Você se conhece?

Para que serve o autoconhecimento?

"A única constante é a mudança". Heráclito de Éfeso, filósofo grego pré-socrático, cunhou a afirmativa que, apesar de ser capaz de sintetizar, sucinta e assertivamente, diversos períodos da história da Humanidade, possivelmente é ainda mais atual hoje. O tal Mundo VUCA segue latente e desafiador, irrompendo crenças históricas e nos deixando cada dia novas incertezas. O passado não traz esclarecimentos para os nossos dias e o futuro se torna cada vez mais imprevisível. Nos resta, portanto, somente o presente.

Enquanto antes nossas possibilidades de escolha de carreira, por exemplo, se resumiam a algumas poucas, hoje acumulam-se diante dos nossos olhos incontáveis opções para iniciar ou mesmo fazer transições nessa jornada. O dinamismo dos nossos tempos nos coloca a frente de um leque infindável de alternativas. Ao invés de gerar mais liberdade, esse movimento parece algumas vezes capaz de nos gerar paralisia diante de uma decisão, num estranho fenômeno contemporâneo de paradoxo das escolhas.

Frente às incertezas crescentes e a esse paradoxo das escolhas, o Autoconhecimento passou a despontar como uma poderosa ferramenta para sobreviver ao nosso mundo. Bem, mas o que é isso?

Agimos predominantemente no chamado por Kahneman de 'cérebro rápido', aquele que atua de forma intuitiva, quase inconsciente e mais primitivo, direcionado sobretudo pelas nossas emoções e a forma como reagimos a elas quando algo de valor para nós está em jogo. O chamado 'cérebro devagar', o qual demanda um pouco mais de tempo e treinamento para de fato processar as informações captadas ao redor, atua de forma lógica e deliberativa, quando nossa tarefa exige concentração e controle. Em "Rápido e devagar - duas formas de pensar" Kahneman explica o quanto temos dificuldade de acionar o cérebro racional e observar conscientemente nosso comportamento.

Antes de tudo, conhecer a si mesmo é atuar exclusivamente no entendimento de um retrato próprio e fiel do presente. Jornadas de autoconhecimento, no geral, se encarregam justamente de desligar esse "piloto automático" do cérebro rápido e nos permitir, gradualmente, ter a consciência das nossas emoções, seus gatilhos e os valores em jogo quando essas emoções vêm a tona. Descobrir nossos esquemas e as necessidades básicas não atendidas na infância que hoje se manifestam em comportamentos, em algumas ocasiões, disfuncionais. As nossas forças de caráter e como elas repercutem em nossos relacionamentos conosco, com o outro e com o mundo.

Mas, sobretudo, descobrir nossos pontos fortes. No livro "Descubra seus pontos fortes", o autor Marcus Buckingham trata desse nosso hábito de nos aprofundarmos em nossas fraquezas e investirmos menos naquilo em que nos destacamos. Exemplo básico: se na escola tiramos um 9 em matemática e um 4 em português, a que seus pais e professores vão te orientar a dedicar mais tempo? Provavelmente português. Para, sofridamente, ser aprovado na média ao fim do ano, sem ter investido mais tempo e se aprimorado naquilo para o qual se tem mais aptidão, habilidade e até prazer por estudar.

Jornadas de autoconhecimento são potentes aliadas para revelar aquilo em que somos bons. Logo, são um passo determinante para uma tomada de decisão consciente e alinhada com nossos talentos, na direção daquilo em que empenharemos mais esforços com um retorno de satisfação e realização capazes de tornar projetos e processos mais engajadores, conferindo significados as nossas vidas.

E você, o quanto sabe sobre você mesmo?