Verdade: Meu primeiro contato com o universo das palestras aconteceu ainda na adolescência.
Acredito na educação, no poder das oportunidades e nas relações que nos ajudam a nos tornar quem nascemos para ser. Acredito também que, em alguns momentos de nossa vida, precisamos que alguém veja nossa luz primeiro para que possamos enxergá-la também.
Tive o privilégio de ter essas pessoas em minha vida durante o período de adolescente aprendiz e graças a elas tive a oportunidade de ter o primeiro contato com o que se tornaria uma parte importante do meu trabalho.
O grupo Multiplicadores nasceu como uma alternativa de atividade extra-curricular do programa de aprendizagem, com a proposta de levar palestras e conhecimento sobre temas específicos para alunos de escolas públicas do ES. Cada grupo abordava um tema diferente; o meu era responsável por falar sobre educação sexual e prevenção à gravidez na adolescência. Para levarmos esse conteúdo, passamos por uma capacitação com um time multidisciplinar formado por profissionais de serviço social, medicina e psicologia. O nosso desafio era conduzir essas conversas mesclando seriedade com a nossa linguagem, de forma que o público de adolescentes parasse para nos ouvir.
Foi um período de muito aprendizado! Além do conteúdo técnico e do desenvolvimento da oratória, nascia ali também a minha visão de propósito e a ideia de que era possível deixar o mundo e a vida das pessoas um pouco melhor a partir do nosso trabalho. Descobri com essa atuação o meu amor por compartilhar conhecimento e também pelo trabalho voluntário.
Fazer parte do grupo também mudou minha perspectiva sobre mim. Na quarta série, vi minha primeira colega de turma lidar com uma gestação precoce. Em meu bairro, era muito comum ver meninas de 12 ou 13 anos mudando suas vidas e seus futuros por causa de uma gravidez não planejada.
Em uma das passagens do livro “Nossa luz interior”, Michelle Obama diz que é muito difícil acreditar que algo é possível pra nós quando não temos em quem nos inspirar. E eu concordo com ela. Era muito difícil imaginar uma realidade diferente, quando todo mundo à sua volta está seguindo o mesmo caminho.
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No mesmo período em que estava começando o meu estágio, minha melhor amiga da época se preparava para morar com o namorado. E embora estivesse trilhando um caminho diferente, não tinha em quem se espelhar.
Me juntar àquele grupo de adolescentes que não somente queriam quebrar esse ciclo mas também ajudar outros a quebrarem, me fez aprender sobre o poder de nossas escolhas, mesmo quando elas são completamente contrárias ao contexto.
Ao palestrar para esses jovens, entendi que o trabalho transforma tanto quem o realiza quanto quem é impactado por ele.
O programa de aprendizagem se encerrou em 2006, levaria mais de 06 anos até que eu voltasse a ter a oportunidade de fazer uma palestra, desta vez já formada e iniciando minha jornada de professora de curso técnico.
Sou grata à Kakazinha de 16 anos, que enfrentou o medo e a vergonha, abrindo essa porta para nós.
Kaká, você sabe aquela sensação gostosa de usar nosso conhecimento para contribuir com o crescimento de outras pessoas? A gente vive isso hoje! Já fizemos muitas palestras, mas cada uma delas tem um gostinho delicioso de primeira vez! Tá dando certo, obrigada por sua coragem!