Época de Pitanga

Há um longo caminho entre acreditar como algo deve ser feito e realmente fazê-lo. É preciso enfrentar desafios na arena onde se travam as batalhas reais. Somente assim poderemos entender os riscos e as responsabilidades do fracasso e do sucesso. Esse texto traz uma reflexão inicial sobre a enorme lacuna entre o “acreditar em como algo deve ser feito” e o de realmente “fazer”. Preparação, coragem, força para lidar com as consequências e habilidade de tratar os imprevistos que se apresentam ao enfrentarmos situações decisivas são os temas que abordaremos aqui.

Preparação é essencial para qualquer um que enfrentará situações decisivas. Holandeses dizem que é preciso ter o “elevator pitch”, ou seja, estar preparado para saber o que dizer quando você encontrar o chefe maior da empresa no elevador. Você terá pouco tempo, terá que ser preciso, não pode ficar mudo, mas também não pode falar bobagem. Preparação é uma das chaves do castelo.

Algumas pessoas estão sempre dando receitas, apontando os erros, criticando. Outros estão se preparando para seu grande momento, aquela hora onde só dependerá dele a decisão, e ele estará ali, assumindo todos os riscos de tomá-la.

Millôr Fernandes conta, em uma de suas fábulas fabulosas, que um caramujo seguia seu caminho em um pé de pitanga, lentamente, quando uma veloz formiga que passava por ali perguntou onde ele ia. O caramujo respondeu que estava indo colher pitangas, e a formiga, rindo, disse a ele que não era época de pitanga. Ele então respondeu: Quando eu chegar lá em cima, será!

Mas não basta estar preparado. É preciso coragem. Aquelas pessoas que ficam de longe, criticando, nunca erram, pois nunca fazem, estão sempre em sua zona de conforto. Mas as pessoas que fazem, errando ou acertando, têm a coragem de tomar as rédeas da própria vida e, por conseguinte, sofrem as consequências, positivas ou negativas, de seus atos.

Sobre coragem, em momento de Olimpíadas, vale o exemplo dos Atletas, que se preparam durante suas vidas para enfrentarem momentos decisivos, quando então assumirão para si a responsabilidade do acerto ou do erro. Quando será ele consigo mesmo, e sua capacidade de tomar para si a responsabilidade de acertar e marcar seu nome na história, ou de cometer erros e assumir todas as consequências.

Todos nós conhecemos atletas que entraram para a história por assumir decisões em momentos críticos. Também conhecemos outros tantos atletas que sofreram consequências por toda a vida por terem fracassado naquele momento crucial de suas vidas: Hortência e suas respiradas decisivas nos arremessos livres do basquete; Roberto Baggio na final da Copa do Mundo de 1994, e Pelé quando cobrou pênalti para marcar o seu milésimo gol.

Porém, momentos decisivos possuem um alto grau de incerteza. “É preciso combinar com o Russos”, diria Garrincha. Ter a capacidade de lidar com a pressão psicológica, com a cobrança externa e a pior de todas, a cobrança interna. Ter sangue frio naquele momento crucial da vida é algo difícil de ser alcançado e requer um equilíbrio, que pode ser buscado de formas diferentes, a depender da personalidade de cada um. A preparação, associada à estabilidade emocional na medida certa, permitirá que se use a ferramenta adequada para cada imprevisto que se apresente. Aquele que tiver a mais diversificada caixa de ferramentas terá maiores chances.

Algumas pessoas lidam de forma tranquila com o stress, a adrenalina as estimula, essa sensação do viver no limite é o combustível para seu sucesso. Assim, nos momentos mais complexos, elas se sobressaem, como era o caso de Ayrton Senna, quanto mais pressão, mais ele se tornava um leão nas pistas, sua capacidade de desafiar o stress sempre foi notável e isso fazia dele um vencedor sem limites.

Quase todos nós já passamos por uma situação dessas, das mais simplórias às mais complexas, seja quando fomos oradores da nossa turma da pré escola, seja na apresentação de um TCC, seja em uma importante reunião de trabalho onde era necessário emplacar um projeto, em uma prova de vestibular, em assumir o comando de uma tarefa. Em todos esses momentos era você com você mesmo, colocando seu investimento à prova, sua capacidade física, mental e espiritual.

O que faz a diferença nos momentos decisivos em que alguns assumem os riscos e outros recuam? A resposta provavelmente reside na preparação, na coragem para enfrentar os riscos do fracasso e na habilidade para enfrentar incertezas, deixando a posição de opinador para a de decisor.

A própria Bíblia nos diz: ‎"Seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito."

A má notícia é que as consequências são severas para os que fracassarem em um momento decisivo, mas as boas notícias são: somente os que enfrentam as decisões em situações cruciais poderão ter a chance de colocar seu nome na história; e fracassar não é o fim do mundo, sempre é tempo para uma nova tentativa, por mais árduo que seja o caminho.

E você, como se comporta em momentos decisivos? Prefere ficar de fora, como fez Thiago Silva nos pênaltis contra o Chile na Copa do Mundo, ou confia na sua preparação, adota uma postura de coragem, e usa toda a sua habilidade para lidar com incertezas desses momentos?

A proposta é que esse seja um texto sem fim, onde cada leitor complemente com suas vivências, nem que seja apenas em pensamento, mas que se for escrita, pode ser que ajude em muitas colheitas vindouras!!!

Por Milva Capanema e Luis Claudio Montenegro.

Roberto Roche

ESG I Sustainability I CSR I M&A Due diligence I Social Environmental risk analysis I Keynote Speaker

8 a

Excelente .

Jean Paulo Castro e Silva

Executivo com larga experiência em empresas de diversos setores e na gestão pública.

8 a

Às vezes, é difícil ter certeza da escolha certa, principalmente em tempos de crise. Mas é certo que ficar parado não é a melhor opção. Então, seja no ritmo do caramujo ou no da formiga, o importante é continuar rumo às pitangas.

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