Racionalismo, parametrização e observação, os três mosqueteiros do saber!

Racionalismo, parametrização e observação, os três mosqueteiros do saber!

Hoje a palavra do evangelho será sobre os três métodos mais difundidos no mundo para gerar conhecimento sobre o que se deseja saber. Prometo que a leitura não será tão chata quanto esses nomes horríveis!

E com isso na cabeça, vamos prosar aqui sobre as formas de se chegar ao conhecimento que mais se estabeleceram nesse pequeno planeta verde, azul e cinza que moramos, do mais amplo para o menos amplo: o Racionalismo, a Parametrização, e a Observação. Darei destaque para este último intencionalmente - não por ser o meu favorito mas poderia ser por isso também -,  então não estranhe se parecer que estou desmerecendo os dois primeiros pois não é esse o objetivo, todos possuem imenso valor. Comecemos pelo mais famoso deles, o Racionalismo. 

Apesar do Racionalismo Cartesiano ser oficialmente creditado a René Descartes (até porque leva o nome do sujeito, né?), podemos com alguma extrapolação voltar um milênio e meio no tempo e concluir que ele não nasceu necessariamente no séc. XVII, ou pelo menos o ponto de partida não foi ali. É razoável dizer que a Geometria Euclidiana já tinha muito do que Descartes recuperaria dos gregos para desenvolver a Geometria Analítica, que é basicamente considerar o impacto da existência no mundo em que vivemos: considerar a tridimensionalidade da experiência humana, e não mais cálculos puramente abstratos (mesmo que ainda haja um grau elevado de abstrações) como mensurar a área do triângulo proposto por um certo Pitágoras, a matemática bidimensional de Euclides que é chapada no papel (que infelizmente ainda é a base da matemática escolar), e por aí vai; ou alguém aqui toma água num copo de duas dimensões? É possível olhar para o horizonte sem considerar o efeito da profundidade? Difícil hein? Inclusive, se quiserem tornar a vida dos terraplanistas um inferno, aqui há bastante material para refutá-los de forma elegante.

O esforço de Descartes para imprimir no Plano Cartesiano a verdade, ou pelo menos, uma projeção dela, foi o esforço de toda a galera envolvida no Renascimento italiano para chegarmos ao nosso mundo moderno de hoje. Galileu Galilei na Astronomia, Sandro Botticelli, Rafael Sanzio e Michelangelo Buonarroti na pintura e na escultura, e muitos outros caminharam juntos para transformar a matemática numa experiência sensória e numa imagem do Homem como protagonista da busca pela verdade absoluta - se conseguiram, deixo pra vocês responderem -, em praticamente todos os campos do conhecimento. 

Pensar o mundo sob a ótica racionalista não é apenas colocar a razão como sendo uma faculdade humana superior às demais, e sim considerar que ela minimiza (ou caminha para minimizar) qualquer possibilidade de erros nas atividades que fazemos, tudo precisa ser o mais próximo possível do conceito de perfeição: uma cirurgia médica, a construção de um edifício, a programação de um software, em tudo que se propomos o erro precisa ser eliminado, do contrário não teremos sucesso. Mas como bem sabemos, perfeito só Deus. E se você não tem nenhum tipo de credo, piorou! Então nada é perfeito! Dito isso, daremos um salto para o segundo ato da nossa dramaturgia, entra em cena a Parametrização.

Segundo o dicionário online de português Dicio, “parametrizar” significa “estabelecer parâmetros; inserir algo em padrões, modelos” (DICIO, 2021); é isso que precisamos ter em mente quando falamos de parametrização. Diferentemente do Racionalismo, que se estabeleceu como escola de pensamento e depois se difundiu como um modelo mental de pensar o mundo, a Parametrização não é atribuída a alguém (ou a um grupo de alguéns), ela é o ato de mensurar um fenômeno onde temos um ponto de partida para usarmos como comparação (na maioria das vezes, mas ela também pode ser definida sem um ponto zero), no mundo dos negócios é semelhante ao que chamamos de benchmark. E isso significa que será arbitrário, nós é quem vamos definir a priori, ou seja, antes da experiência. Quanto esperamos que a empresa cresça em 2022, em comparação com 2021? 10%? 30%? O nosso parâmetro para 2022 é o ano de 2021, só e somente só! Quanto é razoável cobrar pelo pelo seu produto ou serviço tendo como parâmetros os preços da concorrência, o cenário econômico do país, a condição financeira dos clientes, o repertório da empresa, a qualidade do que estamos vendendo? Isso é parametrizar! 

Obviamente você já deve ter percebido que não é possível estabelecer uma briga entre Racionalismo vs Parametrização para descobrir quem é melhor ou pior, qual é mais sensato utilizar; antes de chegarmos em nosso último modelo, já fique ciente que essa classificação não cabe, avalie os cenários e suas tomadas de decisão para incorporar o melhor de cada um em seus projetos - e abandonar o pior deles - , mas sempre considerando os riscos envolvidos de cada visão. Seguimos para a terceira e última concepção: a Observação!

Observar um fenômeno para auxiliar nossas tomadas de decisão parece algo meio óbvio num primeiro momento, já que no sentido estrito do termo tudo que nós fazemos desde que o nosso mundo é mundo, é observar. Mas quero levar a observação para um nível mais profundo de entendimento, sem dificultar a nossa jornada.

A Observação tem uma característica única se compararmos com o Racionalismo e com a Parametrização. Enquanto esses dois modelos podem derivar de uma ideia pura, da abstração a priori, sem nenhuma evidência anterior, a observação necessariamente deriva da experiência; os fenômenos ou 1) simplesmente acontecem ou 2) forçamos que eles aconteçam a partir de interferências e decisões para chegar a um resultado, seja ele esperado ou inesperado. No primeiro caso não adianta muito lutar contra, as forças que o regem são maiores que nós e só nos cabe compreender para decidirmos melhor no presente e no futuro. A Terra gira em torno de si mesma e ao redor do Sol, ponto final. Observar esses dois fenômenos e aceitá-los como verdade auxilia infinitas decisões que iremos tomar em várias áreas da vida, como cálculos que envolvam horários (já que o nosso relógio convencional tem 24 horas e ele é definido a partir da rotação terrestre, que leva o mesmo tempo para girar em torno de si mesma; o mesmo vale para o nosso calendário ocidental, que marca uma volta do planeta ao redor do Sol), jornada de trabalho, tempo de entrega da nossa encomenda comprada na China, férias...Enfim, tudo! 

A Terra não deixará de se mover ainda que deixemos de crer nisso,  e a não ser que alguém invente algo para frear a atração gravitacional em torno do Sol ou alguma bugiganga que faça valer a Lei da Inércia, ela continuará a se mover. Aceite isso, a vida ficará menos dolorosa, além de gerar uma economia de energia para não fritar os miolos tentando entender as motivações pelas quais ela faz isso. Gaste energia para escolher a cerveja que irá tomar, isso sim depende de nós!

Obviamente o exemplo do movimento terrestre foi apenas um entre muitos possíveis em nossa compreensão que deriva da observação, estamos cercados de muitas delas. No mercado financeiro, na Comunicação, no Direito, sempre haverão situações de padrões que se repetem e continuarão se repetindo, com a diferença de que, ao contrário do planeta, eles terão prazo de validade e darão lugar a novos padrões. 

Perceba isso e tome as melhores decisões! E para efeitos da finitude humana entenda o exemplo do movimento planetário como “sempre foi e sempre será”, obviamente nem sempre foi e nem sempre será assim, mas como as transformações dos astros se dão na escala de bilhões de anos, para a realidade do Homo Sapiens essa escala de tempo é desprezível, então pode ficar tranquilo que o Sol sempre nascerá no Leste e se porá no Oeste; caso aconteça o contrário, procure um psiquiatra.

No segundo caso (quando forçarmos que os fenômenos aconteçam) a observação é mais alinhada ao que convencionamos chamar de “empirismo”, ou seja, a experimentação a partir da tentativa e erro, seja em ambiente controlado (como o laboratório) ou em ambientes sem controle como as relações humanas na política, no trabalho ou na família. Ambiente “controlado” não quer dizer que saberemos o resultado antes de experimentar, e sim que controlamos minimamente as variáveis envolvidas como temperatura, massa, volume, quantidade, e demais unidades de medida que consigamos quantificar; saber disso nos permite administrar melhor nossos recursos (de tempo, de grana, de materiais, de energia), que, como bem sabemos, não são infinitos.

Em algumas áreas de atuação como a Química, Engenharias, Agricultura, Programação, o teste de uma ideia ou um produto não apenas é importante como é recomendado antes da sua produção em larga escala. Isso permite correções já na fase inicial do desenvolvimento e reduz as chances de riscos operacionais, riscos sistêmicos entre outros fatores; no mercado financeiro, testar pequeno um modelo matemático ou um novo produto antes de torná-lo operacional numa grande quantidade de dinheiro também permite mitigar riscos importantes como risco de crédito, risco de solvência, risco cambial, risco de liquidez e vários outros. A caminhada é dura, mas observar é preciso, viver não é preciso!

Cada uma das três abordagens possui virtudes e falhas, assim como nós. Como diria Gandalf no livro O Senhor dos Aneis - A Sociedade do Anel, tudo que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado. Para cada situação caberá um modelo mental que seja mais apropriado a ela e que tenha a melhor relação de risco/retorno, procure maximizar o retorno e minimizar os riscos. E ainda assim, isso não será garantia de que iremos acertar, muitas vezes iremos errar. Mas erraremos com mais qualidade a partir do momento que não estamos expostos ao risco de ruína, esse sim é o risco que nos tira do game e é letal. Gera morte, falência e demais danos irreversíveis. Fique atento para fugir dele, o show tem que continuar. Até!







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