Ainda é preciso pedir respeito, acredita?

Ainda é preciso pedir respeito, acredita?

Esse artigo vai ser polêmico, já adianto. Possivelmente, farei inimizades. Mas faz parte. Só não posso deixar de expressar minha indignação com o contexto trazido pela nova campanha da Abracom - Associação Brasileira das Agências de Comunicação . Veja, reforço que não sou contra a campanha. Se algo precisa de atenção e de mobilização, então, que venha a campanha. O que me incomoda, na real, são duas questões:

  1. A necessidade de, em praticamente no ano 2024, fazer campanha para estimular o comportamento respeitoso no ambiente de trabalho nas agências.
  2. Depois de um mês no ar (imagem abaixo), o post sobre a campanha no perfil da entidade no LinkedIn já alcançou 451 curtidas, 32 comentários e 79 reposts. Entre os comentários que o LinkedIn me permitiu ver, NENHUM (assim mesmo, em caixa alta) menciona o problema que está por traz dessa necessidade de mobilização.

Da mesma maneira que me dói ver campanha para tratar da violência contra a mulher - porque, afinal, mulheres ainda sofrem diversos tipos de violência e isso é inadmissível, obviamente - me dói saber que ainda estamos longe de ser uma categoria de profissionais que pratica empatia, respeito, escuta ativa e confiança.

E tenho certeza de que a ausência dessas práticas não está apenas na relação entre agência e cliente. Ela está encrustada nas relações dentro das próprias agências, entre líderes e liderados, entre pares, e por aí vai.

Priorizar as entregas dos jobs, em detrimento de cuidar de quem faz os jobs é tão "old fashion" que custo a acreditar que isso ainda existe de forma tão ativa, a ponto de precisar de campanha pedindo por respeito. Aliás, antes que eu me esqueça, sim. parabéns, Abracom, pela iniciativa. Melhor tê-la, diante dos fatos.

Voltemos ao cerne da questão. Conheço amigos que não conseguem ficar mais que dois anos em uma agência, porque ficam trocando de emprego, na esperança de que dias melhores virão. Ou seja, na expectativa de que, no próximo trabalho, conseguirão cumprir jornada diária de, no máximo, 8h (e não 12h, 15h...); terão líderes empáticos; encontrarão uma cultura colaborativa; e apoio para lidar com cliente difícil, quando for o caso. Também contam que não precisarão ficar disponíveis 24h por dia no WhatsApp.

Conheço caso de uma jovem de 26 anos que começou a ter crises de ansiedade, porque era demandada na madrugada pela dona da agência e tinha que estar "on" para responder prontamente.

Também conheço caso de dona de agência que decidiu acionar a funcionária nas férias dela (sim, da funcionária). Como não conseguiu contato, saiu ligando para os familiares da moça. Depois de algumas horas, a família toda estava em surto, achando que a profissional tinha desaparecido, quando, na verdade, estava apenas "off", de fééééériiiiiaaaaassssss.

Gente, há 5 anos empreendendo no modelo de trabalho em rede, eu posso dizer que me libertei de todo esse mal (amém). Se tem uma coisa que a gente preza aqui na rede Tecere é o respeito pelas relações, a ponto de desmarcarmos um encontro de todo o time, porque o sogro de uma das nossas colegas faleceu e seria enterrado no dia do encontro. Claro que ela não participaria da reunião. Mas seria um desrespeito todo mundo se reunir sem ela, que estava, inclusive, passando por um momento de dor.

E não conto isso para ganhar louros. Por que isso é o mínimo. Pensa assim: se fosse comigo, eu iria gostar? É aquela máxima: não faça com o outro o que você não quer que façam com você. Esse pode ser um ótimo caminho para que o respeito comece a se instalar na cultura corporativa.

Escrevo esse artigo para pedir cuidado. Às vezes, somos levados pelo fluxo e nem percebemos que estamos reproduzindo comportamentos inadequados com os colegas.

Outro dia uma amiga, ao se referir a uma profissional que queria contratar como terceirizada, me disse: "vou usar ela nos próximos projetos". Usar? Não, baby. Você vai contratar, firmar parceria, criar algo em conjunto. Eu corrigi a amiga no mesmo instante. E aí ela se deu conta da gafe. Então, de fato, muitas vezes, a gente nem percebe o quanto o estilo de comunicação, o vocabulário, a forma de pedir estão contaminados por um jeito de fazer que imperou em décadas passadas e que, agora, não cabe mais.


Martha Magalhães

Sócia na M&M - Consultoria em Desenvolvimento Humano e Organizacional

1 a

Há limites e as pessoas desrespeitam. Ligar para funcionária em férias atesta a incompetência da liderança de não ter back up, ou um time conectado onde um ajuda ao outro , ineficiência de processos e por aí vai. Mas as pessoas também precisam pir limites e quanto mais lastro ( competências e resultados) vc tiver, fica mais fácil.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Thays Aldrighe

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos