Vivendo a era do Impossivel
Imagine você com 5 anos de idade. E lá está você, descendo sua rua em sua bicicletinha. Vento no rosto, sensação de liberdade! Até que você olha para o quadro dela (para quem não fala “bicicletês” o quadro é a estrutura metálica que conecta pneus, guidão e pedal) e vê que o parafuso de sua bicicleta dobrável está na beiradinha, prestes a cair. E foi assim que aos 5 anos de idade eu capotei minha bicicleta e descobri na carne a tal força de atrito.
A wikipedia define atrito como: “... a força de contato que atua sempre que dois corpos entram em choque e há a tendência ao movimento.”.
Você já deve ter notado que eu gosto de estudar sobre a revolução tecnológica exponencial que estamos vivendo e como isso influencia diretamente nossas vidas. Caso seja sua primeira vez por aqui, invista um tempo lendo este artigo e este aqui também.
Nossas vidas sempre foram cheias de atritos. No final do milênio passado, todas as novidades tecnológicas pressupunham aprender uma nova interface. Interface é o local onde o corpo humano encontra o corpo mecânico ou computacional. Nesse mundo, o atrito era tempo investido em aprender cada interface diferente. Naquela época as interfaces eram montadas sob o paradigma mental que o usuário iria ler o manual. O atrito era delegado ao usuário. Isso fazia que muitos usuários não usassem em plenitude seus aparatos tecnológicos, pois sair de um mundo analógico e intuitivo para entrar em um mundo digital cheio de manuais e linguagens completamente distintas trazia muito atrito. Nessa época muitos simplesmente desistiram e não embarcaram na transformação de suas vidas para um modelo digital. Minha mãe foi assim. Até hoje eu configuro o relógio “piscante” do micro-ondas para ela. Programar o video-cassete? Esquece.... Nunca programou....
Até que um dia pessoas brilhantes em grandes empresas entenderam que o atrito gerado por uma interface deveria ser zero. Os designers, engenheiros de produtos deveriam investir todo seu tempo e massa cinzenta para produzir interfaces simples e intuitivas. Começaram criando os chamados ícones. Que não passam de uma roupagem do ambiente digital usando uma analogia visual do mundo real que vivemos. Assim surgiu o ícone do lixo no MacOS e no Windows. Aquele ícone onde você arrasta seu arquivo para apaga-lo. Fácil de entender não é mesmo? Mas o auge desse trabalho de simplificação de interface ocorreu mesmo em 2007. Dez anos atrás.
Segundo Thomas Friedman em seu livro “thank you for being late”, 2007 foi o ponto de inflexão onde a curva exponencial da transformação digital acelera seu crescimento. Neste ano, surgiu o iphone. Esse foi o primeiro device pensado e repensado para ter atrito zero, para ser intuitivo. Nele, realidades em nossas vidas como a gravidade e a inércia foram brilhantemente embarcados. O device se tornou pessoal e íntimo, pois nossos dedos eram o ponto de contato primário.
Nesses últimos 10 anos, vivendo sobre esse novo paradigma onde as interfaces são as mais naturais para o ser humano, muito do atrito que tínhamos antigamente na relação com a tecnologia diminuiu. Na última CES, grandes fabricantes de eletrodomésticos mostraram seus produtos que baseados em IoT vão conhecer nosso dia-a-dia familiar para fazerem as atividades domesticas sozinhas para nós. A casa inteligente é uma grande interface inteligente sem atrito. As luzes se acendem quando chegamos, e se apagam quando saímos. Enquanto tomamos banho pela manhã, o café começa a ser feito sozinho e a toalha é automaticamente aquecida. Seu assistente pessoal começa a ler as notícias do dia assim que você desliga a cafeteira da tomada. As opções são infinitas.
Mas ainda vão surgir inovações maiores ainda. A tendência é que tecnologia e as interfaces evoluam tanto até chegarem ao ponto de ficarem invisíveis. Isso mesmo, a tecnologia vai sumir, vai desaparecer. Ela vai estar em todo lugar. Tudo será uma interface única, conectada e inteligente. Lembram do antigo termo “entrar na internet” que significava sentar na frente do PC e discar com seu modem para o provedor para finalmente estar na internet. Pois é. Acabou. Agora a internet está em todo lugar. Em breve serão as interfaces.
Conversaremos com nossos assistentes pessoais usando nossa própria voz. Ele não vai estar somente em um gadget na sala. Vai estar na nuvem e nos seguirá por onde formos. Vai nos reconhecer pelo timbre de voz e conversará fluentemente conosco em nosso idioma. Ele vai ter acesso ao que nós vemos, através de nossos óculos conectados. E não adianta imaginar óculos transcendentais cheios de luzes e lentes coloridas. Serão óculos normais como os que usamos hoje. Toda a indústria de óculos, e algumas de tecnologia neste exato momento estão testando seus protótipos. Poderemos gravar e acessar nossas imagens visuais que estarão bem organizadas por datas, locais, pessoas, eventos etc. Esse será o mundo da computação cognitiva em cloud usando video analytics.
Vivemos o mundo do impossível. Volte a 30 anos atrás e imagine-se dizendo ao seu pai que daqui 30 anos, todos terão em suas mãos um mapa em tempo real que mostra exatamente em que lugar do mundo está. Que nesse device também pode-se ouvir todo o catálogo de musicas do mundo. Que além disso esse device filma e transmite ao vivo para o mundo todo em tempo real. Impossível! Ele diria. Pois é... Isso foi só o iphone em 2007 e vem muito mais por aí. Claramente vivemos a era que baniu do mundo a palavra impossivel.
Até os robos sabem disso!
--------------------
E você, o que tem feito todos os dias que antigamente era considerado impossível?
Se gostou do artigo e dos vídeos, compartilhe em suas redes.
Um abraço!
Hvon
Escritor
8 aGostei!