Imagine um atleta que joga basquete, vôlei, tênis, monta em poucos segundos cubos mágicos e, para desenvolver ainda mais a parte mental, voltou a jogar xadrez. E, claro, ele faz todos esses esportes bem. Um gênio? E se esse atleta for, há sete anos seguidos, um dos dez melhores do mundo no tênis de mesa? Surreal!
O surrealismo esportivo é a melhor maneira de definir Hugo Calderano. É como se um artista fosse pintor, escritor, cineasta, ator e, sei lá, ainda desenhasse joias. Seria um gênio! E esse artista existiu, foi o mestre do movimento chamado de surrealismo e criou algumas das obras mais icônicas do século 20. Muitos o chama de louco. Prefiro Salvador Dalí.
O exagero na comparação vem a esta mente muito menos brilhante do que de ambos porque estive novamente com Calderano há alguns dias em São Caetano do Sul, na mesma semana em que visitei a exposição de Dalí que está no Museu de Arte Brasileira da Faap em São Paulo.
Calderano não é excêntrico como Dalí. O atleta carioca de 27 anos, tricampeão pan-americano e rumo à terceira edição olímpica da carreira, aliás, é reservado, quase tímido. No entanto, quando se trata da mente, o mesa-tenista parece se aproximar de gênios, como o artista catalão.
Pode parecer apenas uma lista inesgotável de habilidades, mas, além de todos os esportes que pratica, Calderano ainda fala sete idiomas (português, inglês, espanhol, alemão, francês, italiano e mandarim --afinal, é preciso entender os mestres da modalidade), toca violão e ukulele, adora brincar de jogos de perguntas e respostas sobre geografia (ele sabe todas as capitais de todos os países do mundo). Nesse meio tempo voltou a jogar xadrez recentemente. Nada por acaso, tudo para treinar mente e corpo. Ele também é vegetariano. E namora. Sim, ele tem tempo para namorar Bruna Takahashi, melhor mesa-tenista mulher da história do Brasil (hoje ela é a 18ª do mundo e, ele, o 8º).
E até onde essa genialidade de Hugo Calderano pode levá-lo? Ele acredita que à conquista da inédita conquista de uma medalha olímpica. O brasileiro esteva perto dessa meta, em Tóquio, há três anos, quando caiu nas quartas de final. Neste ano, em Paris, diz saber que é possível vencer qualquer adversário (inclusive os chineses) em um dia bom. E entende-se como bom a junção dos dois Hugos, o que vibrou com a torcida e o apoio dos familiares na Rio 2016 e o que estava em ótima fase em Tóquio 2020-21. Quem venha Paris 2024.
Paris que foi a cidade escolhida por Dalí para ele mostrar sua arte para o mundo, se exibir com grande mestre, provar que estava entre os maiores de todos os tempos. A capital cultural, agora, é a capital esportiva do mundo. Gênios das mais diversas artes atléticas estarão na Cidade Luz em busca dos holofotes em cima do pódio. Se pudesse pintar seus sonhos, como fez Dalí, provavelmente no lugar dos relógios de "A persistência da memória" estariam medalhas. Contudo, como no quadro surrealista, o tempo passa de forma diferente nos sonhos.
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