Faça mediação, não guerra
© iStock

Faça mediação, não guerra

Artigo original no Kluwer.

Por Andrea Maia

De acordo com a Wikipedia, “Faça amor, não faça guerra” é um slogan antiguerra comumente associado à contracultura americana dos anos 1960. Foi usado principalmente por aqueles que se opunham à Guerra do Vietnã, mas tem sido invocado em outros contextos anti-guerra ao redor do mundo desde então. A parte do slogan – “faça amor” – muitas vezes se referia à prática do amor livre que estava crescendo entre a juventude americana para denunciar o casamento como uma ferramenta para aqueles que apoiavam a guerra e favoreciam a cultura capitalista tradicional.

Este slogan, que também inspirou a famosa música de John Lenon, me inspirou hoje também porque muito se tem falado no Brasil sobre a cultura da construção da paz. Ao olhar para os dados da UNESCO, é fácil descobrir o porquê.

“A violência é uma das questões que mais preocupam a sociedade brasileira. As taxas de violência e falta de segurança, especialmente em áreas urbanas maiores, aumentaram nas últimas duas décadas. Os homicídios são uma das principais causas de morte entre os homens e a principal causa de morte entre os jovens entre 15 e 39 anos. Homens negros são a maioria das vítimas de violência.
De 1980 a 2002, o Brasil registrou 696.056 mortes por homicídios 4 – número que pode ser considerado um dos mais alarmantes do mundo entre os países sem guerra civil.
Os homicídios na faixa etária de 0 a 19 anos representam 16% (111.369) desse total. A maioria dos casos, 87,6% (97.559), encontra-se na faixa etária de 15 a 19 anos. 

Esses são apenas alguns dos dados que chamam a atenção em um país cuja população é superior a 200 milhões de habitantes e onde foram registrados quase 100 milhões de casos. Como especialista em resolução de conflitos, não posso deixar de insistir na maior necessidade de os brasileiros serem mais educados para entender a importância dos seguintes tópicos;

1) o conflito pode ser algo positivo;

2) o ponto de partida para uma mudança de paradigma cultural é evitar a imposição, a exclusão ou a violência física como forma de resolução de conflitos;

3) a importância de aprender a resolução pacífica de conflitos na fase inicial da vida (desde o ensino fundamental, por exemplo).

Em suma, a boa notícia é que já vemos um número considerável de escolas investindo na mediação tanto em termos de ensino quanto como ferramenta de melhor relacionamento na comunidade escolar.

As escolas começaram a desenvolver nos alunos a capacidade de se relacionar melhor e que, ao reconhecer a raiva, tomar uma atitude favorável.

Eles estão sendo incentivados a desenvolver habilidades sociais em situações familiares a eles, como quando um amigo se recusa a compartilhar um brinquedo e eles não podem tê-lo de volta sem iniciar uma conversa amigável. Em vez disso, eles tendem a morder ou bater na outra criança. Momentos como tais são bons para trazer o estímulo para a cultura da paz, em suas raízes. Daí a importância de professores, pais e diretores de escola dominarem essas habilidades.

Nesse aspecto, os brasileiros também têm bons exemplos. Um deles é conhecido como “Cuca Legal” e foi desenvolvido por um psiquiatra brasileiro que admiro muito, Rodrigo Bressan.

A ênfase está na importância do desenvolvimento de soft skills para o crescimento e aprendizagem saudáveis das crianças que por sua vez, por possuírem essas habilidades, podem modular melhor o desempenho escolar.

Ter atributos positivos e soft skills na infância fará a diferença no futuro do indivíduo. Atributos como responsabilidade, sociabilidade com outras crianças, compreensão do funcionamento do grupo, todas essas habilidades potencializam o desempenho escolar.

Felizmente, os profissionais de ensino brasileiros estão se conscientizando cada vez mais da importância de incentivar a cooperação e a compreensão desde a infância. Afinal, é lá que estamos aprendendo a lidar com nossas emoções e as diferentes formas de lidar com o conflito.

Concluo com o lema que me inspirou com uma versão atualizada alinhada ao meu desejo de que nossos jovens abracem a ideia de “Faça Mediação, Não Guerra”! E que esse conceito se espalhe para outros países!

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos