOTIZAÇÃO DIGITAL?
Umberto Eco estava certo. A internet deu voz a legiões de imbecis que antes só falavam para meia dúzia de outros imbecis, mas agora agregam multidões. O resultado está aí (e é inimaginável): é mais fácil desenvolver em menos de um ano uma vacina que normalmente levaria uma década do que convencer as pessoas a tomá-la para salvar a própria vida. Debord já havia alertado: o espetáculo de imagens que contaminou a comunicação, a serviço do lucro, transforma tudo o que era vivido em fumaça. Pois cá estamos, em pleno século 21, num nevoeiro espesso que une ignorância, negacionismo, ódio, violência, morte e, claro, lucro para alguns.
A remoção dos perfis em redes sociais do presidente da maior potência bélica do planeta é um sinal desses tempos. Descobriu-se que os polegares de Trump na telinha de cristal líquido são muito mais destruidores que o poder sobre todas as bombas atômicas estadunidenses (tanto que ele continua diante do botão vermelho que pode explodir a Terra várias vezes, mas, “para a segurança da humanidade”, não tem mais os botões do Twitter, do Facebook e do Instagram). Porque (pasmem!) conectado, ele é mais perigoso, capaz de reunir idiotas suicidas para invadir instituições da civilização e destruí-las, algo antes só imaginável em ficções catastróficas como “O conto da Haia”, que projetam um futuro medieval cada vez mais plausível.
Claro que a decisão do Zuck de banir o Trump de seus brinquedos online não é nenhum marco civilizatório. Ele só o fez porque Trump perdeu, virou um entulho que envergonha os EUA em escala planetária. Se o golpe de Estado do Nero Laranja desse certo, certamente ele continuaria com suas contas ativas para teclar e atear fogo na Terra. Porque o espetáculo sempre deve continuar em plataformas onde não importa o que se fala, mas o quanto se gera de engajamento aos conectados (e lucro aos donos das conexões)!
A grande questão é: com o espetáculo potencializado aos milhões de idiotas empoderados pelas redes, onde vamos parar? Acabaremos dominados por clones do Waldo, o lacrante avatar de "Black Mirror", que nada faz (até porque nem existe como pessoa) além de vomitar expressões sarcásticas geradoras de violência pelas redes digitais? Temos aqui, ao nosso lado, um exemplo imenso: o Recruta Zero, incapaz de cognição e raciocínio, mas agregador de uma multidão de idiotas que o amam e odeiam a tudo e a todos. Venceremos esses tempos? Ou o “Conto da Haia” é uma premonição literária?
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3 aQue texto, professor! 👏 Cada dia vivemos um episódio novo de ignorância em massa... Sempre tive em mente que a informação, ainda que verdadeira, quando descontextualizada e má intencionada, já é perigosa, quem dirá essas bombas de ilusão e mentiras, né? Conhecimento de fato é poder, e num mundo cheio de “sabichões” donos da verdade, me pergunto até onde chegaremos nesse ciclo de desinformação e propagação de ódio... Obrigada por compartilhar!