The working dead: causas e consequências do burnout
Um estilo de vida acelerado, exigências pessoais e profissionais elevadas, competitividade, estímulos e tarefas em número crescente (mas de necessidade questionável)… A fotografia do mundo moderno e ocidental pode resumir-se numa palavra: stress.
O stress é a resposta fisiológica do nosso organismo a estímulos externos. Do ponto de vista evolutivo, os mecanismos que são acionados são os de luta e fuga, que numa situação de perigo eminente nos fazem lutar ou fugir e que, por essa razão, garantiram a sobrevivência da humanidade até aos tempos atuais.
Quando estamos perante uma situação atípica e desafiadora são ativados os sistemas fisiológicos para conseguirmos lidar melhor com essa situação. Desencadeia-se uma resposta fisiológica, psicológica e até comportamental. Neste sentido, o stress é algo natural, reflete a nossa capacidade de adaptação e pode ser visto como um efeito positivo, que impulsiona a nossa aptidão cognitiva, de foco e de ação. No entanto, pode também representar algo nocivo e contraproducente. Hoje sabe-se que o stress crónico é prejudicial para a saúde do ser humano.
O stress ocupacional diz respeito ao stress relacionado com o trabalho, seja devido à estrutura organizacional, às características do trabalho, às interações com os colegas, às características individuais de cada pessoa, entre outros fatores.
O stress crónico no trabalho pode levar a uma situação de esgotamento físico e psicológico, a que se chama burnout. Esta palavra inglesa significa “queimar até à exaustão”. O profissional sente que a sua capacidade e recursos para lidar com as exigências do trabalho esgotaram-se. Alguns sintomas e consequências associados ao burnout são:
– sentimentos de insatisfação
– solidão
– baixa auto-estima
– perda do sentimento de compromisso e de realização profissional
– frustração
– irritabilidade
– cefaleias
– distúrbios do sono
– fadiga
– sintomas gástricos
– abuso de substâncias como álcool, tabaco ou medicamentos
– aumento do risco de doença cardiovascular
– sistema imunitário débil
– perda de interesse sexual
Tem também como consequências o comprometimento das relações familiares, absentismo e maior ocorrência de baixas médicas, diminuição da produtividade, da qualidade de vida e abandono do trabalho.
Conhece alguém nesta situação? Identifica-se com estes sintomas? Infelizmente não é uma situação rara. De que adianta ter uma força de trabalho, pública ou privada, de profissionais exaustos, desmotivados e frustrados?
Um estudo realizado pela Deco este ano, com 1146 trabalhadores de diversas áreas profissionais, concluiu que um terço dos inquiridos estava em risco de burnout, e que quem tinha um estilo de vida pouco saudável tinha um risco maior de esgotamento. Um outro estudo, sobre a prevalência do burnout em profissionais de saúde Portugueses, concluiu que entre 2011 e 2013, 21,6% dos profissionais de saúde apresentaram níveis de burnout moderado e 47,8% níveis de burnout elevado.
É um facto que a qualidade de vida e a produtividade dependem muito de condições de trabalho favoráveis. Por outro lado, a promoção da qualidade de vida no trabalho assenta no princípio de que as pessoas são mais produtivas quando estão mais satisfeitas, saudáveis e motivadas. É por isso urgente mudar a forma como se vê a pessoa e as suas condições de trabalho.
Mas mais do que enumerar as causas e consequências destes problemas de saúde ocupacional, gostava também de deixar algumas estratégias que podem ajudar gerir o stress crónico e a evitar o burnout… o que ficará para o meu próximo artigo. Ate lá!
© Patrícia Rodrigues - Fundadora Work-Life Balance
Artigo inicialmente publicado em wlbalance.pt.