ABUSOS NA IGREJA…E NAS OUTRAS PROFISSÕES?
Saiu o relatório da Comissão Independente para o estudo dos abusos sexuais de crianças na igreja católica portuguesa. Em primeiro lugar um agradecimento aos mais diversos profissionais que tiveram esta duríssima missão, um palavra de solidariedade para com todas as vítimas (que acredito que sejam muito mais do que as vieram a terreno relatar as suas histórias) por fim o reconhecimento público daquilo que deve ser uma cidadania ativa na procura da identificação e condenação de crimes, ainda para mais desta natureza, que atravessam a nossa sociedade muitas das vezes sem qualquer tipo de penalização.
Gostaria de regressar dez anos atrás e recuperar um texto escrito por um antigo aluno dos jesuítas (John Baldoni) que em 2013, a propósito da escolha do novo Papa, escreveu um artigo que começava com a seguinte frase: se tiverem um trabalho difícil para fazer, contratem um jesuíta. De facto dez anos depois vemos que Baldoni tinha razão. Provavelmente alguns dos que o escolheram não imaginariam o que estaria para acontecer. O Papa Bento XVI não conseguiu levar a sua missão até ao fim (no que a este tema diz respeito) mas o Papa Francisco não parou e dez anos depois vemos em Portugal algum fruto desta procura sistemática de serviço aos outros que caracteriza um jesuíta. Infelizmente este tema não é exclusivo da igreja, mas pelas noticias que andam nos media em geral parece. Existem outras profissões onde o contacto com crianças e adultos vulneráveis têm igual dimensão, mas não vejo, talvez por distração minha, os media e a sociedade civil tão preocupados em falar sobre o tema e ir à procura destes criminosos. Uma das características da liderança Inaciana (inspirada em Santo Inácio de Loyola e consequentemente dos jesuítas) é a humildade. Como saberá provavelmente o amigo leitor, humildade provém do latim “húmus”, que é terra. O líder Inaciano é humilde, isto é, é alguém que não se coloca acima dos outros não olha de cima para baixo mas muitas vezes coloca-se numa posição de serviço (abaixo daqueles a quem serve). De resto não é por acaso que vemos todos os Papas na Quinta-feira Santa, replicarem aquilo que fez Cristo aos seus Apóstolos na cerimónia do lava pés. O Papa Francisco dá o exemplo e pede de forma assertiva a toda a hierarquia da igreja um sinal de humildade e neste caso temos um líder que não podendo atuar a montante do acontecimento exige que sejam apuradas responsabilidades doa a quem doer. Da minha parte gostaria de ver, por exemplo, os supostos “líderes” dos professores que agora estão tão ativos na defesa dos interesses da sua classe, que assumissem também este papel e fossem também ativos na identificação e comunicação de situações semelhantes em contexto escolar. Ou os médicos e enfermeiros que volta e meia se demitem em bloco por não terem condições para fazer o seu trabalho. Atenção, acho muito bem que quer uns quer outros defendam os seus interesses, mas, e a preocupação com os mais vulneráveis? E os nossos políticos que a espaços vão aparecendo, cavalgando a onda mediática, onde estão quando a aparece uma ou outra noticia sobre casos de abusos em instituições de solidariedade social? O famoso caso Casa Pia ficou mesmo “fechado”? Será que se fez tudo o que se devia? A pressão mediática foi grande na altura, mas a verdade é que já nesse tempo a culpa também era do motorista. Termino com esta frase do artigo anteriormente referido:
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“Pope Francis has a big task ahead of him, but if he is anything like the Jesuits who taught me, he will do a great job of it.”
Se calhar precisamos de mais jesuítas e acima de tudo de mais antigos alunos dos jesuítas no mundo para que o possamos tornar um mundo melhor.