Você quer ensinar ou quer que a outra pessoa aprenda?
Meio óbvio, né? Eu discordo, até por que o óbvio quando dito - se possível em voz alta - tem o poder de criar reflexão (combustível essencial para reduzir nossos automatismos diários e repetições de padrões de comportamento disfuncionais).
Ocasionalmente eu vejo, aqui nessa rede e em outros lugares, uma das mais replicadas frases do Paulo Freire: “(…)ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou sua construção.” Vez ou outra lida, interpretada e proferida em adequação ao contexto original onde foi concebida, vez ou outra nem tanto, essa sofisticada citação de um dos pensadores/filósofos mais notáveis do século XX pode nos levar a pensar que estamos “fazendo a coisa certa” enquanto profissionais de aprendizagem/educação (corporativa ou não). E tudo bem, já que para nós, meros mortais, tentar compreender verdadeiramente trechos do sofisticado e visionário pensamento do Paulo já é algo enorme.
As figuras de professor, especialista, facilitador, arquiteto de aprendizagem, psicólogo, assistente social, médico, líder/gestor, são carregadas de significados estereotipados e frequentemente conectados ao poder/às relações de poder: alguém manda, alguém obedece; alguém sabe, alguém não sabe; alguém é maior, alguém é menor. O poder não está só na força bruta, pode ser imposto de forma intelectual (muito presente na sociedade contemporânea) e na apropriação cultural, pra citar alguns exemplos.
Quando se entra em uma sala de aula a relação é desbalanceada no inconsciente coletivo dos alunos/participantes e professores/facilitadores/especialistas (concordemos ou não). Mesmo fenômeno acontece quando um psicólogo recebe um cliente, uma assistente social chega à uma comunidade para realizar o seu trabalho, um líder vai dar um feedback. Cabe a nós, profissionais de quem se espera determinado jeito de ser e fazer, a reflexão sobre o que causamos e queremos causar para o entorno, para o outro, sem desconsiderar que há um “job description” a ser cumprido por você.
Diante ao que vejo, me trabalho para afastar os sedutores fantasmas da perfeição e da soberba nas minhas práticas, projetos, ideias, cursos, facilitações de workshops dentro e fora do ambiente das empresas. No mesmo passo, busco também não cair no sedutor e “quentinho” lugar do comodismo, da apatia e do não posicionamento, me eximindo de responsabilidade pelo que cabe a mim.
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Reconheço em mim, por características fortes da minha personalidade (Intuição-Pensamento), desejos de criar insights, que julgo geniais, nas “cabeças” das pessoas a partir dos meus vieses e preferências… que podem soar como normas e padrões lógicos a serem seguidos; alta energia para explorar temas que julgo profundos, importantes e transformadores… que podem afastar um interlocutor com outros interesses; fortes impulsos pra desenhar o que “brota” na minha cabeça, via intuição… ato que pode criar um padrão egoísta a ser seguido.
Fazendo um recorte a quem se coloca a serviço da aprendizagem (corporativa ou não), pense se faz sentido a reflexão sobre essas “obviedades”:
Observações e citações: