Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Informações da coluna

O Ministério Público Federal afirmou à Justiça, no parecer que embasou a operação desta quinta-feira sobre os executivos investigados pela fraude na Americanas, que o ex-CEO Miguel Gutierrez realizou duas reuniões assim que soube que seria substituído, em agosto de 2022. Na primeira, o objetivo era comunicar a troca de comando. A segunda discutiu como apagar os rastros da maquiagem contábil que tinha transformado pelo menos R$ 20 bilhões de passivos em lucros.

Os encontros foram descritos aos procuradores da República pelos dois executivos que fecharam acordo de delação premiada no ano passado: o diretor executivo financeiro Marcelo Nunes e a ex-superintendente da Controladoria da empresa Flávia Carneiro. Também foram comprovados pelas mensagens e e-mails apreendidos pela Polícia Federal.

De acordo com o relato de Nunes, ele mesmo participou de uma reunião com o CEO, Gutierrez, com os diretores Anna Ramos Saicali (então CEO da AME, fintech do grupo) e Timotheo Barros (Lojas Físicas, Logística e Tecnologia) e com o então vice-presidente da empresa, Márcio Cruz, em que afirmou que seria difícil esconder as fraudes do novo CEO, Sergio Rial.

A partir daí, Nunes começou a fazer um levantamento das fraudes, reunidas em uma planilha que mostrava todos os tipos de maquiagem e o custo oculto de cada um — conforme já mostrou o blog, os executivos criaram apelidos para cada um desses estratagemas, como kits de fechamento e cartas.

A planilha mostrava que, já no primeiro semestre de 2022, o risco sacado e outras perdas e contingências omitidos no balanço já somavam mais de 20 bilhões de reais.

Plano de ação

Nas discussões, os executivos decidiram estabelecer um plano de ação para ir dando baixas contábeis nas fraudes e reduzir o tamanho do rombo a ser comunicado para Rial no final daquele ano. A tarefa ficou com Flávia Carneiro sob a coordenação do diretor de Operacional, Carlos Padilha, por determinação de Timotheo Barros e Fábio Abrate, então diretor financeiro.

Em mensagens de WhatsApp fornecidas por Carneiro em sua colaboração premiada, Barros fala explicitamente na necessidade de apresentar um plano a Miguel (Gutierrez, então CEO). O diretor cobra um retorno em 24 de agosto de 2022 sobre um encontro da então superintendente com Padilha, no que ela responde que foram listadas “30 ideias”.

Em outros dois diálogos, ocorridos no mês seguinte, Barros pede a ajuda de Carneiro para “escrever uma narrativa para justificar os ajustes” e orienta “engordar a lista do tributário”.

Ele também relata à colega ter mostrado para MG (Miguel Gutierrez) uma proposta de maquiagem de dados e diz que o então CEO teria achado a ideia “show”.

“Se conseguirmos fazer isso seria ótimo”, disse o então diretor de Logística. Flávia Carneiro reagiu à mensagem com um emoji de “joinha” em sinal de concordância.

Ainda de acordo com o parecer do MPF, a meta do grupo era levantar R$ 15 bilhões “mediante estratagemas contábeis falsos”. Carneiro, então, consolidou o plano em um arquivo que detalhou os riscos e a documentação necessária para cada "ajuste" realizado para esconder as fraudes.

A versão final do balanço da empresa, já maquiado, foi apresentada a Sergio Rial em 27 de outubro de 2022.

O esquema só foi descoberto porque, depois dessa apresentação, Marcelo Nunes decidiu alertar informalmente o executivo André Covre, que se preparava para assumir o cargo de CFO da Americanas na gestão de Rial, sobre as fraudes.

De acordo com o MPF, Nunes subsidiou a dupla com outros documentos que permitiram aos novos dirigentes o mapeamento de outras irregularidades nas finanças da companhia, que foram comunicadas oficialmente ao mercado em 11 de janeiro de 2023.

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