Você realmente sabe o que são os blockchains, o que essa tecnologia tem a ver com as criptomoedas e como investir nesses ativos?

Mesmo com a difusão das criptomoedas e uma enorme quantidade de informações e notícias divulgadas a respeito, ainda há muitas dúvidas sobre o assunto. Pensando nisso, convidei a minha amiga Annalisa Blando , planejadora financeira, fundadora da ParMais e conselheira de empresas, para um breve bate-papo esclarecedor sobre esse tema tão importante e atual.

·       Poderia explicar o que são as criptomoedas? Como funcionam?

Annalisa: A grande inovação acontece, mais do que na criptomoeda, no blockchain, que é uma tecnologia que foi muito bem pensada pois é descentralizada. Vários computadores ao redor do mundo desenvolvem essa tecnologia e ganham recompensas, como criptomoedas. Os desenvolvedores "mineram" para formar os blocks (ou blocos) e são pagos para tanto. O primeiro blockchain foi o da criptomoeda Bitcoin. As criptomoedas, portanto, são descentralizadas e servem como meios de trocas.

·       Como o blockchain funciona e qual o seu nível de segurança?

Annalisa: O blockchain é como se fosse um trem. Forma-se um bloco, no qual é inserida uma quantidade de informações. Quando o vagão está cheio, o bloco é fechado com um número. A partir desse número é formado um novo bloco, que também será preenchido por informações e deve gerar um novo número. O blockchain é imutável, seguro e transparente, pois para alterar alguma informação dentro de algum bloco, seria preciso mexer em todos os blocos anteriores.

·       Como o blockchain foi criado?

Annalisa: Dizem que foi um tal de Satoshi Nakamoto, que não se sabe se realmente existe, se é uma pessoa ou um grupo. Nunca ninguém descobriu. Mas o fato é que o blockchain foi criado para ser limitado. Haverá um ponto em que não será mais possível minerar as Bitcoins. O blockchain chamado Bitcoin só produz a criptomoeda Bitcoin.

·       E os NFTs, o que são?

Annalisa: Depois vieram outros blockchains, a exemplo do Ethereum. Além de fazer a criptomoeda, ETH, é possível fazer várias aplicações, como registrar um contrato, registrar ou fazer uma obra de arte. São as NFTs, non-fungible tokens, ou tokens não fungíveis, em português. Esses tokens não fungíveis têm outras aplicações para além das moedas. E há outros blockchains que não os das criptomoedas Bitcoin e Ethereum. Há outras aplicações em blockchain, por exemplo, como os tokens lastreados em títulos de crédito que têm características semelhantes à renda fixa, só que de forma digital. Trata-se de uma novidade muito interessante.

·       Quando deve-se investir?

Annalisa: Sou gestora de patrimônio. Portanto, a prioridade absoluta é preservar patrimônio. Hoje, para leigos, investir em compras pequenas e periódicas em Ethereum e em Bitcoin é uma estratégia ótima, pois essas moedas já estão consolidadas, já se verificou se há possíveis vulnerabilidades entre outros aspectos. Pesquisas mostram que compras periódicas são uma estratégia melhor do que que comprar em um dado momento e esperar o tempo passar, então pouco importa se o mercado está em alta ou em baixa.

·       E outras criptomoedas?

Annalisa: Há muitas. Existem vários tipos de criptomoedas e é natural que algumas não deem certo, pois são criadas por ideias mirabolantes que às vezes não funcionam. Vale a pena estudar possíveis outras criptomoedas e, talvez, investir nelas uma parte do capital de risco. Precisa ser aquela parte dos recursos que, se perder muito valor e virar pó, não fará falta e sempre com visão de longo prazo. Existe um universo gigantesco de moedas, e só o tempo vai dizer quais vão se consolidar e vão se mostrar um bom negócio. O risco é alto, mas muitas têm um potencial grande de retorno.

·       Na sua visão, qual o futuro das criptomoedas? Consumidores vão utilizá-las, por exemplo, no varejo?

Annalisa: Sim, já existem muitas iniciativas nesse sentido. Elas trazem facilidade. São moedas que não pertencem a país nenhum e é muito simples negociá-las. É um universo que veio para ficar.

·       E as empresas, já investem em criptomoedas? Como equilibrar a volatilidade dessas moedas com pressupostos de governança e o olhar para o futuro em uma organização?

Annalisa: Usar o caixa da empresa para comprar criptomoedas é muita especulação. Como conselheira e gestora, não considero um bom investimento. Mas como investimento de longo prazo de uma pessoa física pode ser uma boa estratégia, sim. Por outro lado, todas as empresas precisam conhecer a tecnologia blockchain e entender as aplicações que ela pode trazer para o seu negócio. Isso é uma obrigação de organizações de qualquer setor.