Aprendizagem Contínua nas Organizações: o que exatamente isso significa?
Por Dani Costa | @solarioeducationlab
Aprendizagem Contínua, Aprendizagem ao Longo da Vida, Lifelong Learning…. Por que estamos falando sobre isso?
De modo muito objetivo, respondo que é porque o entendimento sobre esse assunto nos possibilita acompanhar com mais segurança e domínio as principais mudanças no cenário do Trabalho que já estão acontecendo e que ainda ocorrerão e também porque entender sobre lifelong learning nos possibilita conseguir viver em maior sinergia com as pessoas e a nossa própria vida neste mundo frenético e mutável em que vivemos. Estamos a aprender e nos transformar o tempo todo. Ter a consciência disso é um diferencial competitivo valioso.
Desde a década de 70 este termo e, sobretudo, essa ideia de aprendizagem contínua vinculada às organizações já é defendida por profissionais com abordagens mais integrais e inovadoras, porém, só nos último 10 anos a temática ganhou realmente os holofotes no cenário corporativo, sobretudo o brasileiro.
Você pode estar pensando: e por que demorou tanto para que se desenvolvesse com cases mais robustos de aplicação e estudos? Quais os fatores que contribuíram para essa lentidão? Bom, existem algumas pistas e possibilidades, mas a que desejo destacar aqui é que essa é uma área temática e de aplicação prática que exige uma responsabilização de amplos atores sociais: indivíduos, organizações e governos. E mediar os interesses de todos eles, com visões e objetivos divergentes, não é tarefa fácil. Infelizmente, ainda hoje, grande parte do aprendizado que é direcionado aos adultos ainda está restrito a áreas de treinamento e desenvolvimento/ RHs que ainda mantém uma estrutura tradicional focada na aprendizagem como transferência de informações/ conhecimentos. E aprendizagem contínua não é isso.
Não nos preocupamos, ainda, e refiro-me aqui aos contextos organizacionais, em como esse aprendizado pode e deve ser aplicado na vida do adulto/colaborador que aprende porque ainda há uma prevalência do paradigma de separação entre vida e trabalho, e não a perspectiva integrativa de que o trabalho é parte da vida e que a lógica da vida, como geradora de tudo, prevalece à lógica do trabalho.
Treinamento, cursos, iniciativas formais de aprendizado dentro de estruturas organizacionais tem a sua relevância e são importantes, mas não são frameworks de aprendizagem contínua. São possibilidades de atualização e/ou aquisição de novos conhecimentos, por exemplo. Por isso, repensarmos a nossa forma de fazer, estruturar e qualificar essas estruturas corporativas centradas no desenvolvimento das pessoas de uma organização é tão importante. Para pararmos de confundir cursos e trilha de informações sobre um determinado assunto com programas corporativos de Aprendizagem Contínua.
E dito tudo isto, afinal de contas, o que é a Aprendizagem Contínua ao Longo da Vida, em contextos corporativos? É uma mudança na cultura corporativa de modo a colocar o aprendizado contínuo no centro da VIDA das pessoas. Isso mesmo, da vida. Não é da carreira, não é do crescimento para promoção de cargo. É na vida. E um grande passo para isso é a criação de um ambiente organizacional preparado para olhar para as pessoas para além dos seus cargos; o desenvolvimento de lideranças capazes de gerir pessoas com eficiência comportamental, para além das habilidades técnicas. É perceber que performance tem muito mais resultado quando ancorada em uma base de confiança e aprendizado contínuo ao longo da vida. Isso impacta no resultado do negócio porque as pessoas se comprometem com o processo. Se sentem vistas.
Ao enxergar e fortalecer seus colaboradores como aprendizes contínuos em suas próprias vidas, as organizações estão construindo uma forte e sustentável cultura organizacional. E mais do que isso: estão a equilibrar, e até a reduzir custos com a alta rotatividade, adoecimentos e afastamentos dos colaboradores.
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Ao longo de pouco mais de dez anos liderando times compostos por pessoas diversas, seja no presencial ou no modelo remoto, consigo afirmar que a principal característica de um bom líder é saber enxergar o seu time. E isso passa por uma mentalidade de Lifelong Learner, que começa em si e se estende para o time. E que é norteada pela organização.
É fato é que ele - o aprendizado contínuo ao longo da vida - deixou de ser um item supérfluo nos cenário corporativos para ser de vital importância aos contextos laborais, sobretudo no que diz respeito ao engajamento dos colaboradores. Sou suspeita para falar? Muito! rs Como uma consultora especializada nesta área, procuro sempre me posicionar de forma estratégica entre a inovação e o desenvolvimento contínuo. Mas independente disso, tenho uma forte convicção de que no contexto contemporâneo, esse é um posicionamento acertado para todo profissional que deseja manter-se relevante. E a pergunta que fica é: como as organizações estão se preparando para lidar e engajar colaboradores cada vez mais preparados e exigentes? Por outro lado, como esses colaboradores estão lidando com a pressão mental de seguirem por um fluxo constante de aprendizado em um mundo instável e que modifica-se tão rapidamente?
Esses são pontos sensíveis, relevantes e que nos provocam a ir além do que estamos habituados a enxergar…
Ir além das caixas formatadas para nos enquadrar
Ir além da ideia de uma carreira única
De parar de estudar para se dedicar ao trabalho. Estamos diante de um novo paradigma, onde ser um/ uma aprendiz profissional te posiciona em um lugar de relevância e desejo. Conecta a sua carreira a um mundo que nos pede dinamismo, autenticidade e senso crítico.
Aprender continuamente é a sua forma de seguir sendo relevante neste mundo, por isso, lá no começo, falei em aprendizagem contínua no centro da vida. Não nos limitemos à carreira. É fundamental olharmos para as nossas vidas para aprendermos mais sobre quais tipos de relações laborais desejamos nutrir, quais os conhecimentos que desejamos cultivar e desenvolver e sobretudo, qual o valor que geramos para o nosso próprio bem-estar e qualidade de vida.
A aprendizagem contínua ao longo da vida não está apenas à serviço da aquisição de novos conhecimentos. Ela é, sobretudo, uma poderosa ferramenta de emancipação individual para a promoção de relações mais saudáveis, dentro e fora do ambiente laboral, e para uma maior clareza sobre valores e propósito. Para organizações, está no cerne de todo o processo de crescimento contínuo e sustentável, apoiando os processos de mudança, gestão de conflitos e clima organizacional, além de fornecer um mapa fundamental dos comportamentos organizacionais que impactam na cultura e como podem ser geridos dentro das metas, objetivos e performances desejadas. O segredo está no como e não apenas no porquê.
Você tem clareza sobre COMO você aprende?