Não é só sua opinião
Na era da comunicação descentralizada e distribuída, em que todos somos um potencial veículo de comunicação com nossos perfis nas redes sociais, virou quase um meme dizer que "É apenas minha opinião" quando esta gera alguma polêmica. Só que nem sempre essa explicação serve! Não é apenas a minha, a sua ou a nossa opinião, pois, dependendo da "opinião", pode ser preconceito, intolerância, até crime. E a justificativa da "liberdade de expressão" não cabe.
Esta semana, o badalado youtuber Julio Cocielo fez uma postagem em suas redes sociais dizendo que o jogador da França Kylian Mbappé, que é negro, "...conseguiria fazer uns arrastão top [sic] na praia". A publicação vem gerando enormes reações e discussões na sociedade (o que é ótimo) e isso forçou até as marcas que investem em campanhas com Cocielo a tomarem atitudes. Itaú e Submarino retiraram as campanhas e a Coca-Cola disse que não tem intenção de investir novamente no garoto (segundo reportagem do G1 do último dia 2).
Ou seja, não é apenas a opinião dele. É muito mais que isso. Não é apenas o direito de ele falar o que pensa, porque ofender, denegrir, caluniar, difamar não é direito. Racismo, além de nojento, é um ato criminoso.
Lembremos que a liberdade de expressar o que pensamos é garantida pela Constituição Federal. Está lá, no artigo 5º, inciso 9º, que "É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação independente de censura ou licença" (uma baita conquista da sociedade brasileira isso ter se tornado lei após 20 anos de ditadura, quando uma opinião emitida poderia gerar censura ou morte). Mas, também está lá na mesma Constituição, no inciso 41, que "A lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais".
Essa "segunda parte" da liberdade de expressão muitos esquecem, ou fingem esquecer. Porque é fácil vomitar intolerância, mas se responsabilizar por elas é uma coisa um pouco mais complicada.
O caso Cocielo, que está longe de ser único, nos mostra uma realidade nova e bem-vinda: a despeito de haver inúmeras bolhas de ódio pelas redes sociais, há grupos relevantes (entre os quais figuram também grandes marcas, cada vez mais preocupadas com a boa imagem diante de seus públicos) que reagem, não mais aceitando o preconceito, nem supostamente com o intuito de fazer "humor".