Como nossas decisões inconscientes podem mudar a vida das pessoas?
Miguel Rivas (Jon Huertas) durante entrevista de trabalho em ‘This is Us’ | Ron Batzdorff, NBC

Como nossas decisões inconscientes podem mudar a vida das pessoas?

Mesmo que você não o conheça, o viés inconsciente é parte de quem você é. Influenciando percepções e decisões do cotidiano, esses vieses são pré-julgamentos automáticos moldados por nossas experiências, cultura e sociedade. Invisíveis e muito poderosos, eles afetam nosso comportamento sem que percebamos, como visto na 6ª temporada da aclamada série This is Us. Num dos episódios da produção, a trajetória do personagem Miguel Rivas ilustra o impacto desse tema.

No episódio, Miguel (Jon Huertas) aguarda para ser chamado para uma entrevista de emprego. Quando chamado, ele ouve “Mike Rivas” em vez de “Miguel”. No fim da entrevista, após ter impressionado com seu currículo e domínio do espanhol, Miguel revela ao chefe: “O nome correto é Miguel Rivas. Eu mudei porque Miguel nunca recebia retorno”. Apesar de simples, a cena expõe uma realidade dura e comum: pessoas mudando quem são para driblar vieses e preconceitos.

Miguel (Yael Ocasio) quando criança em ‘This is Us’ | Ron Batzdorff, NBC

Estes somos nós

O exemplo ficcional tem uma base real preocupante. Em 2003, pesquisadores da Universidade de Chicago realizaram um estudo enviando milhares de currículos idênticos para diversas empresas, alterando apenas os nomes das pessoas. O resultado revelou que currículos com nomes associados a estereótipos brancos tinham 50% mais chance de receber um convite para entrevista do que os com nomes afro-americanos. Isso expõe como o viés inconsciente pode ser uma barreira, mesmo antes da interação.

No Brasil, o cenário não é muito diferente. Em uma pesquisa realizada pela Huddle com 200 pessoas candidatas, 69,1% revelaram já ter mudado ou ocultado seu jeito, aparência, crenças e/ou personalidade durante um processo seletivo. Entre as características mais omitidas pelas pessoas da amostra estão: experiências profissionais anteriores (26,8%), o local onde moram (18,9%), a religião (14,2%), a orientação sexual (11%) e sua instituição de ensino (8,8%). Os números mostram o quanto o viés pode afetar grupos específicos de pessoas.

Características ocultadas em processos seletivos | Pesquisa Huddle

Miguel, não Mike

Reconhecer a existência do viés inconsciente é o primeiro passo para combatê-lo. No entanto, superar essa barreira exige um esforço contínuo e coletivo. Programas de treinamento, políticas de Diversidade e Inclusão e uma cultura que valorize a pluralidade são essenciais para criar um ambiente onde todos possam ser reconhecidos por suas habilidades e competências, sem serem penalizados por características pessoais ou sociais. Nesse sentido, a busca por ferramentas que reduzem o viés durante os processos seletivos é fundamental.

Vale reiterar que vieses não são vilões. Muitas vezes, eles ajudam na tomada rápida de rápidas e na filtragem de informações. No entanto, quando inconscientes, eles podem ser perigosos e impactar negativamente. O que This is Us e a pesquisa de Huddle nos mostram é que a luta contra o viés inconsciente é, em grande parte, uma luta por um mundo mais justo e equitativo. E essa luta começa no momento em que pensamos em construir um lugar onde um "Miguel Rivas" não precise se tornar "Mike" para ser aceito.

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