Você quer continuar acorrentado?
Em meio a tanta ação e efeitos especiais do filme Matrix (1999), não é fácil perceber que os irmãos norte-americanos Wachowski beberam na fonte do mito da caverna de Platão para fazer o roteiro. O filósofo descreveu a situação como uma metáfora para que as pessoas não fiquem presas à sua própria realidade e busquem constantemente conhecimentos, que lhes ajudem a sair da inércia e da ignorância.
Platão, que foi discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, descreveu no Mito da Caverna uma situação simbólica em que prisioneiros teriam passado toda a vida acorrentados dentro de uma caverna. Iluminados apenas pela luz de uma fogueira, eles viam projetadas na parede as sombras de tudo o que passava atrás deles, sem poder olhar para trás. Era tudo o que conheciam.
Quando um deles sai da caverna, a primeira reação é a dificuldade com a luz do sol, pois seus olhos não estavam acostumados com a claridade. Ele enfrentou o primeiro obstáculo e aceitou o desafio de encarar o mundo como ele nunca viu. Tempos depois ele retorna à caverna para descrever o que havia vivenciado. Só que seus companheiros não acreditaram nele, pois não conseguiam imaginar nada diferente daquilo que conheciam.
É isso que estamos enfrentando nas empresas atualmente. Um mundo frenético, que muda rapidamente, que exige tomada de decisões para as mudanças que chegam incessantemente. Tudo diferente do que conhecemos. A transformação digital que presenciamos em 2020 foi sem precedentes com relação aos anos anteriores, e 2021 promete um ritmo parecido, e nada será como antes. É preciso enxergar além dos limites atuais.
As empresas fornecedoras de tecnologia são as maiores protagonistas desta revolução, pois fornecem a inteligência necessária para que corporações de diversas naturezas tenham processos cada vez mais eficientes, experiências melhores com seus usuários, produtividade alta, acesso remoto seguro, computação em nuvem, entre outras necessidades. Tanto que a busca por profissionais da área aumentou em 310% no ano passado, segundo levantamento da GeekHunter, especializada em recrutar profissionais de TI.
Será que sua empresa ainda está na caverna? As áreas mais afetadas pela crise, como turismo, varejo alimentação (bares e restaurantes), eventos e entretenimento certamente foram as que experimentaram as maiores perdas e precisam sair das correntes para enfrentar a luz do dia, inovando seus serviços e seus processos. Ainda que seja muito penoso, é um caminho sem volta.
Já as empresas de e-commerce, delivery, streaming, plataformas de videoconferência cresceram como nunca imaginaram. Tudo graças às tecnologias que facilitaram a vida de milhares de pessoas em isolamento, embora na prática poucos o sigam atualmente, alguns hábitos vão permanecer pela descoberta da comodidade.
Outras atividades que se mantiveram estáveis ou registraram pequenas perdas não devem ficar de fora da inovação. Ninguém está em condições de seguir processos antigos, como sempre fez no passado. Pelo contrário, é preciso produzir como nunca se experimentou antes, e isso só e possível com o apoio das tecnologias já consolidadas, big data, machine learning, inteligência artificial, plataformas de colaboração e outras que ainda estão por vir. Ou você quer continuar acorrentado?
Estimule seus colaboradores a saírem da caverna
O estilo antigo de gestão autoritária não funciona mais. Reconhecer e recompensar pessoas que buscam aprender precisa ser uma constante, bem como seus acertos e evoluções. Afinal, o fator humano está no centro das empresas e no centro da transformação digital. Sem o empenho da equipe, os negócios param.
Por isso, estimular a exposição de ideias e a capacitação é importante para formar massa crítica para a resolução de problemas. Quanto maior o repertório dos colaboradores, maior a capacidade de enxergar soluções e caminhos para a empresa manter a evolução e a permanência no mercado.
Gerente de marketing na GUÉP, Diretor de marketing na GRISTEC
3 aMuito criativa a analogia. Quem viveu esta onda em 2020 sabe que a pandemia catalisou processos que, de outra ordem, demorariam anos para acontecer ou talvez nunca viessem a acontecer. Muitas organizações, para usar uma expressão até desgastada pelo uso excessivo, pivotaram suas operações, se reinventaram. Aquelas que o fizeram, exercitando esta liberdade do 'por que não?', conseguiram crescer mesmo em meio à crise. Agora, ver nas organizações um processo ou política real de reconhecimento e valorização da criatividade, só pouquíssimas se dão ao luxo de tentar.