Economia da Paixão: você sabe o que é?

Economia da Paixão: você sabe o que é?

Por Dani Costa | 01/05/2024


A ansiedade pelas respostas atrapalha o desenvolvimento do olhar curioso pelas perguntas. São elas - as perguntas - as protagonistas da nossa história!


Falar sobre economia da paixão está profundamente ligado ao pensamento expresso pela frase acima, que abre esse artigo. Vamos começar nos perguntando: O que é a paixão?

É uma emoção,entusiasmo, frio na barriga, admiração, forte atração, desejo! Paixão é uma latente conexão. E o que faz uma palavra assim, tão caliente, acompanhada por uma outra tão séria?? Economia… economia é coisa de adultos, de pessoas precavidas, é assunto sério. E por isso mesmo, merece uma companheira tão arrebatadora como a paixão. 

A economia da paixão, portanto, é essa junção simbólica e real de um movimento que já estamos vivendo atualmente: a demarcação de um território onde os afetos,o bem-estar e o protagonismo tem vez e voz. Ela nos convoca a um novo olhar para esse processo de transição que vivemos: lança um novo olhar para uma economia industrial e globalizante que nos trouxe até aqui mas que não nos serve mais daqui para frente. É preciso transformar.


Refiro-me aos pontos de conexão com o outro; a um fazer laboral que alimenta a economia a partir do que se é, como indivíduo. Para mim, a economia da paixão é uma lente de pesquisa, de inovação constante, de análise comportamental. É vida em movimento. Penso, a partir de estudos de especialistas neste campo, que a economia da paixão está fortemente ancorada no terreno da complexidade, do mundo BANI. Já ouviu falar sobre ele?


Destaco a característica da não-linearidade para dizer que não é mais possível olhar para o mundo numa perspectiva das cadeias de produção da era industrial… da lógica já ultrapassada de matéria prima-produto. Atualmente, a nossa lógica já é sistêmica. Quais os impactos disso? São muitos…


Vou delimitar aqui o contexto corporativo que é o meu campo de experiência e de pesquisa. O que observamos atualmente, dentro de cenários macro, nos contextos corporativos ao colocarmos uma lente de aumento nas pessoas e relações estabelecidas? Grande parte das pessoas estão insatisfeitas… Pesquisas evidenciam os altos índices de esgotamento e insatisfação… e visibilizam também índices cada vez menores de engajamento e desejo por cargos de liderança. 


Fala-se muito em pertencimento e senso de comunidade… mas como abordar esses temas dentro de ambientes corporativos adoecidos? Para alimentar autenticamente uma lógica de rede, é preciso estabelecer relações de confiança e empoderamento, alimentando uma lógica de trocas saudáveis e nutrições autênticas. Só assim a geração de valor para os indivíduos será genuína e os valores corporativos farão algum sentido. 


E como em todo cenário complexo, no meio disso há também os grupos de poder que atuam no enfraquecimento desse movimento de mercado aqui descrito como economia da paixão. Afinal de contas, a cegueira ainda é uma estratégia para que muitos não desenvolvam uma visão apurada do pequeno e limitado espaço que lhes cabe.


Fazer esse enfrentamento, sobretudo em espaços laborais, é desafiador porque muitos grupos se beneficiam de uma lógica corporativa ainda industrial e adoecedora para a maioria de pessoas ainda vulneráveis socialmente, que trabalham em troca de um salário ao final do mês para ter suas necessidades básicas materiais minimamente supridas. 


E por que falar sobre tudo isso é importante? Porque nomear esses cenários é uma ação fundamental para que algo que hoje pode ainda ser visto como utópico possa ser, em um breve futuro, uma realidade possível. E dentro desse viés corporativo que trago aqui, é importante ainda ressaltar o poder que as lideranças exercem nessa estrutura.


O meu olhar aqui é de alguém que fez e faz parte desse contexto como liderança. A minha vivência orienta o meu olhar e a minha análise e me permite perceber que mesmo em lideranças com posturas consideradas tóxicas, há marcas profundas de fragilidades do ser humano por detrás de um cargo, sobretudo quando falamos em médias lideranças. Pessoas assim, nessas posições e que não conseguem suscitar o protagonismo do outro, ao ser olhado de perto, fica muito nítido questões mal trabalhadas relacionadas ao seu próprio protagonismo. Não conseguiram, ainda, trilhar esse caminho. Assim, são incapazes de fazer isso pelo outro.


Protagonismo tem a ver com generosidade, crescimento e cura. Está na via oposta da competição. Dentro desta perspectiva, o perfil das lideranças de uma organização são o reflexo e o produto do tipo de economia que é alimentada dentro desta mesma organização. A via é de competição ou de paixão?Trazendo isso para uma lógica individual, é pensar se o que você alimenta na construção de sua carreira te aproxima dos seus sonhos, desejos e do cultivo de uma rede de pessoas que possam seguir neste caminho contigo, ou pelo contrário, te coloca numa rota de desgaste, isolamento e insuficiência.


Quando falamos em economia da paixão, estamos falando na construção e fortalecimento de um ecossistema de afetos, de protagonismos, conexão, entrega e alta motivação e engajamento. Falamos, sobretudo, em uma lógica econômica onde a experiência está acima da posse e o caminho para o lucro passa pela conexão. 


Essa é a via contemporânea para a sobrevivência. Sim, sobrevivência. Nós estamos esgotados. O Brasil hoje é o país com a maior taxa de ansiedade no mundo e o segundo na lista de países com mais casos de burnout diagnosticados no mundo, segundo dados da OMS - Organização Mundial de Saúde. Portugal é, atualmente, o primeiro país na lista de países da União Européia com risco de burnout.

As pessoas estão entrando em colapso mental porque não conseguem lidar com os níveis de exigência, performance e velocidade de inovação tecnológica. Byung-Chul Han deu o nome de Sociedade do Cansaço a todo esse contexto, agudizado pela violência neuronal, outro termo também amplamente utilizado pelo autor em sua obra de 2014.


Quais as estratégias? Não há fórmulas mágicas porque o cenário é complexo, lembra? Nada é simples e direto… tudo precisa ser analisado dentro de contextos e realidades específicas. Mas um ótimo começo é a necessidade de parar, rever rotas, buscar acompanhamento terapêutico para evitar o colapso, lutar por políticas públicas que possam lidar com questões dessa natureza, encarar de frente a urgência de investimento em desenvolvimento pessoal e cuidado mental com foco em saúde e bem-estar para a vida.

É, acima de tudo, entender que fazemos parte de uma coletividade que precisa ser cuidada enquanto estrutura social, mas sem perdermos de vista o aspecto individual: como indivíduo, o que você faz com paixão?

Esse pode ser um excelente ponto de partida.


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Daniela Costa

Lifelong Learning e Pessoas | Comunicação e Negócios | Carreira e Bem-Estar | Neurociência e Comportamento | Educação Corporativa

7 m

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