Como acontece anualmente, o Grupo Corpo está no Rio de Janeiro para uma temporada de suas danças. E quem conhece o trabalho desta companhia internacional, com sede em Belo Horizonte, que em 2025 completa 50 anos, sabe que cada obra é capaz de oferecer múltiplos portais perceptivos, tal o acabamento primoroso do conjunto.
- Maior crítica de teatro da imprensa brasileira: O GLOBO disponibiliza textos de Barbara Heliodora por temas como cultura brasileira, Shakespeare e polêmicas
- Cannes: apenas dois filmes disfarçaram a baixa qualidade da competição no festival; saiba quais
O programa faz daquelas junções que beiram a perfeição, unindo duas peças que são marcos na história da companhia. A dança vertiginosa e pulsante emergida dos sons urbanos de Arnaldo Antunes em “O Corpo” ( 2000) divide o palco com a explosão de alegria do sertão solar de “Parabelo” (1997), embalada pelo jogo sonoro dos mestres Tom Zé e José Miguel Wisnik.
São obras nas quais nada parece faltar ou sobrar. Nos dois casos, a força das trilhas especialmente compostas — marca do Grupo Corpo — é tanta que todos os demais elementos parecem se encaixar numa harmonia como raras vezes se vê. Bailarinos impecavelmente ensaiados surgem com figurinos que fazem mais do que vestir, em cenários e iluminação que destacam cada movimento.
Contraste no palco
A tão conhecida musicalidade do coreógrafo Rodrigo Pederneiras, sua capacidade única de transformar sonoridades num sofisticado pensamento coreográfico, encontra nestes caminhos sonoros contrastantes possibilidades.
“O Corpo” vem embalado por um cenário (de Paulo Pederneiras, também na iluminação e direção artística) de projeções de luzes vermelhas piscantes e um linóleo vermelho sangue que servem de moldura para os corpos, vestidos de preto-pneu por Freusa Zechmeister e Fernando Velloso. Trata-se de um dança pulsante de corpos-máquina, robóticos, que, diferentemente do que era até então costumeiro a Pederneiras, estão menos soltos, mais tesos, preferindo ângulos bem mais retos, uma cadência mais urbana.
- 11kg a mais, depressão e disfunção hepática: o que aconteceu com Morgan Spurlock após 30 dias comendo McDonald's
Já “Parabelo” é uma grande festa popular com sotaque nordestino, que começa sorrateiramente com os intérpretes acocorados, homenagem a alongamentos que Tom Zé fazia no estúdio, durante a gravação da trilha. A iluminação mais ocre do começo, junto com figurinos de malhas mais escuras, vai se transformando em cores vivas, como os movimentos fluidos dos quadris, de danças como xaxado, xote e baião, que fazem e desfazem, num piscar de olhos. A voz de (sempre ele) Arnaldo Antunes embala um final arrebatador, que carrega a plateia para o sertão luminoso.
“O Corpo” foi vista pela última vez no Rio em 2011 e “Parabelo” esteve aqui em formato completo em 2013, mas foi apresentada em versão curta no encerramento da Olimpíada de 2016. Vale ressaltar que, nas duas últimas décadas, o Grupo Corpo se tornou uma companhia mais diversa, com pessoas de diferentes bagagens e histórias, capazes de dar ainda mais intensidade e energia às danças criadas no passado — que continuam surpreendendo e encantando plateias no presente.
‘O Corpo’ e ‘Parabelo’
Onde: Teatro Multiplan VillageMall, Barra da Tijuca. Quando: Qua a sáb, às 20h. Dom, às 17h. Até 2 de junho. Quanto: De R$ 20 a R$ 280. Livre. Cotação: ótimo.