Síndrome da impostora. Será?
Lá vem ela, uma ótima (e rara!) oportunidade, excelente cargo, ótimos benefícios mas… será que é a hora? Não deveria esperar mais um pouco?
Todas nós talvez conheçamos essa história. Somos mães, somos esposas, somos filhas… Sabemos bem o caminho, as vulnerabilidades, os viéses. Vivemos numa sociedade que antagoniza de maneira estrutural a ascensão da mulher a cargos de prestígio e, quanto mais pertencente à minoria, maiores as dificuldades rumo ao sucesso. Apesar de ter muita gente que simplesmente não quer ver, ou quando quer, prefere romantizar essas conquistas - realidade, cadê você?!
As dificuldades, a falta de oportunidades e a própria raridade de ser uma mulher bem sucedida provoca uma certa “inadequação” quando essas mulheres conseguem chegar ao sucesso. Inclusive, esse é o termo que a pesquisadora Basima Tewfik, do MIT, nos Estados Unidos, utiliza para falar sobre essa percepção de que, na realidade, o sucesso não deveria ter batido à porta delas.
Um sentimento comum
Em termos objetivos, segundo levantamentos feitos neste ano pela Discovery, 46,1% das mulheres acreditam que os outros superestimam o seu potencial. Um número ainda maior, 58,7% das entrevistadas, temem não corresponder às expectativas impostas sobre elas com promoções e bonificações.
Essa é uma situação constante e estressante para se viver — e chega a ser absurdo pensar que quase metade das mulheres vivem sob a percepção de se acharem uma farsa. Os efeitos, não são uma surpresa: a pesquisadora Jane C. Royse Roskowski, num estudo de 2010, avaliou que há três consequências que surgem dessa vivência e sensação, são elas:
E nesse paradigma, as qualidades começam a ser uma cruz pesada demais para carregar. Rótulos como a “inteligente”, a “responsável”, a “melhor” deixam de ser doces de serem ouvidos.
Mas, há ainda um quarto efeito estudado por Aldení Ramos de Oliveira, Thereza Christina Garcia Bezerra e Alessandro Teixeira Rezende: a (con)vivência com a síndrome da impostora leva a outro caminho: a síndrome de burnout — um dos problemas mais graves no mercado atual - e, recentemente, reconhecido pela OMS como doença ocupacional.
Você não tem uma síndrome
Mas se tantas mulheres passam pelo problema da síndrome da impostora, então é importante ajudar a desmistificar algo: não existe síndrome da impostora.
O que existe é um termo que estigmatiza mulheres que já estão exaustas, com o psicológico fragilizado por uma série barreiras impostas - síndromes são classificadas pela OMS e, este não é o caso - mas não há o que ser descartado, o “fenômeno” da impostora existe sim. Ela age por muitas de nós, fala por outras tantas de nós e temem oportunidades por conta de um mercado (e uma estrutura social) que sempre lembra a cada uma de nós que não somos tão perfeitas ou preparadas assim.
Assim, deixo uma reflexão: será que as mulheres não estão 100% aptas para o mercado ou o mercado não está pronto para nós.
Estamos prontas para chegar ao topo sem sentirmos culpa por isso.
Vem comigo?