O museu já estava queimado

O Museu Nacional já estava queimado muito antes de o incêndio consumir 200 anos de história do nosso país. Nós o queimamos, nós como sociedade que não dá nenhum valor à cultura e à memória.

Mais de 90% dos brasileiros não vai a museus e exposições segundo uma pesquisa feita no ano passado pela Fecomercio do Rio de Janeiro. Completam essa trágica estatística os quase 90% que não vai a teatros e os 70% que não leem sequer um livro.

Como pode, neste contexto, um Museu Nacional parar em pé? Como pode um Museu do Ipiranga não ficar sempre fechado para "reformas" que nunca se concluem? Como pode um MAM ser lembrado a não ser por uma polêmica estúpida quando aparece um nu para ativar a vergonha alheia dos fanáticos religiosos?

Nós queimamos a nossa história, nossa cultura e nossa memória todos os dias, quando consolidamos uma nação de ignorantes, um país que sequer sabe usar um dos mais importantes fatores culturais: a própria língua.

Somos os vira latas descritos por Nelson Rodrigues: exigimos inglês e outras tantas línguas fluentes para "bons" processos seletivos e para obtenção de "títulos" de intelectualidade, mas sequer falamos fluente o Português, massacrado-o diariamente até em publicações acadêmicas.

Somos os colonizados afagando os estrangeirismos sem ter entendido nada do que os modernistas quiseram dizer com os "Abaporus" ou os tropicalistas, com "Podres Poderes". Adoramos fazer "selfie" nos museus de Nova York mas, por aqui, apreciamos mesmo os ridículos tiranos que pregam a morte.

Somos os idiotas, também descritos por Nelson, os muitos idiotas que já dominam todos debates e que acendem a fogueira da inquisição do nosso próprio futuro...