Publicação de SUMAÚMA Jornalismo

Os moradores da cidade de Altamira viviam os últimos dias do novembro mais quente e seco de que conseguem se lembrar quando a direção do Siralta, o sindicato dos grandes produtores rurais da cidade, abriu suas portas para uma reunião. O motivo não era a emergência climática que se fazia sentir na pele e nos pulmões. Tratava-se do desembarque de plantadores de soja na região, notícia havia muito esperada e por isso recebida com festa pelos ruralistas locais. São gaúchos, anunciou o Siralta, em busca de “pelo menos” 40 mil hectares de terras – mais de um terço da área do município de Belém, capital do Pará – para arrendar e semear com a leguminosa. Parte deles teve suas terras arrasadas pelas enchentes históricas deste ano no Rio Grande do Sul. “É muito natural”, celebrou Maria Augusta da Silva, a presidenta do Siralta, em uma reportagem do canal SBT de Altamira. “Vem a madeira, vem a pecuária e [em seguida] vem a lavoura.” O que ela descreve como “natural” é o ciclo habitual de devastação da Floresta Amazônica. Começa com o roubo de árvores de alto valor comercial, obtidas em terras públicas. Prossegue com o corte da vegetação restante. Aí vem o fogo, que destrói as árvores tombadas e tudo o que estiver no caminho para preparar o terreno para a formação de pasto para bois e vacas. Colocam-se alguns animais para pastar, declara-se a “propriedade” da área e se espera que algum programa de regularização fundiária do governo abençoe a grilagem (o roubo) da terra pública. Com a documentação em ordem, está pavimentado o caminho para a chegada de plantios como o da soja. Entenda os impactos dessa migração para o futuro da Amazônia na reportagem de Rafael Moro Martins: https://lnkd.in/d3VZz_TS Fotos: Soll, Emater do Rio Grande do Sul, Lela Beltrão/SUMAÚMA e Wellyngton Coelho/Ag.Pará

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