A vez do RH Estratégico (de verdade)
Oi, pessoal, tudo bem? No último post eu falei sobre a Evolução do RH e sobre como as coisas ficaram esquisitas ao longo do tempo, com tantas mudanças de nomes e funções. Prometi que daria dicas sobre como se tornar mais estratégico. Então, vamos a elas!
Para começar, vamos imaginar dois cenários: em um deles, você está assumindo um novo desafio como Analista Sênior de RH. No outro, você é um Gerente que já está sentado há um tempo na mesma cadeira de uma empresa. Em ambos os cenários você consegue se tornar estratégico hoje mesmo. Sim, hoje mesmo, pode acreditar!
Por mais que haja alguns incêndios para este gerente apagar e algumas pedrinhas de gelo para secar e abacaxis para descascar, você consegue ir mudando seu mindset. Para começar, preste muita atenção no seguinte: você é um profissional de RH que está ocupando uma determinada cadeira neste momento. Você não é e não será Analista para sempre, nem é e não será Gerente para sempre.
Parece uma bobagem isso, eu sei, mas garanto que vale muito a pena fazer esta reflexão. Você, que é Analista hoje, está preparado para assumir uma Coordenação amanhã? E você, Gerente, conseguiria assumir a Direção ainda hoje, no final do dia?
Não estou falando aqui do impulso e da coragem para aceitar o desafio, mas sim de estar realmente preparado para dar conta do recado. E, olha, posso dizer sem a menor sombra de dúvida: 99% não está. E não estará. E não será promovido.
Primeiro passo: olhar para si mesmo
O RH precisa se capacitar antes de tudo. Todos nós precisamos ler mais, estudar mais e sim, se ajudar mais. O RH está muito utilitarista; aliás, não só o RH, mas o mundo como um todo.
Esta onda de “serve, não serve”, criada pelos aplicativos de relacionamento, e de “interessa, não interessa”, gerada pelos aplicativos de vídeos, somada à urgência que os smartphones nos trouxeram (tudo tem que ser rápido, pra já) gerou em nós um senso de utilitarismo que beira a esquizofrenia geral.
Você percebe como a gente fica meio irritado se alguém não nos responde imediatamente de acordo com a nossa expectativa? A gente se frustra e pensa, praticamente de imediato, que aquela pessoa que não nos atendeu é um fracasso. Da mesma maneira, quando alguém nos aciona e não respondemos na hora, a gente se cobra e se sente fracassado também.
A internet mudou o mundo e nos trouxe muitas coisas boas, mas de brinde veio um imediatismo nunca imaginado. Se eu não sei alguma coisa, pergunto para o buscador mais famoso da internet e voilà - tenho a resposta em 2 segundos, às vezes menos. Mas, quem disse que esta resposta está certa?
Não há mais maturação ou contemplação. Tenho que ter a resposta agora. Obviamente a internet tem inúmeros benefícios, que vão desde saber o horário da sessão de um filme para ir ao cinema com os amigos esta noite, no shopping perto de casa, a ter, na palma da mão, acesso a todo tipo de conhecimento do mundo inteiro. Mas, profissionalmente, acho que isso nos estragou, e muito. Estamos totalmente fora de controle neste sentido.
Um jovem de 25 anos hoje é head de rh, assim mesmo, sem letras maiúsculas. Na minha opinião, não há musculatura neste profissional. Ainda que tenha estudado nas melhores escolas do planeta, esse cara não tem profundidade, não tem experiência, e não tem network suficiente para ter benchmark. Ou seja, ele tem um discurso pronto, e vai no estilo “tentativa e erro”.
A questão é que ele está mexendo com a vida das pessoas enquanto RH, e com o desempenho e os lucros ou perdas da empresa enquanto Head. Entende, então, como a conta não está fechando?
A mudança efetiva requer ação
É por isso que eu falo sobre a mudança de mindset. Chega, gente! Vamos romper com este hábito de ir ao buscador pesquisar tudo o que seu gestor perguntou para você antes de responder. Vamos parar de acreditar que é palpável e aplicável, à sua realidade, aquilo que diz o guru que acha que sabe algo de RH só porque tem uma empresa unicórnio. Ele provavelmente não sabe nada de RH. Já vi alguns passando vergonha na internet com isso. Apenas pare, hoje mesmo.
Em vez disso, vá ler um livro que abra a sua mente, e invista tempo, dinheiro e energia em uma capacitação de verdade. Aliás, pare de achar que estudar é gastar dinheiro! Se você tem filhos, eles estudam na melhor escola que você pode pagar, não é? Então, por que, quando é você a estudar, qualquer curso de trezentos reais está de bom tamanho? Não, não está sendo, não resolve o seu problema.
Pense comigo: qual foi o último curso pago que você fez? O que você aprendeu? Você gastou dinheiro ou investiu dinheiro? Aplicou alguma coisa que aprendeu? Lembra das aulas? Qual foi o impacto na sua carreira?
Não quero aqui ser a dona da verdade. É claro que podem existir cursos mais curtos e mais baratos que são bons também. Mas, de maneira geral, posso dizer: se puder, escolha fazer uma capacitação robusta, que você perceba que realmente vai fazer a diferença, ainda que para isso você precise apertar as finanças por alguns meses. Vai valer a pena!
O mindset precisa mudar hoje, RH! Agora! Você dá bom dia para todos com quem cruza ao chegar na empresa? Trata com gentileza quem não tem nada para te oferecer? Responde a todos da mesma maneira?
E como você está tratando a si mesmo(a)? Tem cuidado da sua alimentação? Está fazendo exercícios? Tem bebido muito? Fumado? Tem virado muitas noites, seja rolando na cama de preocupação, seja na noitada? Seus exames estão em dia? Seus dentes estão bonitos e bem cuidados? O cabelo está cortado? As unhas estão asseadas? A máxima de que a primeira impressão é a que fica continua valendo, tá?
As dicas que eu der aqui hoje só vão ecoar de fato na sua mente se você estiver disposto a expandi-la. Se não, você não tirará proveito. Me promete que vai cuidar da sua carreira de forma diferente daqui para a frente?
A construção prática do RH Estratégico
Eu sou do grupo que gosta de perguntas, sempre tenho perguntas a fazer. Então, as minhas dicas vão ser baseadas em perguntas que eu faço a mim mesma e aos meus pares, que são líderes, e também para os diretores e presidentes. Mas, antes de começar, a dica primordial é: elabore um descritivo de cargos (DC). Parece bobagem né? Mas sem ele, mesmo que você tenha a melhor equipe de T&D do mundo, nada vai funcionar corretamente.
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Isso porque tudo faz parte de uma grande engrenagem. O Descritivo de Cargos contém as competências de todas as vagas da companhia. Sua área de R&S vai contratar com base nestas competências, que serão as mesmas competências que devem constar numa avaliação de novas lideranças.
São elas que aparecem também no PDI (Plano de Desenvolvimento Individual), fundamental para desenvolver as pessoas. Não dá para dissociar, é preciso ser coerente. Entendeu como sem um DC não dá pra dizer que você tem um RH de verdade?
A importância do Planejamento
A segunda dica é uma pergunta: a empresa em que você trabalha tem planejamento estratégico (PE)? Qual a missão e visão? Os valores da organização estão descritos e são claros? Há registro de qual o propósito da empresa, ou um manifesto?
Minimamente é necessário haver um PE. Neste documento, verifique se há descrição da visão. Está claro onde a empresa quer chegar? Qual o propósito ou intenção da empresa? O que é necessário para chegar lá?
A próxima dica vale ouro, ouro mesmo! E, naturalmente, é mais uma pergunta: que tipo de pessoas precisamos ter na empresa para chegar onde a visão quer nos levar?
BUUUUMMMM... Acertamos no alvo! Que estrutura a empresa precisa ter para turbinar os resultados dos negócios atuais? E para criar soluções? Tem mais: qual o perfil dos líderes que vão conduzir o futuro da empresa? Qual a cultura organizacional que precisamos desenvolver? Como o RH vai medir os resultados de suas ações? Como o RH está se preparando para este cenário?
Veja só, estou literalmente entregando OURO aqui, porque são essas as perguntas que faço nas entrevistas de emprego e nos diagnósticos da minha consultoria. Como sou abusada, vou além: como inspirar as pessoas para entregar (mais) resultado?
Responda a essas perguntas e, aí sim, você se tornará estratégico de verdade! Isso porque é com base nas respostas para esses questionamentos que você vai criar o planejamento do RH, entendeu? “Mas, Letícia, eu sou analista.” Ok! Então, pergunte para o seu gerente se a empresa sabe, se o presidente sabe, se ele se preocupa com isso.
Se seu gerente não te der bola, converse com seus colegas durante o almoço. Quando estiver tomando café com um outro gestor, lance uma destas perguntas, assim como quem não quer nada. Se ofereça para ajudar seu gestor e nunca, jamais, tente passar a perna nele porque sua mente expandiu.
Se for o caso, se você avalia que a sua cadeira está pequena para as suas capacidades e já tentou uma promoção mas foi em vão, considere mudar de empresa. E, quando isso acontecer, não esqueça de fazer para o seu novo empregador todas estas perguntinhas que deixei aí.
Com as perguntas respondidas você conseguirá dimensionar com precisão a equipe necessária e que mudanças organizacionais o RH precisará gerenciar, conseguirá fazer o workforce planning (plano de força de trabalho), que irá te dizer o tamanho que a empresa terá de acordo com os prognósticos esperados ao longo do tempo… Tudo isso e muito mais. Este é um excelente começo de um RH Estratégico!
Vamos às perguntas mais uma vez: como a empresa está comunicando esta visão internamente? Todos estão cientes e imbuídos deste horizonte? Há estrutura física adequada? Há maquinário no RH para comportar as mudanças? O sistema de folha dá conta? Precisaremos de outros sistemas? Se sim, quais são eles? Como é possível atrair novos colaboradores para este cenário? Que tipo de habilidade a equipe do RH ainda não tem e precisa desenvolver?
Com esta forma de pensar, ainda que você seja um Assistente em início de carreira, fica mais claro o real papel do RH. E, olha só que coisa, vai muito além do feijão com arroz que muitas vezes ocupa a maior parte do nosso dia a dia.
Eu sei que a grande maioria de nós hoje enxuga gelo sem parar, apaga incêndios cada vez maiores e fica tirando pedido de vaga, de treinamento e de outras coisas que muitas vezes nem de RH são. Eu sei e já passei por todas estas coisas, e te digo: tem luz no fim do túnel sim. Mas, como eu disse no início, é uma questão de mindset.
Respostas em mãos. E agora?
Percebe como fazer estas perguntas e obter as respostas custou zero reais? Fazer um plano de RH com base nas respostas custa a sua hora trabalhada. Não houve milhões em investimento, mas entregar este plano pode render milhões para a empresa.
Mesmo com estas perguntas, você só vai conseguir fazer o plano se você mudar o seu mindset e parar de olhar somente para o cenário atual. Se você souber como fazer uma apresentação, se você tiver acesso a outras informações para além do RH, se você estiver lendo…
Assinar uma newsletter do Gartner é grátis, e da McKinsey também é. Você nem precisa gastar dinheiro. Tem as pesquisas que as Big 4 também publicam, os CEO Trends e HR Trends. Estas tendências te colocam em contato com o que está acontecendo no mundo! Os melhores conteúdos estão em inglês, mas tem muitos em português também.
O mais importante: faça uma boa capacitação com profissionais que realmente aplicam o que ensinam, e não com aqueles que tentam explicar o que outros fizeram. Lembre-se: você é responsável pela sua carreira. Você está preparado(a) para o próximo nível? O cavalo selado pode passar só uma vez…
Como eu disse, sou do time que adora perguntas. Então, me conta aqui uma coisa: essas dicas que eu dei aqui são uma novidade pra você ou já fazem parte do seu dia a dia? Onde você trabalha esse mapeamento já é feito ou você conseguiu identificar gaps com o roteiro que propus?
Aproveita pra me dizer também que tema você gostaria de ver por aqui na próxima semana. Comenta aqui embaixo e não esquece: “O Novo RH” vai ao ar sempre às quartas! Te vejo semana que vem. Até lá!
Sales / Comercial / Relacionamento B2B /
2 aLetícia, super parabéns pelo artigo
Papai da Beatriz | Especialista em Benefícios | Executivo comercial | Menos custos. Mais benefícios.
2 aLetícia Molinaro Cirúrgica ! Me recordo de um comercial que tinha uma abordagem bem semelhante " Não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas."
CEO ETICOM, IPGE, PriceLab *** M.Sc. in Governance, MBA Professor of Business Strategy & Execution, Budgeting, Pricing *** Founder: IPGE (1994) *** 30000 connections
2 aLetícia Molinaro EXCELENTE! O uso da palavra "estratégico" tem sido banalizado em todo lugar, sem a menor cerimônia. Qualquer coisa vira "estratégico". Se você perguntar por algum dos elementos necessários para esse enquadramento, ninguém sabe responder. Enfim, vivemos em tempos de twitter, pensar virou luxo.